Cultura

A BUNDA MAIS BONITA DO BRASIL. QUEM LÊ TANTA NOTÍCIA?,p/ MARCO GAVAZZA

Vide
| 17/05/2009 às 22:23
A bunda é utilizada nas mais variadas formas na propaganda
Foto: Blog Rasgutalo

Bundas não são especificamente parte do tema desta coluna, embora sejam larga e fartamente utilizadas em comerciais, anúncios, outdoors etc.  Há uma profusão muito grande de bundas expostas também nos veículos de comunicação como matéria ou ilustração de fatos de relevância unversal. 


Isso sem falar das bundas que transitam ao vivo entre nós,  moldadas em justíssimos jeans, reveladas sob vestidos em tecidos finíssimos,  insinuando-se  sorrateiras sob shorts minúsculos ou finalmente em apoteótica exibição plena nas praias e piscinas da vida, adornadas por um curioso triangulo na base da coluna vertebral de sua dona e um singelo cordãozinho que  desaparece entre as nádegas felizes e dançantes sob o sol. 


Com este ambiente tropical majestoso onde as bundas desde sempre tomam conta do  cenário,  fazendo daquelas bundas de Calígula (o filme) meras coadjuvantes, fica difícil alguém ter absoluta certeza de qual delas é a mais bonita.  A  mim, se perguntarem qual a bunda mais bonita do Brasil,  honestamente não saberia responder.  Haveria uma infinidade de alternativas, desde as famosas até as anônimas e nem por isso menos belas. Possivelmente tiraria partido doméstico e poético da questão apontando logo a da minha própria mulher ou a do meu netinho de 4 meses como as mais lindas que conheço.


Sou forçado a reconhecer que esta incapacidade de não titubear para responder e apontar de saída qual a bunda mais bonita deste país tão rico neste tipo de  cultura é uma deficiência minha.  Depois irei avaliar se é necessário buscar imediatamente um psicanalista  para avaliar esta minha insegurança ou se devo passar a comprar assiduamente Playboy, VIP, Sexy e outros veículos especializados no tema.  Mas não é por nada disso que falo sobre bundas hoje.


Quero apenas reafirmar minha profunda e antiga admiração pelo grande artista e intelectual que é o meu quase contemporâneo e nosso ícone santamarense, Caetano Veloso.  Questionado sobre tão difícil matéria numa entrevista a uma revista nacional ele não hesitou: a bunda mais bonita do Brasil é a de Tony Garrido.  Não vou questionar isso. Se Caetano falou, ele sabe o que diz.  Também porque nem sei muito ao certo quem é Tony Garrido e menos conheço a configuração de sua bunda.  Confio em Caetano.


Confio como confiava em minha adolescência, quando ele -já mais maduro e vivido que eu- afirmava haver  um tom de azul quase inexistente, azul que não há, azul que é pura memória de algum lugar. Ficava claro para mim que a memória da gente quando vai buscar lembranças agradáveis, estas podem vir envoltas num tom indefinido de azul. A seda azul do papel que envolve a maça.


Nas minhas antigas noites de seresta, nas praias da Ribeira ou na Lagoa do Abaeté, com mestre Aderbal Duarte ao violão  e o saudoso Vicente Sarno fingindo que o acompanhava,  confiávamos em Caetano, temendo que qualquer canção quase nada, vai fazer o dia nascer, vai fazer o sol levantar.  E seguíamos cautelosos em direção à inevitável manhã,  sempre confiando no mestre Caetano, acreditando que namorando a madrugada, eu e minha namorada, vamos andando na estrada que vai dar no avarandado do amanhecer.


Mais tarde a vida nos colocou em outras praias, mas a confiança em Caetano e seu pensar permaneceram.  Nossos corações também nunca se cansaram de ter esperança de um dia ter tudo o quer e acreditavam cegamente que não podiam ser só a lembrança de um vulto feliz de mulher que passou por nossos sonhos sem dizer adeus.


Como era bom ouvir de Caetano Veloso verdades inesperadas e ainda por cima envoltas em melodias  inusitadamente belas.  Enquanto o mar bate azul em Ipanema, em que bar, em que cinema, te esqueces de mim?


Havia descoberta mais surpreendente que a dos caprichos da natureza revelados por Caetano?  Eu sou a chuva que lança as areias do Saara sobre os automóveis de Roma. Meu Deus, é isso mesmo. A natureza viaja e este vento que assanha nossos cabelos no Farol da Barra pode ter vindo desde a Grécia somente para nos fazer um afago. Era maravilhoso e seguíamos confiando em Caetano Veloso, aguardando cada nova música para acrescentar uma verdade  em nosso acervo de hipóteses para tantas coisas da imaginação.


Ficamos todos mais velhos e de repente um de nós era tomado por uma vontade quase indomável. Eu quero é tocar fogo neste apartamento, eu quero é ir embora, eu quero dar o fora e quero que você venha comigo.  Mas sabíamos que navegar é preciso, viver não é preciso. Não com o sentido que a maioria entendeu, de que viver não é necessário.  Caetano sabia porque foi buscar em Camões e trouxe pra nós: navegar é preciso no sentido da precisão, exatidão, enquanto a vida, bem a vida é abrir as portas que dão pra dentro, percorrer correndo corredores em silêncio, é penetrar num labirinto, um labirinto de labirintos, dentro do apartamento.


Por isso não posso duvidar que Tony Garrido tenha a bunda mais bonita do Brasil. É a opinião de Caetano Veloso, o mestre de toda uma geração que buscava respostas para a vida e que encontrava  em suas palavras as chaves de alguns enigmas.  Não que ele desse a resposta pronta. Ele fazia a gente pensar.  Como me faz pensar agora sobre bundas, Tony Garrido e coisas que não tem nada a ver com o que eu deveria escrever aqui. Ou - que pena- com o que eu ainda queria ouvir de Caetano.


Preciso pedir desculpa aos meus eventuais leitores, pois que o nosso assunto aqui é comunicação e propaganda. Mas o sol nas bancas de revista, me enche de alegria e preguiça, quem lê tanta notícia?