Cultura

QUEBRA DO SIGILO DA FONTE É AMEAÇA A LIBERDADE DE IMPRENSA

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| 25/09/2008 às 21:09
  A quebra do sigilo da fonte de informação é a maior ameaça à liberdade de imprensa no Brasil nos dias de hoje. A opinião é compartilhada por acadêmicos, juristas e intelectuais, em seminário na Academia Brasileira de Letras (ABL) na noite desta quinta-feira (25), no Centro do Rio.

  A proposta do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que defende o fim do sigilo da fonte nos casos que envolvam grampos telefônicos foi a mais criticada.

  "A opinião do ministro (Jobim) se levada a efeito contraria a Constituição - artigo 5º, inciso XIV -, que garante o sigilo da fonte. Essa idéia de flexibilizar a garantia do sigilo da fonte prejudicaria a liberdade de informar", disse o ex-ministro da Justiça e do Supremo Tribunal Federal, Célio Borja. 


Austragésilo, redator
da declaração universal


O seminário teve o título "Brasil, brasis - Liberdade de expressão: base da democracia" e a data escolhida foi uma homenagem aos 110 anos de nascimento do imortal Austragésilo de Athayde, o único brasileiro a participar da redação da Declaração dos Direitos Humanos. O falecido presidente da ABL atuou exatamente no artigo que trata da liberdade de imprensa.

"A idéia de terminar com o sigilo da fonte põe em risco uma das maiores conquistas do jornalismo e da liberdade de expressão. Mexer no sigilo da fonte é o mesmo que mexer num vespero e num dos princípios mais sagrados da liberdade de imprensa", disse o professor Arnaldo Niskier, acadêmico da ABL e também coordenador do seminário, que acrescentou: 

"A Lei de Imprensa é absurdo porque foi feita em 1967, período de obscurantismo e expressa uma realidade que hoje, no Brasil, é completamente outra", afirmou Niskier.

Participaram também do seminário o jornalista Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobras; o professor de Jornalismo e escritor José Marques de Melo, a cientista política Lúcia Hippolito e o jurista Sérgio Bermudes.


Todos os criticaram a proposta de flexibilização do sigilo da fonte, que obrigaria, se aprovada, o jornalista a revelar a fonte de informação. Eles acreditam que o cerceamento da informação prejudica a liberdade de expressão.


Liberdade de expressão


José Marques Melo disse que "o controle da informação é parte da fisionomia do país". Ele ressaltou o número reduzido de leitores de livros e jornais no Brasil e afirmou que a liberdade de expressão, aqui, é um privilégio das elites.


Para Lúcia Hipólito, que viveu os anos de ditadura no país, a democracia é um processo, nunca está pronta e, por isso, precisaria de uma adesão diária, de toda a população: "Todo santo dia exsite ameaça à liberdade de expressão. E qualquer coisa que lembre, vagamente, a censura e o cerceamento do pensamento, vai me encontrar nas trincheiras, do outro lado, e tenho certeza que a minha geração também", afirmou.


Num discurso contundente, Sérgio Bermudes falou sobre os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ele disse que a fonte seria a alma do jornalismo: "O sigilo da fonte é consagrado, não se pode conceber a  liberdade de imprensa sem ele".


O presidente da ABL e coordenador da mesa de palestrantes, Cícero Sandroni, encerrou o seminário: "A liberdade de expressão é direito fundamental para o exercício pleno da democracia. Tudo o que ameaça a capacidade do homem de se expressar livremente é danoso para o sistema".