Cultura

E O OSCAR VAI PARA LULA O FILHO DO BRASIL, POR MARCO GAVAZZA

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| 26/02/2009 às 08:05
O Oscar vai também para Fábio Barreto e família
Foto: Foto: Div
  Eis que terminado o período de irresponsabilidade total,  voltamos à vida normal, ao menos no calendário. Aliás, feliz Ano Novo para você, brasileiro como eu que precisa esperar passar o Carnaval para que perspectivas de trabalho e atividades produtivas recomecem. 


  E olha aí: abrimos oficialmente 2009 já com grandes notícias no setor cultural, mais especificamente, no cinema. O Brasil finalmente terá uma superprodução cinematográfica, com orçamento hoje na casa dos 16 milhões de reais. Quase chegando aos padrões -mais modestos, é verdade, mas ainda assim chegando perto- de Hollywood. Pra você ter uma idéia, o mais caro filme brasileiro foi Os Dois Filhos de Francisco, que beirou 14 milhões, mas teve 40% do orçamento conseguidos através do FazCultura e programas semelhantes.


  Mais surpreendente ainda é que esta superprodução anunciada agora não terá um único centavo de dinheiro oficial, aquele que costumava jorrar das fontes murmurantes da Embrafilme, geralmente para as mãos de Luiz Carlos Barreto, produtor de Dona Flor e seus Dois Maridos nos anos 70 e maior bilheteria brasileira até hoje.  Bem, o produtor da superprodução é o mesmo Luiz Carlos Barreto, mas como já disse, sem um tostãozinho sequer de dinheiro público.


   Toda a dinheirama foi arrecadada junto à iniciativa privada, que de boa vontade contribuiu com cotas de 1 ou 2 milhões de reais.  Será que finalmente o capital percebeu a necessidade de valorização da cultura e dos meios de comunicação, reconhecendo neles um canal inquestionável para o desenvolvimento do nosso país?  Sim, porque entre os mecenas da superprodução de Barreto estão pesos pesados da economia brasileira e mundial como AmBev,  Camargo Correa, Nestlè, Oi, Volkswagen e até duas empresas da mais pura estirpe baiana: Odebrecht e OAS. 


   O filme será dirigido por Fábio Barreto, filho de Luiz Carlos e terá mais de 60 locações em vários estados brasileiros, frotas de carros dos anos 50 até 80 acompanhando a cronologia do roteiro que prevê ainda milhares de figurantes e mais de 100 atores, entre eles a sempre excelente Glória Pires. A produção é tão inédita para os padrões cinematográficos brasileiros que uma cena de inundação será gravada numa vila cenográfica inteira e especialmente construída dentro de um lago. É coisa de encher os olhos e deixar a gente já pensando naqueles tapetes vermelhos do Palácio das Artes,  lá na Califórnia.


  Tem mais: os Barreto -Luiz Carlos e Fábio- já estão tratando de preparar o desdobramento do filme em uma minisérie para a televisão, logo após o inevitável megasucesso que ele conseguirá nas principais salas de cinema do Brasil. Dizem veladamente -é claro, pois é crime como estamos cansados de saber- que hordas de piratas já estão se preparando para conseguir cópias em DVD já na fase de edição do filme.


  Sobre o que é essa superprodução brasileira tão surpreendente? Claro, você deve estar curioso, pois até agora só falei dos detalhes técnicos da empreitada.


  Bem, o nome do filme é "Lula, o Filho do Brasil".  É, é isso, ele mesmo. Lula. Isso, Luiz Inácio Lula da Silva, bi-presidente do Brasil.  Porque um filme sobre ele?  Tá falando comigo? Ah, sim. Olha, vou citar a razão que Luiz Carlos Barreto apresentou e você mesmo deverá perceber a validade e importância de tudo isso.  Disse ele: "Estamos fazendo este filme porque Lula é um herói  e o povo brasileiro precisa conhecer a história de seus heróis. A idéia é humanizar o mito."   


  Entendeu?  Como? Será que vão ter filmes sobre Teotônio Vilela, Dom Hélder Câmara, Wladimir Herzog,  Tancredo Neves, Eder Jofre, João Carlos Martins e outros assim deste tipo?  Não sei. Já tiveram filmes sobre a Marquesa de Santos, Lampião, Macunaíma, os tais dois filhos de Francisco, um documentário sobre Pelé; quem sabe a gente encontra quem pague filmes sobre outros heróis brasileiros, de outras áreas, outras épocas, outros heroísmos.  Muito tempo atrás tinha Jerônimo, o Herói do Sertão, mas era novela e era na Rádio Nacional do Rio de Janeiro que nem existe mais.


  Porque Lula é um herói?  Olha; aí você já está pedindo demais de mim, um simples publicitário tentando escrever uma coluna sobre comunicação que seja interessante, esclarecedora, atraente. E você quer que eu explique como e porque Luiz Carlos Barreto arranjou 16 milhões de reais para fazer um filme sobre o herói Lula e porque este mesmo Lula é um herói.  Com certeza espera que eu também explique se D. Marisa Letícia aparece no filme e fazendo o que.  Aí também já é demais.


  Bem; falando sinceramente, acho que você não ficou muito entusiasmado com esta notícia que usei para comentar a abertura oficial da cultura e comunicação em 2009.  Mas a gente tem tempo para refletir sobre isso e quem sabe mais tarde voltarmos ao assunto.  Mesmo porque o filme só será lançado em janeiro de 2010. Como? 2010 será ano eleitoral? Se eu esqueci disso? Não; não esqueci disso. Porque? Você acha que o filme sobre o herói Lula pode ter alguma coisa a ver com...?


  Acho melhor a gente parar por aqui; acho mesmo. Não sou folião, não participei do Carnaval, mas devo estar ainda sob os efeitos da alucinação coletiva. Como? Alucinação coletiva não acontece só no Carnaval?  Ou o Carnaval ainda não acabou?


  Vamos fazer o seguinte: você faz de conta que não leu isso aqui, eu faço de conta que não escrevi nada desde a semana passada e amanhã ou depois a gente se encontra por aqui, com um tema quem sabe mais assim; como diria? Já sei: menos complexo. Porque para explicar tudo isso que você quer saber (assim como eu quero) só mesmo sendo também um herói.