Cultura

MEMÓRIA DA SÉ RETORNA EM TERCEIRA EDIÇÃO PARA LEMBRAR TRAGÉDIA BAIANA

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| 12/03/2009 às 18:27
Livro revela como interesses econômicos entronizaram as picaretas do progresso
Foto: Foto: Capa Nova Edição
  A Editora Corrupio lança no próximo dia 19, o livro Memória dá Sé - em sua terceira edição, revista e corrigida pelo autor Fernando Peres - no Espaço Unibanco Glauber Rocha.


  A obra é resultado de uma pesquisa realizada em 1973 - e aprimorada ao longo dos anos - nos arquivos da cidade de Salvador, sobre a demolição da Igreja da Sé, em 1933. O livro narra a polêmica instaurada durante o processo que durou 21 anos - de 1912 a 1933 - ano em que a construção veio abaixo.


  Publicado pela primeira vez em 1999, vinte e cinco anos após sua apresentação acadêmica, em edição muito singela, o texto agora ressurge em sua terceira edição, revista e corrigida.  A publicação, patrocinada pela Petrobras, chega trazendo aprimorado trabalho gráfico e acabamento, com reprodução de documentos iconográficos de grande valor histórico.


  A primeira edição obteve, quando de seu lançamento, repercussão nacional e suscitou comentários de professores, historiadores e intelectuais ligados aos movimentos de preservação do patrimônio nacional. Essa nova edição, aprimorada, chega, portanto, para se tornar obra de referência na área.                                                                       

Conteúdo

 

O livro analisa as causas históricas, sociais e econômicas que levaram à demolição da Catedral da Sé, em Salvador, construída ainda no governo Tomé de Souza. Durante 21 anos a imprensa, a igreja, os intelectuais e as autoridades civis do Estado e do Município travaram uma acirrada disputa que envolveu os interesses da elite econômica da época, num jogo de poder que, no livro, é o pano de fundo para o desenvolvimento da narrativa, embasada em uma pesquisa de altíssima qualidade.


Além de ser um instrumento para o exercício de leitura e análise crítica sobre a importância da preservação do patrimônio cultural - como testemunho da história das cidades, da arquitetura e da identidade - a crônica da inacreditável campanha, que culminou na derrubada da Igreja, contempla uma análise do modelo de reforma urbanística - em nome de um "progresso" a qualquer preço - que se manifestou em várias capitais da República, desde o início do século XX.


AUTOR

Fernando da Rocha Peres é historiador e poeta. Nascido em Salvador, foi diretor da Fundação Cultural do Estado, pró reitor de extensão da UFBA e diretor do IPHAN. É também membro da Academia Baiana de Letras.



Comentários sobre o texto


"Memória da Sé, de Fernando da Rocha Peres, versa um tema intrigante, esse da polêmica demolição da famosa Sé velha e de um vizinho conjunto arquitetônico, a qual tanto agitou a Bahia e foi o tema de episódios desenrolados sob a pressão de determinada ‘ideologia do progresso', a mesma que ainda hoje, na Bahia e em muitas outras partes do Brasil, pretende modernizar as cidades com o inepto sacrifício de valiosos testemunhos do passado. [...] Esse trabalho é dos poucos que constituem uma verdadeira tese universitária, não uma simples monografia informativa e sumária; ao contrário, uma confrontação das concepções estáticas e dos juízos históricos de uma elite com os desafios de uma época ávida de adiantamento, de atualidade..." (Thales de Azevedo - 1975).


"O tempo não foi capaz de deslustrar o texto. Bem ao contrário, enalteceu-o, principalmente por havê-lo tornado, em razão da excelência no tratamento dado pelo autor ao tema, em raridade bibliográfica cada um dos seus exemplares, porventura aparecido nos tradicionais ‘sebos' das principais cidades brasileiras, passando a ser arduamente disputado pelos estudiosos da História da Bahia. [...] que o enorme conjunto de acontecimentos relacionados com a demolição da velha igreja da Sé foi nele trabalhado, de modo adequado e exaustivo, com exemplar honestidade quanto às informações, à capacidade crítica eficaz, a compreensão exata de uma época da história da Bahia e, mais, fina elegância de estilo e extraordinária grandeza de ideal. [...]." (Waldir Freitas Oliveira - Presidente do Conselho de Cultura do Estado da Bahia, 1999).


"O trabalho erudito e original de Rocha Peres corresponde a uma reivindicação; e rasga as perspectivas do bom combate. Reivindica, em nome da memória da Sé, a memória do povo. [...] Aprende-se, em cada linha deste livro retrospectivo, o que representou para a nossa gente o monumento, e o vazio deixado por sua queda. Sucedeu à Sé da Bahia o que sucede necessariamente com as imensas construções abatidas: parecendo um estorvo ao progresso, vê-se depois que era um insubstituível padrão de grandeza; satisfazendo à técnica - que não soube poupá-la - faltou ao desenvolvimento - que requer inteligência. Se a tivessem conservado, seria um testemunho de civilização. Por isso a sua ‘memória' é um documento de consciência e justiça." (Pedro Calmon, Historiador, - 1975).


"Agradeço-lhe sinceramente a remessa de seu magnífico livro Memória da Sé. [...] Tem razão o Prof. Calmon. O seu livro é uma "restauração simbólica". (Américo Jacobina Lacombe, 1975)"


"Que admirável livro você me mandou! A sua Memória da Sé é mais do que uma recomposição na ordem presente - é um protesto, e para durar indefinidamente [...]". (Josué Montello, 1975).