Diz a tradição que São Jorge nasceu na Capadócia, no séc III. Era um militar do Império Romano, em tempos de perseguição aos cristãos. Em defesa da fé em Jesus Cristo teria sido martirizado e, posteriormente, canonizado santo pela Igreja.
Dizem as lendas que era um cavaleiro que defendia os mais necessitados, daí sua imagem sobre um cavalo branco encravando uma lança no dragão subjugado, em defesa de uma jovem. O dragão seria o império romano e a jovem seria a igreja, de acordo com as interpretações religiosas. Entre tantas lendas, uma das mais antigas é a de que São Jorge mora na lua cheia ( é até possível vê-lo nas manchas lunares), que a todos nós alumia.
Na Bahia, São Jorge é identificado pelo povo com Oxóssi, o Orixá caçador de nação Ketu, que protege os terreiros, veste-se de azul turquesa (nos candomblés de Angola-Banto veste-se de verde) e seu dia é quinta-feira. É irmão de Ogum. Padres católicos e Ialorixás condenam, hoje, o sincretismo, como artifícios de convivência usados nos tempos de escravidão que já se foram. São Jorge é um e Oxóssi outro, são entidadses e energias diferentes, todos sabem, mas...
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"Em toda casa tem um quadro de São Jorge
Em toda casa onde o santo é protetor
Num barracão, num bangalô de gente nobre
Há sempre um quadro desse santo salvador.
Quem é devoto é só fazer uma oração
Que o guerreiro sempre atende
Dando a sua proteção
Por isso mesmo, não devemos esquecer
A grande data, dia 23 de abril
Vamos cantar, com alegria e prazer
Porque São Jorge é o padroeiro do Brasil"
Canção de Ari Monteiro e Irany de Oliveira, imortalizada na década de 50 do século XX na voz de Jorge Veiga. O Brasil inteiro cantava. Rádio de válvulas ligado, bocas de alto-falantes nos postes e no alto das mangueiras das vielas de barro dos bairros populares e subúrbios, os atabaques ecoando à noite pro Oxóssi das matas.
Que seria de São Jorge, se não fosse Oxóssi?
Ou, não fosse São Jorge, Oxóssi resistiria?
Qual dos dois melhor seria?
Fecundas raízes ainda, no solo da Bahia
Ou restos de senzala, feito erva daninha.
Mas é crença do povo
Devoção, guarda e folia.
E lá, bem no fundo da alma, nos relicários da fé
o baiano sabe muito bem:
"Cada qual com sua energia".
Pois então, os dois juntos, por quê não?
Pura sabedoria.
Medalhinha de São Jorge, de Oxóssi a guia.
Keto é reino de Oxóssi
O dono do terreiro, guardião da aldeia.
São Jorge é o cavaleiro da lança
Que protege a virgem, pisando o dragão.
Vela acesa para os dois, barracão e sacristia.
Missa pra Oxóssi
Caça pra São Jorge
Agrado e prece pra um e outro
Okê Arô, meu santo guerreiro!
O povo sabe
Tudo UM.