Cultura

WWW.QUEROUMACHANA.COM/TORREDEBABEL, COMENTÁRIO DE MARCO GAVAZZA

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| 23/06/2009 às 18:40
O utilitário chinês já está à venda no Brasil com preços competitivos
Foto: MG

Aproveito o recesso junino para resvalar um pouco pelo terreno da amenidade e do sorriso. Quer ver? A globalização –uma palavrinha gasta, porém necessária- acabou criando também coisas engraçadas nesta intrincada rede de dados que é o mundo interligado: acabam de chegar ao Brasil (alguns já rodam em Salvador) os primeiros veículos produzidos pela montadora Changan, com a marca Chana.

 

Não sei o que significa chana  em  chinês, país em que está localizada a montadora desta série de minivans utilitárias.  Assim como certamente também eles, os chineses, não devem saber o que significa chana no linguajar popular das ruas brasileiras e nem precisavam saber para batizar seu produto. Mas certas declarações à imprensa do Sr. Mohsin Ibraimo, Diretor Executivo da Changan, soam curiosas e extravagantes quando de forma natural e inevitável, associamos o nome dos seus produtos àquilo que é conhecido entre nós, pelo  mesmo nome. 

 

Ele diz por exemplo que  Damos dois anos de garantia para a Chana, porque temos confiança no produto.”  

 

Essa segurança toda é exagerada e sabemos que o excesso de confiança nesse produto já levou muita gente a situações extremas, resultando em desilusões, depressões e até mortes ou suicídios.  Não há como ter garantias deste produto, exceto para o período em que ele ainda é zero km. Ainda assim garantia parcial. A partir do primeiro quilometro rodado, não há mais garantia alguma e inclusive é praticamente impossível determinar a quilometragem de uma Chana.  Você pode deixar a sua na garagem e ao voltar ter certeza absoluta de que ela não saiu do lugar, embora enquanto você estivesse fora a mesma tenha percorrido centenas de quilômetros.  Não há instrumento que indique  se alguém usou a sua Chana.

 

Mohsin afirma também que com a saída da Ásia Motors do Brasil  ficou um espaço que pode ser preenchido pela Chana no segmento de entrega rápida.”

 

Para nós brasileiros, a entrega rápida da Chana não é mais nenhuma novidade. Antigamente era. Havia que se esperar todo a oficialização do processo, com testemunhas, solenidades e tudo mais, para que a Chana fosse entregue. Hoje não.  Às vezes se recebe este produto até sem haver solicitado diretamente.   De repente, sem você saber de onde veio, uma Chana estaciona em sua vida, quer você queira ou não. Além do que a Chana não preenche nada; só pensa em ser preenchida.

 

O executivo chinês afirma ainda que “apesar da crise, não pretendemos aumentar o preço da Chana, pois precisamos conquistar o mercado de forma consciente.“

 

Pegou. Para nós esta é uma questão difícil.  Millor Fernandes já afirmou em frase imortal e de absoluta profundidade que a diferença entre o sexo grátis e o sexo pago é que o grátis é muito mais caro. Assim,  estabelecer o preço de propriedade pessoal, única e intransferível de uma Chana é uma tarefa inviável.  Pode-se até definir um valor para um test drive, para um leasing, mas além disso é muito complexo. Principalmente porque  a Changan oferece três modelos da Chana: a Família, a Carga e a Utilitária.   Como estabelecer uma diferença de valor entre uma Chana Família e uma Chana Carga?  E a Chana Utilitária, que aliás é uma característica comum a todas que conhecemos?  É arriscadíssimo. 

 

Bem, como esta não é a coluna do Macaco Simão, vamos voltar –um pouco- à seriedade e ao nosso tema principal. Os meios de comunicação, notadamente a internet, tornaram possível a aldeia global.  Hoje, eu, você, qualquer um, pode entrar em contato com uma loja na Hungria e oferecer ou comprar produtos. Mas quem sabe falar húngaro além deles mesmos?  Como estabelecer uma comunicação global no sentido do correto entendimento da palavra escrita ou falada? 

 

Imaginava-se que o inglês seria o caminho, mas não parece ser.  Com o aumento do  intercâmbio de gente e produtos de um lado pra outro do mundo, coisas muito mais banais tornaram-se complicadas. A comunicação na aviação comercial por exemplo, já deu sinais de alerta. Aumentou a quantidade de empresas, o número de decolagens, a quantidade de aviões, de aeroportos, de torres de controle e o inglês, que era língua oficial da aviação, passou a ser falado de qualquer jeito e muitas vezes sem entendimento entre as partes. Não há mais tempo suficiente para, além de qualificar pilotos, co-pilotos, navegadores, controladores de vôo e outros envolvidos na tarefa da manter aviões no ar sem se chocarem;  esperar que eles aprendam um inglês fluente para comunicarem-se rapidamente e com segurança.

 

Qual então o caminho para evitar que a aldeia global repita a Bíblia e transforme-se numa Torre de Babel?  Nem todos são um FHC para perguntar “em que língua vocês querem que eu fale?”  ou um Lula para estar sempre com um tradutor ou professor de português ao lado.  Se  não tem, deveria.

 

Dá pra avaliar o tamanho do problema se multiplicarmos por milhões o aparato que é necessário nas sessões gerais da ONU para a tradução simultânea em centenas de idiomas e que vemos em filmes ou reportagens na televisão.

 

Mas a própria informática resolverá -em parte- esta questão.  A tradução de sites inteiros para a língua que v. preferir e a tradução instantânea dos diálogos em tempo real via chat, está avançando rapidamente. Com o Google à frente é claro. 

 

Softwares estão sendo desenvolvidos em ritmo de banda larguíssima para resolver este problema,  que já piscava no painel de controle das grandes redes mundiais de comunicação via internet.  Não precisamos nos preocupar pois a web não será abandonada como foi a Torre de Babel por falta de entendimento na  comunicação.

 

Quando disse que a informática resolverá “em parte” é porque evidentemente casos como o da Chana continuarão acontecendo, pois marca é marca, não tem tradução.

 

Pode ser portanto que se você desenvolver um suco inédito, batizá-lo de Sukassu  e resolver exportá-lo, em algum lugar do Oriente muita gente vai achar tão interessante quanto nós achamos a Chana. Desculpem, mas não deu pra evitar.