Cultura

SÃO PAULO CULTURAL E MONA LISA DE GELÉIA, NA COLUNA DE LIGIA AGUIAR

Ligia Aguiar é artista plástica e colunista deste site
| 01/06/2009 às 10:26
Medusa de Caravaggio com macarrão e molho de tomate do surpreendente Vik Muniz
Foto: EBA UGMG
  Visitar São Paulo é também  poder desfrutar das muitas atividades culturais que a cidade nos proporciona, sem falar da vida noturna, da rica gastronomia, da variedade de lojas, enfim, tudo que uma metrópole oferece.


  São tantos os museus, centros culturais e galerias de artes que a gente fica querendo ver tudo ao mesmo tempo. Só de museus são mais de 70, de todos os tipos: desde  o museu do Ipiranga, que conta a história da cidade, passando pelo do Futebol, o da Língua portuguesa, até o Museu do Crime.


  Na semana passada, o pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, fervilhava com a 5ª Edição da Feira Internacional de Arte Contemporânea, na qual participaram 80 galerias, nacionais e estrangeiras, como França, Espanha,  Portugal e Argentina.

  A Bahia foi representada pela Paulo Darzé Galeria de Arte, que dedicou todo o seu estande a uma individual da obra de Rubem Valentim, artista baiano morto em 1991, que se notabilizou por seus trabalhos geométricos com simbologia voltada para o candomblé.


  Um fato inusitado me chamou atenção: a idéia de três artistas e um colecionador de arte que resolveram transformar apartamentos postos a venda ou para alugar, no centro da cidade, em galerias de arte. Eles consideram que um espaço desse tipo, dá liberdade total para escolher temas e expor o que quiser, o que seria impossível numa galeria. A intenção é que a exposição seja itinerante, ou seja, continue em cartaz em outros prédios.


  Como numa cidade grande tudo pode acontecer, resolvi achar essa idéia, no mínimo excêntrica, ou um modo diferente dos artistas chamarem atenção para os seus trabalhos.


  As estatísticas apontam que 92% da população brasileira nunca foi a um Museu, apesar de que, todos os que visitei estavam lotados, filas quilométricas e o clima da cidade chegando a 10 graus.


  A  maior parte dos espaços culturais de São Paulo celebra o ano da França no Brasil, é o caso da Pinacoteca do Estado, do Museu da Língua Portuguesa, além do Masp que apresenta uma importante exposição: "Arte na França 1860-1960: o Realismo", reunindo cerca de 120 obras do próprio museu, da coleção Berardo (Lisboa) e de instituições francesas como o Museu D'orsay.


  Nomes como Courbet, Renoir, Degas e os brasileiros Portinari, Di Cavalcanti e Lasar Segall integram a seleção. As obras estão expostas em várias salas, de forma a mostrar um século de pintura de artistas franceses e de artistas estrangeiros que viveram na França e compartilharam os mesmos ideais estéticos e as diferentes formas de figuração.


  Ainda no Masp, me causou um grande impacto a mostra "VIK" do artista plástico e fotógrafo, Vik Muniz, brasileiro que faz sucesso em Nova York. Essa mesma exposição esteve no MAM do Rio de janeiro e bateu recorde de público. Foi vista por quase 50 mil pessoas e é a maior exposição já dedicada à sua obra.


  Ele tem um trabalho diferenciado, pois diversifica a sua forma de expressão, e discute a fotografia como meio de representação, no uso de várias linguagens e suportes, aliado a uma técnica refinada.


  Apropria-se de obras de arte famosas recriando-as com materiais diversos e pouco convencionais, como por exemplo, sucatas, papel picado, molhos, chocolate, poeira, pimenta e algodão, e tantos outros que a sua mente criativa escolhe do nosso cotidiano, e apresenta novas possibilidades de se perceber o mundo.


  Assim surgiram a Mona Lisa dupla, de Leonardo da Vinci, de geléia e pasta de amendoim, a famosa medusa de Caravaggio, com macarrão e molho de tomate, o retrato luxuoso da estrela hollyoodiana  Elizabeth Taylor, composto por milhares de diamantes, os monstros clássicos do cinema Drácula e  Frankenstein, feitos de caviar, entre outros.


  Ele tem um processo criativo bastante interessante: primeiro compõe as imagens com o material escolhido - que pode demorar meses - e depois fotografa, que é o seu produto final, reproduz em pequena tiragem, às vezes, em tamanho gigantesco.

A série mais recente do artista, intitulada lixo, foi construída com restos de detritos e contou com  a ajuda dos próprios catadores do lixão de Gramacho no rio de Janeiro.


  Vik Muniz  é mais conhecido no exterior do que no Brasil. É normal quando um artista atinge o sucesso não contar com a unanimidade dos especialistas em arte e intelectuais. Para uns, a sua arte é fácil demais, sedutora e popular; para outros, o artista é repetitivo, conduz sua obra por um único caminho e há mais de quinze anos obedece a uma mesma técnica e proposição estética.


  Por aqui seu trabalho mais conhecido é a capa do CD Tribalistas, leia-se, Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, - pensamos que seria um novo movimento da música brasileira, mas parou por aí, ficou reduzido a somente esse "biscoito" -  feito com calda de chocolate.


  Suas obras foram adquiridas por cifras bastante altas, para um artista brasileiro, por importantes Museus, como o Metropolitan e MOMA, de Nova York, o Reina Sofia em Madri, o Guggenheim, entre outros.


  Foi com prazer que percorri a exposição, principalmente por estar diante, pela primeira vez, das instigantes e bem humoradas obras conceituais de Vik. Uma sucessão de espasmos visuais.


  O artista em uma entrevista declarou: "Há uma visão negativa em relação à palavra "mercado". Vejo um certo esnobismo elitista entre artistas contemporâneos: achar que uma obra, por ser popular, vendável, é ruim. Parte de outra noção tacanha: a de que uma obra, para ser popular, acessível, tem que ser fácil. O artista está sempre reclamando da ignorância do público dele, que ele não está sendo compreendido. Acho isso muito bobo".


  Depois disso levantamos as questões: a arte para ser boa, tem que ser de difícil entendimento? Tem que ser hermética?  Não pode cair no gosto popular?