Cultura

DAS KLEIN WONDER E O MARKETING ALEMÃO, COMENTÁRIO MARCOS GAVAZZA

Vide
| 09/02/2009 às 07:42
A indústria da Alemanha tem uma das mais confusas estratégias mercadológicas
Foto:
  Não tenho nenhum estudo estatístico disponível, no qual possa basear-me para uma avaliação mais precisa.  Entretanto a simples percepção e os anos dedicados à observação e estudo do marketing, me levam a deduzir que a indústria alemã possui uma das mais confusas estratégias mercadológicas do mundo. Ou então, por características culturais, passa ao largo daquilo que o resto do mundo considera prioritário: competitividade. Incluindo aí o respeito pelos concorrentes.

  Explico melhor meu raciocínio. A indústria de bens duráveis da Alemanha, já produziu e produz alguns dos mais respeitados produtos, nos mais diversos setores. Desde tempos mais remotos, quando a marca Sollinger era um sinônimo de lâminas e navalhas, até a atualidade quando a Mercedes Benz, BMW e Audi ainda são ícones de automóveis de alto desempenho.


  Entretanto diversas marcas alemãs, líderes mundiais e de reconhecida excelência como Philips, Laika, Hasselblad,  Basf, Blauponkt, Motorola, Siemens; a própria Volkswagen e tantas outras perdem posições no mercado, caminham rapidamente para o desaparecimento ou já desapareceram.


  A excelência conseguida para o desempenho do produto, parece ser o único requisito considerado necessário pela indústria alemã para que ele seja comercializado. Quem não comprar é que estará sendo tolo. No mundo de hoje, sabemos que não é assim.


  Não basta ser bom: tem que ser competitivo, simpático,  íntimo do consumidor. Tem que estar constantemente presente no universo de referências do seu público já que este é  seduzido diariamente por outras marcas. Não adianta seu marido ou sua mulher serem pessoas cheias de qualidades, se andarem sempre de cara amarrada, roupas ultrapassadas, isoladas num canto. Um dia você vai dar uma voltinha com alguém mais moderninho, mais sorridente e com uma roupinha mais solta.


   Um exemplo emblemático deste antimarketing germânico foi o milionário e desastrado lançamento do Mercedes Benz 180, o Classe  A.  Apresentado ao mercado como a oportunidade de pessoas "não-ricas" possuírem um Mercedes, ele ficou muito acima da faixa de poder aquisitivo deste público, conseguindo assim duas façanhas: não atingiu o segmento a que era direcionado e prejudicou a imagem da marca, provocando a ira do seu público consumidor tradicional, o "sim-rico".


   Hoje alguns destes carrinhos ainda circulam por aí, irritando quem paga centenas de milhares de reais por um modelo atual  e denunciando a condição de "alpinista social" de quem o dirige. Algo coisa semelhante à  Maison Cartier lançar relógios de 50 reais vendidos na Av. Sete.  O povão vai preferir os de 10 e quem tiver um Cartier legítimo vai guardar na gaveta.


  Daí chegamos à uma questão crucial. Todos os manuais de marketing moderno apontam a construção de imagens de marca como fundamental para o desempenho em vendas. Porque será então que tantas marcas tão bem construídas na Alemanha (se considerarmos o nazismo um "produto", temos que concordar que até ele foi bem construído. Seu logotipo até hoje é um dos símbolos mais facilmente identificáveis em todo o mundo e sua atividade não pára de ser analisada por historiadores) perdem tanto espaço no mercado mundial?


  A resposta é simples. Ficar famoso não é mais difícil. Andy Wharrol tinha razão. Difícil é continuar famoso. Qualquer um pode ter uma boa idéia e lançar no mercado um produto ou serviço inovador conquistando sua fatia de mercado. Mas o processo não pára por aí. Depois de construída uma imagem e uma marca é que começa a parte dura do trabalho. Manter esta marca sempre no topo, acompanhando todas as mudanças tecnológicas e novas tendências sociais.


  Quando as marcas e imagens corporativas famosas a que nos referimos foram criadas na Alemanha, estas mudanças e novas tendências demoravam muito para acontecer, daí talvez a considerável resistência destas marcas. Hoje as mudanças são quase diárias. Marcas e produtos são praticamente engolidos a cada ano. Há uns 10 anos atrás você se imaginaria comprando produtos Gradiente, LG ou Britânnia? Quem possui uma imagem forte resiste, mas se não acompanhar espertamente os passos do consumidor -ou de preferência se antecipar a eles- certamente também será devorado. "Decifra-me ou devoro-te" quem diz hoje é o mercado de consumo, a Esfinge do Século 21.


  Aqui na Bahia também encontramos comportamentos mercadológicos semelhantes, embora não tenhamos nenhuma célula do DNA germânico. Marcas, produtos e serviços surgem e desaparecem num ciclo constante de sucesso-fracasso.  Enquanto Perini, Oceania, Chez Bernard e outros parecem ignorar o tempo; Superbox, Fratelli Vita, Água Itaparica, Chadler e outros tantos são apenas o passado.


  No universo industrial é corriqueira uma espécie de piada, onde se diz que os alemães inventam e vendem para os americanos, os japoneses copiam em tamanho menor, a China transforma em brinquedo ou enfeite e vende baratinho para o mundo inteiro. Parece ter lógica e inclui vagamente uma resposta para o posicionamento mercadológico dos produtos made in Germany.


  A expressão alemã Das Klain Wonder, título deste artigo, significa A Pequena Maravilha e a sigla formada por ela -DKW- era a marca de um futurista carrinho alemão (claro) fabricado nos anos 50 e montado no Brasil pela Vemag. Ele tinha um motor de 3 cilindros movido por uma mistura de gasolina e óleo (que mantinha o motor permanentemente lubrificado), tração dianteira e fazia mais de 20 km com um litro de combustível. Amplo espaço para quatro pessoas, câmbio de três marchas e portas abrindo-se para frente do veículo facilitavam a direção e o acesso. Perfeito para ser usado em grandes cidades com trânsito pesado e dificuldade de estacionamento.


  O que houve com ele ?  Desapareceu.