Cultura

GALERIA PAULO DARZÉ COM MOSTRA DE ARTUR LESCHER A PARTIR DESTA QUINTA

De 16 de outubro a 16 de novembro
| 14/10/2008 às 09:01
Obra de Artur Lescher, um dos artistas contemporâneos em evidência (F/Arq)
Foto:

Artur Lescher é a nova mostra da Paulo Darzé Galeria de Arte, a partir do dia 16 de outubro, com temporada até 16 de novembro.


Com uma produção onde utiliza materiais diversos, nesta exposição feita especialmente para a Bahia, serão 12 peças feitas em madeira, latão e cobre, Artur Lescher apresenta um trabalho que dialoga com o ambiente arquitetônico, e que se instala "como provocações à percepção, à subjetividade, à compreensão e à apreensão da arte e suas tensões", gerando uma poética do espaço.


Artur Lescher é escultor, nasceu na cidade de São Paulo, onde reside, em 1962, e este ano realizou individuais na Alejandra von Hartz Gallery, Miami; Blanca Soto Arte, Madri; Galeria Mariana Moura, Recife.

Sua obra integra as seguintes coleções públicas: Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, SP; Instituto Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ; Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, SP; Biblioteca Luis Angel Arango, Bogotá, Colômbia; Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ; Museu de Arte Contemporânea - MAC, São Paulo, SP; Centro Cultural São Paulo, São Paulo, SP; Instituto Cultural Itaú, São Paulo, SP. A editora Cosac & Naify publicou em 2002 o livro Artur Lescher, com textos de Aracy Amaral, Rafael Vogt e Arthur Nestrovski.


Com o foco na criação e produção de seus trabalhos, uma arte que vive através de seus materiais, suas formas e suas propostas, é com Artur Lescher a conversa via e-mail do Informativo de outubro da Paulo Darzé Galeria de Arte.


1) O primeiro instante da relação de espectador com sua obra é o diálogo que as suas formas empreendem com o espaço da mostra. Qual a importância do espaço da galeria para a construção das obras, ou realização da mostra?


A relação das obras com o espaço sempre é uma questão. Também considero os aspectos simbólicos, os significados que se agregam na construção de um espaço e a relação que se estabelece com a vivência do espectador.


2) Ou a criação dela independe de onde será exibida?


Nos primeiros trabalhos, acredito que essa "dependência" podia ser mais claramente identificada. Cheguei, inclusive, a propor mostras declaradamente relacionadas aos locais expositivos. Com o tempo, surgiram trabalhos que, apesar de ter uma raiz nessas arquiteturas, acabaram se libertando e ganhando mais independência e adaptabilidade.


Na exposição de 2002 da Galeria Nara Roesler, o pensamento sobre o espaço foi uma das premissas do trabalho. Nesse caso, a proposta era conceber um "novo" espaço dentro da configuração regular da arquitetura da galeria. Seria um lugar inventado para a mostra - uma arquitetura dentro da arquitetura. Nela, as obras e os espectadores estariam mergulhados em um novo mesmo plano, deliberadamente inventado.


3) Nesta relação formas e espaço temos peças que se desdobram umas na outras, ou em outras. A mostra da Paulo Darzé Galeria também seguirá este caminho?


Para essa exposição, desenvolvi formas que carregam em si idéias de espaço e de construção de espaços. São peças articuláveis que se assemelham a réguas que se dobram e se desdobram, produzindo um número infindável de desenhos. É da natureza dessas peças estabelecer uma conversa com os espaços.


4) Vendo o rigor que elas são planejadas e executadas, como é feita a escolha dos materiais para a execução de suas obras?


A escolha dos materiais é fundamental. Cada um deles traz consigo uma gama de informações e, das relações que se estabelecem entre eles, surgem novos aspectos de suas "personalidades". É através dessa gramática que posso evidenciar as potências e forças desses materiais e, assim, de um certo modo, gerar imagens poéticas.


5) A obra realizada tem uma transfiguração dos materiais em objetos tridimensionais. Como você estabelece esta conversa entre materiais e formas?


Parto sempre de uma observação sobre os materiais. Muitas vezes, proponho um tipo de conversa entre alguns deles. A forma quase sempre é uma conseqüência do processo. Não existe a busca por uma forma ou um desenho a priori.


6) A obra pronta, como sente o que resta de memória do material na obra realizada?


Venho de uma escola que acredita na verdade dos materiais, então essa memória é muito presente em minha produção. Porém, ao longo do tempo, aprendi que os materiais carregam consigo mais informações do que as que percebemos em um primeiro momento. Posso afirmar, por exemplo, que o mercúrio carrega em si toda a personalidade do deus grego Hermes: o caráter especulativo e paradoxal, a velocidade mental, a dualidade entre os estados da matéria etc.
Quando proponho um encontro entre materiais, é estabelecida uma conversa que pode acontecer de forma mais natural ou mais conflitante. É nesse momento que elas se deixam ver de fato e que falam sobre si, como na poesia: o encontro de duas palavras pode fazer surgir uma imagem.


7) Há na obra pronta, a matéria agora em
forma, o objetivo principal de rompimento da coerência figurativa?


Não. Algumas peças até podem romper com essa coerência, mas não é o objetivo principal.


8) Este rompimento é que leva as peças a se desdobrarem umas nas outras, ou em outras?


Não.


9) Estas formas, no seu desdobramento, acabam tendo uma serialização que ao mesmo tempo em que identificamos algo de unidade, temos uma diversidade. Este ótico, ou onírico, de seu trabalho seria como dizer: "vejam o outro lado de todas as coisas?"


Não reconheço no meu trabalho uma tendência à "serialização". Os trabalhos também não têm nenhuma pretensão de conduzir o espectador a uma mensagem específica.


10) Sua obra é vista pela crítica como "uma poética do espaço e beleza das formas, que o aproxima do design, da arquitetura e da pesquisa com materiais com quem elabora os seus projetos". Como sente ou reage a esta afirmação?


É, de fato, uma visão. Porém existem outras.


É sempre possível "ler" um trabalho a partir de diferentes prismas, mas essas leituras sempre serão, necessariamente, parciais, e não esgotariam as possibilidades de entendimento da obra.


Respondendo à questão mais objetivamente, o trecho citado comenta aspectos pertinentes aos meus trabalhos, mas não centrais, já que minha maior preocupação é a forma como esses aspectos aparecem e porque aparecem. Existe um sentido estratégico nessas "aparências".


Acredito que é possível perceber, por exemplo, que a forma que aflora de algumas obras é produto de inúmeros desencontros e paradoxos que estão camuflados por uma idéia de beleza. Porém esses aspectos de bom-acabamento e beleza são, na verdade, parte de um recurso retórico, que tem por objetivo servir de convite para uma primeira aproximação do espectador.

11) Diante de seu trabalho, como espectadores, vemos uma exigência direta para visualização ou entendimento destas. Sua obra exige a presença, e mais do que isso, a interação do público diante dela? É fundamental este encontro físico? Para melhor entendimento: sua obra em livro, em foto, perde este contato, e isto acarreta uma perda, tanto da arte da obra como do espectador. Você vê as coisas esta maneira, com esta importância, que estou dando aqui?


Qualquer obra, até mesmo uma pintura nos moldes clássicos, sofre com esse "processamento": perdem-se várias camadas de interação e informação. Por outro lado, um livro sobre um artista oferece outros tipos de informação que agregam interesse ao material reproduzido e, em certa medida, o atualizam. Textos e boas edições de imagens podem organizar para leitor uma espécie de roteiro, que permitirá uma viagem pela produção apresentada. Isso tudo pode também ser muito rico.


12) Alguns críticos o vêem como herdeiro dos concretos dos anos 50, de uma vertente de arte eminentemente urbana, enfim, um artista que dá continuidade e ultrapassa com sua invenção e rigor esta história da arte. Como sente esta afirmativa? Aceitando-a ou não, ela existe, como se vê sendo um artista com uma dimensão própria na arte contemporânea brasileira?


Para ser bem franco, nunca pensei desse modo. Sinto-me bem quando percebo que dialogo, mesmo quando não intencionalmente, com alguns artistas. Isso me dá uma sensação de não estar falando sozinho.


13) Apesar de sua obra estar na Bahia, através da Paulo Darzé Galeria, esta é a primeira individual que realiza aqui. O que pensou e elaborou para a mostra? Quantas peças? O que será que pode antecipar sobre a montagem desta exposição?


Estou trazendo uma produção nova e inédita para a mostra. O título, Metaméricos, diz respeito a um tipo de construção geométrica, própria de estruturas orgânicas, a partir das quais a constituição dos corpos se dá pela repetição de módulos. Serão 12 peças feitas em madeira, latão e cobre, distribuídas pela galeria.