Cultura

A CONCORRÊNCIA DA CONTA GOVERNO DE PUBLICIDADE, POR MARCO GAVAZZA

Vide
| 04/05/2009 às 14:03
Configuração da escolha, do site paraiso niilista.
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Sempre encontro coisas muito curiosas nesses processos de licitação para escolher empresas prestadoras de serviço ao poder público.  Desde que me entendo por gente  é a mesma coisa: ganha quem interessa ao executor da concorrência, sejam lá quais forem os critérios.  Lembram quando aconteciam as gigantescas concorrências entre empresas de engenharia para construir pontes, usinas, barragens e coisinhas assim? A coisa era tão previsível que se colocavam anúncios classificados nos jornais de São Paulo anunciando de forma cifrada quem seria a vencedora. Curiosamente acertavam na mosca, sempre.

 

Em comunicação e propaganda é semelhante. A competência é da hora. Durante décadas a Propeg ganhou concorrências do poder público, realizando grandes campanhas, trabalhos memoráveis, notadamente no setor do Turismo. Aí muda o governo e pronto: a Propeg não é mais uma agência capacitada para ganhar a nova concorrência. Deixa automaticamente de ser uma agência adequada à comunicação oficial.  Não é curioso?  A Idéia 3 que é uma das mais competentes  agências na Bahia e no Brasil, tem a conta da Prefeitura mas nem sequer se classifica para ganhar um dos lotes do pacote do Governo.  Ou seja, as competências parecem ser adaptáveis a quem realiza a concorrência.  Muito curioso também.

 

Depois de 30 dias de grande expectativa -para os mais ingênuos- saiu o resultado da concorrência do Governo do Estado, escolhendo curiosamente as mesmas agências que já lhe prestavam serviços antes. 

 

Durante todo este mês de ansiedade escutou-se de tudo no mercado. Desde o curioso "poder" de Varela para indicar uma das agências que seriam escolhidas até  a possibilidade de  agências de fora ganharem a maioria dos lotes.  Tudo devaneio.  Deu o que tinha que dar, com apenas uma intrigante curiosidade:  um dos lotes foi parar nas mãos da Maianga e esta é na verdade uma produtora de vídeos e eventos culturais, especialmente lançamentos de livros de fotografias do seu próprio dono, que mora entre Angola e o Vale do Capão, na Chapada Diamantina.  

 

Ele é também ex-sócio da Link, nome fantasia da Bagg Comunicação, agência que sempre manteve fortes laços de relacionamento  com partidos da esquerda brasileira atendendo inclusive contas do Governo Federal.  Com sua saída para cuidar da Maianga, a Link  praticamente fechou as portas  em Salvador, mantendo seu QG de operações em Brasília.  Ou seja, se alguém nesta história -falo de pessoa jurídica- possui mais qualificação como agência de propaganda é a Link e não a Maianga.

 

Entre as dezenas de curiosidades escutadas durante a longa espera uma é que ela teria entrado na concorrência como apoio para uma agência que sabia ter poucas chances junto ao grupo que deseja erradicar o carlismo da política e da história da Bahia.

 

Será que os órgãos de comunicação do governo engoliram a isca ou trata-se de mera coincidência entre a imaginação dos concorrentes e o resultado oficial? Ou nem uma coisa nem outra? Ela entrou e curiosamente ganhou como ela mesma e fim de papo?

                       

É curioso olhar o quebra-cabeça armado, prontinho e bonitinho pois mesmo assim fica a  sensação de que uma peça não encaixa.  Tá lá, mas não é dali.  Curioso. Como esta concorrência tem cheiro de convocação de jogadores para a seleção que vai disputar a Copa Estadual das Urnas 2010, a gente  fica tentado a ver além do que está visível.

 

É possível que a lista de convocados tenha sido montada em função das táticas que se pretende usar lá na frente para tentar o bi. Alianças, apoios, acordos partidários, projetos futuros, essas coisas todas que ocupam o tempo dos políticos atrapalhando seu trabalho de defender a sociedade que os elegeram.  Como entendo quase nada de futebol e praticamente o mesmo de política, não me atrevo a tentar explicar  o que está fazendo  um jogador de camisa quadriculada no time de camisas de listras.  Fico só curioso. Talvez fosse mais simples se os editais exigissem entre todos aqueles documentos, também a filiação partidária dos sócios da  empresa.  Muita gente deixaria de investir em campanhas excelentes e caras que no final servem apenas para validar o processo seletivo.

 

O que me leva a todo esse malabarismo de raciocínios e a tratar deste assunto com uma certa insistência é exatamente o desgaste inútil que sofre quem pensa simplesmente em jogar seu jogo, bater sua bola, mostrar sua competência.  Foram quase 30 agências de propaganda debruçadas durante um mês sobre raciocínios e estratégias para a comunicação do poder público com a sociedade. Um investimento incalculável em salários, recursos alocados, pesquisas, desenvolvimento de campanhas, material de trabalho e principalmente na geração de algo difícil de se botar preço: idéias.  A maioria delas boas, diversas ótimas, algumas excelentes  e no fim de tudo, inocentes úteis.

 

Se o critério de escolha não é o menor preço (o que em tese deveria nortear a ação do poder público, mas é inócuo em propaganda, quando se tem verba pré-definida) que se dispense o constrangimento de fazer dezenas de agências sofrerem o desgaste de participar de um processo caro, estressante e de resultados extremamente curiosos. 

 

Acho até que tendo como principal critério seletivo a capacidade de agradar o cliente, este deveria ter o direito de escolher quem bem entendesse,  sem maiores formalidades. Altere-se a lei, como se faz diariamente de acordo com a direção do vento e permita-se que o poder público escolha as agências que lhe agradam mais ou que lhes merecem mais confiança e tudo bem.  Assim pelo menos as outras deixam de dar tiros n'água e de alimentar ilusões numa época em que saber onde pisa é indispensável para  sobreviver no mercado.  Curiosamente, se estas outras agências investissem na conquista da conta daquela barraca de lanches na esquina, ganhariam mais.  Muito curioso.