Cultura

"DENDÊS NO SANGUE" DA INDÚSTRIA ADVERTIDOS POR WAGNER, P/ TASSO FRANCO

Vide
| 16/03/2009 às 11:03
Ilustração de sangue-sugas correndo atrás do saco de oportunidades, o capilé
Foto: Foto: Ils
     Tenho comentado neste site sobre os "Dendês no Sangue" que frequentam a temporada Verão/Carnaval na Bahia, especialmente em Salvador, e que amam a cidade, adoram Salvador, prometem "mundos e fundos", mas, tudo isso só neste período. Assim que Dom Geraldo Majella, arcebispo primaz reza a missa da quarta-feira de cinzas, essa turma espertíssima já retornou ao eixo Rio/São Paulo alguns deles com excelentes recheios nos bolsos, outros contabilizando os ganhos nos espaços midiáticos, e a vida segue até o ano seguinte com novas juras de amor sob os aplausos da baianada ingênua e hospitaleira.

           
      Alguns desses promotores de eventos, empresários do lúdico, artistas, espertalhões de toda natureza têm matrizes baianas e estão associados a grupos nacionais e multinacionais, os quais, se aproveitam desse momento de exposição da cultura popular baiana no imenso palco carnavalesco e faturam horrores, com a ressalva de que também vão investir na Bahia, em hotéis, restaurantes, casas de espetáculo, indústria do entretenimento, mas, só que ninguém vê esses tais investimentos subsequentes à temporada. E o ciclo repete-se no próximo Carnaval com promessas ainda mais mirabolantes.

           
         São notórios os lucros dessa turma. Alguns chegam a faturar R$2 milhões/R$5 milhões em camarotes e há de tudo nesses espaços, desde uisque da melhor qualidade a discotecas e longues. Menos, óbvio, Carnaval e/ou cultura popular. Teve camisa para dar acesso a determinado camarote, neste 2009, com 11 marcas de empresas impressas na frente e costas. As pessoas que as usavam pareciam uma tela de televisão. E, aí daquele que fizesse alterações nas camisas, recortes e outras artes que pudessem camuflar as marcas. Era repreendida.

           
        Agora surgiu aos olhos da midia com mais intensidade, uma nova turma de "Dendês no Sangue", no segmento industrial, com exposição mais acentuada depois que a Fábrica Britânia fechou às portas em Camaçari sem sequer avisar a Secretaria da Indústria e Comércio do Estado, uma vez que era beneficiária de incentivos fiscais organizados a partir da "guerra fiscal" que se desencadeou no país, entre os Estados da Federação, visando captar empresas.

        
        Os "Dendês" da indústria fazem as mesmas juras de amor dos "Dendês" do Carnaval, com a diferença de que são beneficiários de largos incentivos. O maior exemplo disso foi a instalação da Ford, uma multinacional do setor automobilísticos que teve muitos benefícios de "mão beijada" e não recolhe ICMS aos cofres da SEFAZ por longo período, apesar de todas as vantagens que a empresa trouxe para o Estado. Mas, ninguém se surpreenda se, lá adiante, a Ford fechar sua unidade industrial na Bahia, porque um "Dendê" internacional ele só tem amor a sua própria Pátria e veja lá.

    
         Na França, recentemente, os trabalhadores organizados em sindicatos prenderam os representantes de uma montadora japonesa exigindo a contra-partida na manutenção do trabalho e no respeito ao país. Afinal, essa montadora, nos tempos áureos da economia capitalista global faturou uma montanha de dinheiro e enriqueceu ainda mais o Japão, a partir de sua base na França e em outras partes do mundo. A tecnologia (base de tudo) está no Japão e não na França.


          O mesmo se pode dizer aqui da Ford. A tecnologia (e o veículo vai passar por uma profunda mudança nos próximo anos em sua matriz energética) está em Detroit e não em Camaçari. Assim como a base da inovação tecnológica da Azaléia está no Rio Grande do Sul. A Bahia é apenas matriz produtora em série sem auferir esses ganhos.

          
          Felizmente, o governador Jaques Wagner foi a público e protestou contra a atitude dos "Dendê" da Britânia não citando nominalmente a empresa, mas, dizendo em alto e bom som que, os empresários que quiserem vir a Bahia, instalar suas empresas no Estado, só devem procurá-lo (os incentivos do governo) se tiverem algum compromisso com a Bahia. Caso contrário, passem ao largo. Disse isso duas vezes, repetindo a segunda na Unigel, em Camaçari, revelando seu ponto de vista e a insatisfação com aqueles que usufrem as linhas de crédito do governo, se fartam, e, quando há um momento de incertezas, como agora, sequer sentam para negociar.

           
          Que bom que essa atitude fosse ampliada para os "Dendês" do Verão/Carnaval. Estima-se qua uma "Dendê" faturou no último Carnaval de Salvador algo em torno de R$5 milhões. Então, nada mal colocar um milhãozinho num projeto na Bahia e levar os outros R$4 milhões para o Rio. Agora, levar a dinheirama toda, assim na maior, usando a festa baiana, fazendo merchadising até de shampoo, tenha santa paciência.

          
        É claro que não existe uma lei determinando esse tipo de ação. Mas, bom senso ainda é um ingrediente indispensável nessas relações. E se o governador já disse aos empresários da indústria que não o procurem se não têm compromissos com a Bahia, deve valer também para a turma do Carnaval.