Cultura

RICARDO, EULER E A SEXTA DA PAIXÃO - COMENTA MARCO GAVAZZA

Marco Gavazza é nosso colunista de publicidade e propaganda
| 20/01/2009 às 07:23
O trabalho da Ricardo Eletro em suas campanhas de marketing na Bahia
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  Sempre tive curiosidade de saber quem é que determinava a data do Carnaval. Quando criança imaginava alguém decidindo isso em função de sua maior ou menor disposição física no início do ano.  Depois soube que não era bem assim.

O Carnaval era marcado para acontecer exatamente 40 dias antes da 6ª Feira da Paixão, definindo um período que a religião católica chama de Quaresma. Estava portanto, transferida a minha dúvida. A pergunta passou a ser: quem determina a 6ª Feira da Paixão ? 


  Embora nunca chegasse a me tirar o sono a cada ano a dúvida piscava para mim. Até que um dia descobri tudo. A 6ª Feira da Paixão é sempre a sexta-feira mais próxima da primeira Lua Cheia da primavera, no hemisfério norte. Nosso outono cá abaixo do Equador. Quando Jesus aborreceu os romanos até o limite deles e terminou pendurado numa cruz; era uma sexta-feira, início da primavera e havia uma Lua Cheia nos céus de Jerusalém.


  Essa foi a referencia que atravessou dois mil anos servindo para marcar tantas datas que afetam a vida da gente ainda hoje, quando os romanos já não estão nem aí para Jerusalém  mas se tornaram sede da religião que  combateram.


  Além de bela a história contém um outro ensinamento: tudo na vida tem uma explicação e um planejamento por trás. Seja ele cósmico ou humano, está lá. Se não dá pra entender como sua namorada terminou tudo porque você mudou o corte de cabelo, tenha certeza de que há uma explicação. Se aquele seu colega de trabalho que dedica todas as horas vagas a jogar dominó e passa as tardes de domingo a assistir Faustão (de cueca e comendo pizza gelada do jantar de sábado) foi promovido a seu Diretor Administrativo, alguma explicação existe. 


  Na vida sempre há uma explicação para qualquer coisa.  Por mais inusitado que pareça ser um fato ou um gesto, por trás dele há uma engrenagem complexa, que se move às vezes lenta e longa, às vezes rápida e curta, para fazer com que tal coisa tenha acontecido.


  Quando contei aqui há algumas semanas a visita de Ricardo Nunes (presidente da Ricardo Eletro)  a Salvador, mostrei o que a sensibilidade pode fazer para definir caminhos.  Mas no marketing e na comunicação ela -a sensibilidade-  sozinha não funciona.  Tem que haver planejamento e estratégia para que milhões de reais em investimentos não corram nenhum risco de desaparecer. 


 Além do Ricardo com sua presença ativa, sensibilidade e equipe de marketing, havia também a inteligência e a estrutura de sua agência de propaganda que montou acampamento por aqui durante três meses e através de pesquisas, entrevistas, novos contatos com veículos, avaliação de relatórios de audiência, mapeamento estratégico  e outras ferramentas de trabalho; com o foco direcionado para a diferenciação entre os concorrentes e posicionamento de destaque, buscando resultados,  conferia se a sensibilidade de Ricardo mostrava mesmo o norte magnético ou precisava de ajustes. 


  Esta é a parte pesada do trabalho e não tem aquele charme das grandes ousadias individuais, mas sabemos que por trás de qualquer Aquiles há um exército disposto a dar sangue para que Tróia possa ser conquistada. 


  Evidentemente que a ousadia e a percepção em sintonia fina de Ricardo Nunes por si só formam um diferencial competitivo. Isso aliado à tecnologia de uma agência de propaganda que pensa com base em dados  exaustivamente avaliados, dificilmente pode falhar.


  David Ogilvy, o eterno guru dos publicitários com mais de 35 anos, era também um emérito frasista. Uma de suas sentenças mais memoráveis diz o seguinte: "Certas agências usam a pesquisa pela mesma razão que um bêbado se agarra a um poste; não pela luz que ele fornece, mas pelo apoio que ele significa."


 Na chegada da Ricardo Eletro a Salvador, está claro que a agência fugiu completamente da colocação ogilvyana e usou toda a luz possível para posicionar em pouco tempo a sua marca na frente do palco. Isso tudo a mim foi contado por Euler Brandão, sócio-diretor de planejamento da agência que atende a Ricardo Eletro, mostrando-me que um Ricardo só não faz verão.


Sabemos disso, Euler. Também trabalho com planejamento e sei que a nossa missão é entrar em campo antes do time, dos juízes e da torcida para checar o gramado, as redes, a bola, a direção do vento, o placar eletrônico e sair logo que o espetáculo começa, olhando de longe se tudo está dando certo, escutando os aplausos da galera e -com a vitória garantida antes que o jogo termine- correr para outro estádio, para checar o gramado, as redes, a bola...


Por isso sabemos hoje quem foi Cristo, os nomes do romano que o condenou, do morro onde foi executado e até do soldado que usou uma lança para confirmar sua morte. Mas não fazemos a menor idéia de quem teve o cuidado e a inteligência de registrar para sempre o dia em que tudo aquilo aconteceu.