Cultura

ONDE ESTÁ A URNA? CADÊ OS BOTÕES? QUERO APERTAR LOGO O MEU.

vide
| 03/06/2009 às 09:22
A urna como objeto de desejo antecipado da midia e dos candidatos
Foto:
 

Geddel não vai apoiar Wagner e é praticamente candidato.  Paulo Souto  desmonta a administração de Wagner e mostra sua plataforma política. César Borges aguarda posicionamento do partido para definir candidatura a cargo majoritário. João Henrique afirma que também pensa em ser candidato ao governo.  Wagner diz que não precisa do PMDB para ganhar.


Olhando as manchetes e as principais páginas dos jornais locais, impressos ou on line,  ficamos com a impressão de que as eleições para Governador da Bahia serão no próximo domingo.  Em certos portais da web, 95% das fotos postadas são de políticos.

Na verdade estamos a longos 15 meses de distância da escolha de um novo -ou do mesmo-  governador. Porque então os possíveis candidatos alimentam a mídia com tanta informação vaga relacionada à futura eleição, num jogo perigoso de desgaste de imagem  e que amplia dia a dia os espaços para que um nome novo apareça de última hora e sente na cobiçada e confortável cadeira de Ondina?


Mais ainda: através de que raciocínios e percepções, parte da imprensa local deduziu que estamos todos ansiosos em saber com quem Wagner vai se aliar, qual a companhia de César Borges no almoço do Barbacoa -que triste sina a deste restaurante-  ou  com quem Geddel foi visto conversando baixinho no aeroporto?


Está todo mundo interessado em saber se vão ou não vão resolver o problema dos engarrafamentos na cidade, se o metrô sobe nos trilhos ou não sobe, se a polícia vai resolver começar a prender bandidos, se Lula vai mesmo mexer na poupança e quando será o próximo aumento de salário.  Sem falar na tabela da Libertadores, no próximo show da banda Cachorro Quente Sem Ovo,  se vai parar de chover logo porque tá fazendo a maior falta uma cervejinha na praia e quando a chuva parar quem vai consertar a buraqueira geral da cidade? 

Para resolver quase tudo isso -tirando o controle do tempo, dos gols e do surgimento de novas bandas- temos senadores, governador, prefeito, deputados e vereadores.  É o que espera o povo que os elegeu e não esta conversa infindável e sem qualquer interesse imediato para a sociedade sobre uma sucessão que mal se avista no horizonte. 

Pode até ser que para o profissional de política -infelizmente a política se transformou numa profissão como outra qualquer-  as negociações já devam ser iniciadas. Mas isto é problema deles.  O que toda a população espera é que nestes 15 meses restantes de mandado, eles trabalhem.


A comunicação publicitária e social possui técnicas capazes de convencer populações inteiras a respeito de muitas coisas.  O pobre do Gérson até hoje paga a infelicidade de ter feito um comercial de cigarros dizendo que como todo brasileiro, gostava de levar vantagem em tudo.  Pronto.  Basta surgir um espertinho querendo aplicar um golpe e ele é lembrado. Ganhou até nome: Lei de Gérson. Mas esta mesma comunicação que marcou o Gérson, que convenceu a Alemanha de que o III Reich seria uma coisa bacana e  que ainda faz muita gente gastar milhares de dólares para tirar foto abraçado com Mickey, também possui armadilhas terríveis.  O controle do tempo de exposição das notícias é uma das mais perigosas. 


Lembro um episódio ocorrido aqui em Salvador, na comunicação publicitária, perfeito como exemplo: para lançar um empreendimento de uma construtora,  sua agência criou uma campanha de expectativa.  Em comerciais de 15 segundos, um repórter perguntava a mulheres,  homens, adolescentes e crianças, o que eles esperavam de um bom apartamento.

Cada um dizia alguma coisa tipo uma cozinha espaçosa, uma varanda pra tomar cerveja com os amigos, quadras de esporte para as crianças e por aí vai. O repórter virava para a câmera e dizia: ele está precisando de uma boa notícia

Pois bem. A agência errou o timming da fase de expectativa e os comerciais ficaram no ar tempo demais, suficiente para que outra construtora preparasse um anúncio de página dupla e lançasse  um  outro empreendimento. Tema da campanha: "Aqui está a boa notícia".  Choveu protesto, nota na imprensa, processo, pancadaria, ameaça de morte e tudo mais que serve como arma nessas horas. Não deu em nada.  Na verdade, para a construtora que pegou carona na campanha da primeira, deu muito lucro. Vendeu todos os apartamentos em dois fins de semana.


A conseqüência desta massificação extremamente antecipada da disputa eleitoral, será fatalmente a exaustão de temas e o esvaziamento das campanhas dos atuais figurantes da ópera e a partir disso, uma estrada limpa para quem chegar em cima da hora com uma boa argumentação e uma proposta inteligente de governo.


Mas a mídia hoje parece não ter outro assunto para pautar, distanciando-se assim de seus leitores para funcionar em circuito fechado.  Você lembra da última vez em que viu um repórter na rua?  Exceto na cobertura de uma eventual tragédia ou de um crime ocorrido na classe média alta, nem sombra deles. Estão todos na Câmara, na Prefeitura, na Assembléia, nas sedes dos partidos, na Governadoria, ou seja, onde houver um político por perto.  Ou na internet navegando em sites de -é claro- política.  Porque; não sei.


Talvez o estar próximo do poder tenha se tornado um afrodisíaco epidêmico e todos esperam em Oxalá, Jeová, Maomé e outras divindades, estarem sempre entrevistando um futuro Governador, Senador e depois até -quem sabe- Presidente da República.  Muito melhor que ouvir médico que atende pelo SUS, professora do magistério público municipal, vendedor de DVD pirata, arquiteto que dirige taxi para completar a renda,  articuladores de redes de prostituição infanto-juvenil operando em hotéis de luxo,  comerciários que trabalham 14 horas por dia incluindo domingos, pequenos empresários saídos do desemprego e a caminho do endividamento bancário,  adolescentes que fazem a Paralela em 6' e 30" cravados com seus Puntos turbo, cidadãos honestos que para chegar em casa precisam de dois coletivos e atravessar quartéis generais de bandidos e tantas outras coisas que afligem realmente a população e interessa a todos uma solução. 


Um ex-Presidente do Brasil preferia o cheiro de cavalos ao do povo. Imagino que um jornalista da hora, doido pra subir na vida, moderninho, formado e pós-graduado, com seu note book comprado em 12 x sem juros na Submarino embaixo do braço, prefira o cheiro do poder.  Deve ser isso.