Cultura

RADIALISTA BRIGA COM BISPO E PT EM SERRINHA, COMENTA TASSO FRANCO

Veja
| 10/11/2008 às 08:11
Tela de Salvador Dalí sobre a "Guerra Santa" na Espanha (Foto/Ilst)
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      Ano passado escrevi um livro intitulado "A Guerra Santa entre Deus e o Diabo na Disputa Política de São Mariano x O crente Ramalho Valente", na série "Causos e Lendas da Bahia" editado pela Ojuobá, com ilustração do mestre gravurista pernambucano J. Borges, sobre um episódio que aconteceu em Serrinha, em 1972, envolvendo o uso de um meio de comunicação (rádio), para influenciar numa campanha eleitoral, assustando a população rural sob a crença de que a cidade não poderia eleger um prefeito crente, hoje, evangélico.

            Até aquela época, as campanhas em Serrinha - como em quase toda a Bahia - se davam através da propaganda realizada nos comícios, (ainda não havia carreatas porque eram poucos os veículos no interior) e a difusão das idéias dos candidatos acontecia através dos serviços de alto-falantes, panfletos, cordéis e outros. No final da década de 1960/início dos anos 1970, o grupo político do então deputado estadual Plínio Carneiro da Silva conseguiu uma concessão de rádio com o governador Luis Viana Filho e instalou a Rádio Difusora na localidade.

            Na eleição de 1972, candidataram-se a prefeito Mariano Santana, um servidor público vinculado a Plínio, e um farmacêutico prático, Ramalho Ramos, como adversário, ligado a Carlos de Freitas Mota, ex-prefeito local e pessoa de grande prestígio no município. Plínio, temendo pela derrota de Mariano e controlando o novo veículo de comunicação, passou a incentivar um noticiário através dos seus locutores, dando conta de que Ramalho era crente e fecharia as capelas nos povoados, acabaria com as aulas do Mobral e com o Carnaval e assim por diante.

            Para tanto, contava com o apoio de setores da Igreja Católica, através do padre visitador Aldo Giazon, enquanto Ramalho tinha o apoio do padre titular da Paróquia, Demócrito Mendes de Barros. O assunto foi ao palanque, chegou às ruas e o povo ligado a Plínio/Mariano passou a espalhar que Ramalho era o candidato do Diabo; enquanto Mariano o candidato de Deus.

            Por conta dessa escaramuça, o padre titular foi ao arcebispo de Feira e pediu a cabeça do seu auxiliar. O arcebispo, vendo que a briga era feia porque já estava circulando na imprensa de Salvador, lavou as mãos e resolveu aposentar o padre titular e transferir o padre auxiliar para outro município, nomeando um novo pároco para Serrinha, deixando que a briga prosseguisse somente no campo político.

            Mariano venceu as eleições e a arquidiocese mandou o padre Vivaldino para comandar a paróquia. A cidade voltou à paz, Ramalho retornou ao balcão de sua farmácia e a vida seguiu em frente. Quis o destino que, o novo padre, se apaixonasse por uma sobrinha do deputado Plínio Carneiro, deixando a batina e casando-se com a moça, obrigando, assim, a igreja nomear um outro vigário, desta feita, o padre Lucas di Nuzi, de origem italiana.

            O tempo passou, o padre Lucas se envolveu com a adoção de crianças para a Itália e a Igreja, já agora na década de 2000, concedeu a Serrinha à condição de Diocese, nomeando o bispo Otorino Assolari, outro italiano, para a localidade. Veio então a última campanha eleitoral, na disputa entre a prefeita Tânia Lomes (PSDB), filha do ex-prefeito Carlos Mota, aquele que apoiou o crente, e o candidato do PT,. Osni Cardoso.

            Tânia imaginou que tivesse apoio da Igreja, até porque, a Prefeitura apoiou todos os movimentos da Diocese. Mas, diz-se que a Igreja fechou com o PT. O resultado é que Osni venceu as eleições e o marido de Tânia, o empresário e dono de rádios Antonio Lomes, proprietário de duas emissoras na cidade, foi ao ar e sentou a marreta no bispo dizendo que ele tinha comportamentos sexuais estranhos e que até o teto da catedral, com telhas vermelhas, tinha sido financiado pelo PT.

             Na última semana, o PT e as organizações comunitárias da Igreja realizaram uma passeata na cidade, de desagravo ao bispo, condenando a atitude de Lomes. Estabeleceu-se, assim, após 36 anos da "Guerra Santa Ramalho x Mariano", envolvendo dois padres, uma nova "guerra", desta feita envolvendo um bispo, o PT e uma prefeita do PSDB.

            Essa é a Bahia fantástica. Ou melhor, a Província da Bahia, onde ministro de Estado, prefeito da capital, secretários de estado e do município comparecem a um porto para acompanhar a chegada de 12 vagões de uma composição do metrô, equipamentos que ficarão estocados sob a guarda de Deus por mais 14 meses. Então, que ninguém duvide da briga do bispo com o radialista na terra de Dias Gomes.