Cultura

PRÊMIO PARA MIM É JUSTO. PARA OS OUTROS É MARMELADA (Neil Ferreira)

Vide
| 11/05/2009 às 12:14

A frase do polêmico e genial Neil deve estar sendo lembrada intensamente por alguns empresários de propaganda na Bahia. O resultado da concorrência do Governo do Estado para a contratação de agências foi considerado pelo mercado publicitário -não apenas baiano, mas nacional pois várias agências de outros estados participaram- no mínimo uma afronta, uma falta de respeito à ética e a todo um segmento que gera empregos, renda e paga elevados impostos. A gritaria é geral.  Por isso, volto ao assunto.


Até março de 2009 quatro agências atendiam o Governo da Bahia. Quando foi  publicado o Edital da concorrência para nova seleção surgiu a primeira surpresa. Desta vez seriam escolhidas cinco agências e não mais quatro. Para permitir essa nova divisão do bolo, criou-se um quinto lote de contas de secretarias, autarquias e órgãos oficiais.  À primeira vista pareceu uma coisa boa, já que permitia o acesso de mais uma agência às verbas oficiais, de longe as maiores do mercado.  O futuro diria que não era bem isso.


Saído o resultado, para começo de conversa foram mantidas -venceram a concorrência- as mesmas agências que já atendiam a conta publicitária oficial. Até aí nada de ilegal, embora extremamente desgastante e estranho.  Nenhuma outra agência participante apresentou um conjunto de requisitos melhor que aquelas quatro?  Ou nenhuma destas agências  "oficiais"  teve sua performance reduzida em relação à concorrência anterior?   Difícil ter sido assim,  mas este foi o resultado.


Não satisfeitos, os membros da comissão julgadora escolheram como quinta agência a Maianga, que simplesmente não é uma agência de propaganda. Pode até ter lá no seu contrato social a cláusula que lhe permite veicular propaganda, mas isso eu também tenho no contrato social da MG3, agência que tem como sócios eu e minha mulher e como funcionários, eu mesmo.


A MG3  existe legalmente para que eu possa atender clientes diretos ou outras agências, com a emissão de notas fiscais, pagamentos de impostos, tudo bonitinho. Posso até veicular um anúncio ou um comercial sem qualquer problema. Mas não tenho a estrutura de uma agência de propaganda, assim como a Maianga não tem.  Nem para atender para atender o que é exigido no próprio Edital e muito menos para atender a conta publicitária que é o lote que lhe foi entregue. 


A Maianga existe em Angola como produtora de eventos e promoções culturais enquanto existe no Brasil como publicidade e propaganda, sem qualquer cliente brasileiro -imagine baiano- nesta área. Para se ter uma idéia, no site da Maianga existe até uma loja virtual, onde se pode comprar CDs, DVDs, livros, camisetas e outros badulaques. O que tem isso a ver com propaganda governamental?


O mercado inteiro sabe disso. Para o grande público, o cidadão comum, o eleitor, pode ser que a estrutura de uma agência de propaganda seja um verdadeiro mistério, mas para nós, não.  E assim como nós precisamos ser respeitados, o cidadão comum também precisa.  Recorrendo a um artifício usual do Lula quando tenta explicar alguma coisa, é como se convocassem Ivete Sangalo para a  seleção baiana de futsal. 


A situação se torna ainda mais comprometedora para a Agecom e o Governo da Bahia porque quando apareceu o nome da Maianga entre as concorrentes, apareceram também comentários de que ela seria fachada para a Propeg, agência que deteve o comando da comunicação do carlismo enquanto este ocupava o poder. 


O que era considerado boato,  fofoca para justificar um estranho no ninho,  acabou tomando contornos de verdade com informações vazadas para o mercado, por funcionários da Maianga, de que a campanha que iria concorrer estava sendo desenvolvida por profissionais da Propeg.  Que até constariam da relação de profissionais que a Maianga se compromete -por força do Edital- a colocar à disposição para o atendimento da conta, caso vencesse.  Como garantir a presença na sua equipe de profissionais de outra agência?


Abertos os envelopes e confirmada a classificação da Maianga, diversas outras agências que ficaram de fora pediram acesso aos trabalhos apresentado pelas vencedoras, o que foi inexplicavelmente negado.  A gritaria começou a elevar-se em decibéis e após ameaças de se buscar na Justiça a anulação da concorrência,  a Agecom vem a público declarar que "ainda não existem vencedores" (sic) da licitação.  E o resultado que foi divulgado há dias atrás é o que? 


Não sei exatamente o quanto há de verdade e o quanto de mentira em tudo isso. Sei o que foi dado conhecer publicamente: ganharam a concorrência as mesmas agências que já trabalhavam para o Governo e mais a Maianga, que não é agência de propaganda.


É claro que o Governo da Bahia tem que abrir esta caixa preta. São 130 milhões de reais para serem utilizados em um ano. É dinheiro público, dinheiro do contribuinte, dinheiro meu, seu, de nosso trabalho.  Não pode ser distribuído como salgadinhos entre amigos.


É claro que o Governo da Bahia tem que preservar as premissas de transparência,  igualdade de direitos e probidade no uso do dinheiro público se tem pretensões de prolongar seu mandato por mais 4 anos.


É claro que o Governo da Bahia  não pode repetir com todas as letras tudo aquilo que condenou no passado, quando era oposição e prometia trabalhar sem beneficiar grupos específicos.


É claro que o Governo da Bahia precisa respeitar não só as agências de publicidade, mas o cidadão baiano e a própria Bahia.