Cultura

O ARTISTA CARYBÉ, FILHO LEGÍTIMO DA BAHIA, POR LIGIA AGUIAR

Ligia Aguiar é artista das artes visuais e integra a partir de hoje nossa equipe de colaboradores
| 29/04/2009 às 09:03
A mostra de Carybé está no MAM e fica até 31 de maio
Foto: Arquivo
 

Em cartaz no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), uma grande exposição do artista Carybé. A mostra celebra os 70 anos da primeira vinda do artista à Bahia, além de fazer parte da programação especial de 50 anos do MAM.


As obras ocupam todo casarão e a Galeria 1 do museu. São pinturas, desenhos, gravuras, esculturas ilustrações e registros, além de peças inéditas e quadros inacabados.


Uma sala reservada, o Gabinete Erótico, expõe trabalhos nunca mostrados ao público, de alto conteúdo erótico.


O curador da mostra, Raul Lody, fez uma bela montagem, principalmente com as 19 esculturas  em madeira que representam os orixás, fruto de mais de 30 anos de pesquisa de Carybé.


Artista múltiplo, enveredou também por trabalhos de grandes proporções, a exemplo de murais e esculturas em locais públicos. De grande beleza plástica os gradis que circundam o Campo Grande, a Praça da Piedade e a entrada do MAM, são de sua autoria. O mural existente no foyer do Teatro Castro Alves, que conta a história da colonização  é um dos mais belos e expressivos.


Carybé é o baiano mais baiano que eu conheci, digo isso porque apesar dele ter nascido na Argentina, tinha o olhar especial para a essência da nossa terra, do nosso povo, dos costumes, das religiões, da diversidade racial. Olhar diferenciado e profundo da nossa ancestralidade e iconografia, fonte da sua força criativa.


De traço inconfundível e econômico, com a sua  pintura captou como ninguém o verdadeiro espírito baiano. Registrou a Bahia antiga, a cultura afro-brasileira e as manifestações culturais, temas recorrentes em sua obra. Desenvolveu um profundo respeito pelo candomblé, principalmente pelo Ilê Axé Apô Afonjá, do qual era Obá de Xangô, posto honorífico da religião. Foi lá que Hector Júlio Páride Bernabó, deixou para sempre a sua querida Bahia, aos 86 anos, no ano de 1997.


Logo após a sua chegada em Salvador, nos anos 50, se juntou ao grupo formado por vários artistas, entre eles Mário Cravo, Carlos Bastos e Genaro de Carvalho, que contribuiu para o surgimento da arte moderna na Bahia, presa ainda nas amarras do academicismo, com um atraso de mais de 20 anos em relação ao Sul do país.


Formou uma confraria de amigos notáveis: Jorge Amado, Mário Cravo, Floriano Teixeira, Calazans Neto, Pierre Verger, entre outros.


Com o fotógrafo Verger criou um laço de amizade de 50 anos. Apesar de personalidades opostas, eles mantinham um clima de camaradagem e respeito mútuo. Recentemente, a Fundação Pierre Verger editou um belo livro sobre os seus trabalhos, enfatizando seus olhares especiais e convergentes para  as coisas da Bahia.


Capeta Carybé - título do livro que Jorge Amado dedicou ao amigo e que virou filme, pelas mãos do saudoso cineasta Agnaldo Siri Azevedo.


Um artista singular e essencial para a cultura baiana. Deixou mais de cinco mil obras, de grande valor documental, um importante legado artístico para a sua herdeira: a velha Bahia.


A mostra cumpre seu papel de recontar a vida artística de Carybé, trazendo inclusive, trabalhos inéditos com temas  desconhecidos do público. Além disso, a produção inovou com a Rota Carybé, visita guiada, que irá percorrer 17 pontos da cidade, em que existem obras do artista. O passeio deve ser agendado pelo telefone (71) 3117-6141. Passeio Grátis.

  

Uma exposição realmente imperdível. No MAM de terça a domingo de 1 da tarde às 7 da noite e aos sábados até às 9 da noite. Fica até 31 de maio.