Cultura

40 ANOS DA PRIMAVERA DE PRAGA E A ALEMANHA ORIENTAL NO PELOURINHO

Tasso Franco é editor chefe deste site
| 21/08/2008 às 10:26
Nesta quinta-feira, 21, registra-se 40 anos em que as tropas do Pacto de Varsóvia - 500.000 soldados provenientes da Polônia, Bulgária, Hungria, RDA e União Soviética - avançaram contra a Tchecoslováquia decretando o que historiadores consideram a morte da alma do comunismo no Continente Europeu. O fim definitivo ocorreu em 9 de novembro de 1989, com a queda do Muro de Berlim erguido em 1961 para separar os dois mundos. Neste momento, fecharam a tampa do caixão do comunismo.



A partir daí e da Perestoika de Mikhail Gorbachev iniciou-se a unificação das duas Alemanhas, concretizou-se o fim do modelo comunista da União Soviética com a independência das Repúblicas satélites do Báltico - Estônia, Letônia e Lituânia - e das mudanças internas no país, a ascensão de Boris Ieltsin e Vladimir Putim, e a volta à Rússia com países independentes em seu entorno - Ucrânia, Croácia, Bielo Rússia, Turquistão, Arzeibaijão, etc - com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 31 de dezembro de 1991.



De todos esses momentos (ainda hoje a Rússia está em guerra contra a Croácia para controlar acessos estratégicos na Ossétia no Sul, a rota do gás e do petróleo entre o Mar Negro e a Europa) o mais emblemático para os jovens brasileiros da geração dos anos 1960, que sonhavam com um Brasil socialista e/ou comunista, foi a invasão da Tchecoslováquia, a dramática Primavera de Praga exposta ao mundo (mesmo o Brasil sob censura à imprensa pela ditadura militar de 1964) com os tanques ocupando as praças e locais estratégicos da capital Tcheca.



Um choque porque os jovens exigiam na Europa (França, maio de 1968) e no Brasil (Ato Institucional 1, dezembro de 1969) liberdade, livre pensar, trabalho, iniciativa do primeiro emprego e viam-se sob a mira de tanques e baionetas, tanto em Praga quanto no Rio de Janeiro e São Paulo. Ou seja, tanto as tropas de Andropov; quanto às de Médici eram iguais. Mas, ainda assim, a chamada "esquerda" brasileira achava que não. E tome viva ao comunismo e as cartilhas e livros de Marx e Lenine.



A invasão na Tchecoslováquia deparou-se com resistência passiva nas diversas manifestações de rua, sobretudo em Praga, os tanques e o PC sepultaram o programa de Ação (reformista) de Alexander Dubcek, mas, foi a partir deste episódio que europeus das duas metades do continente começaram a dar às costas à política ideológica, transferida para o Terceiro Mundo - Brasil, Cuba, Nicarágua, Argentina, Chile e outros subdesenvolvidos - persistindo esse ranço até os dias atuais, a exceção do Chile, país que embora sob o regime socialista está fora dessa diplomacia terceiro-mundista. A Colômbia também dá sinais de que deseja avançar.



A Primavera de Praga com seus tanques apontados para jovens em protesto nas ruas da capital e com manifestações que se espalharam pela Hungria, Bulgária, Iugoslávia, República da Alemanha Oriental, etc, causou um enorme estrago no modelo comunista, de resto, atolado no atraso em suas iniciativas nas áreas econômica e social, com vizinhos ao seu lado mais prósperos e meios de comunicação (TV e emissoras de rádio), irradiando novos conceitos e modelos de vida globais para o Continente Europeu e parte da Ásia.



O que causa espécie, hoje, passados 40 anos da Primavera de Praga (estamos falando de uma invasão com 500.000 homens, Operação Danúbio comandada pelo ministro da Defesa da URSS, Andrei Grechko, e não da Guerra da Independência da Bahia com seu Exército Pacificador de 3.00 homens), 19 anos da queda do muro de Berlim e 17 anos do fim da URSS, é que alguns candidatos a vereadores e de blocos de candidatos a prefeito em Salvador e na Bahia se apresentam defendendo o modelo comunista.



Ou a própria Rússia (hoje mais capitalista do que nunca) e a Europa estão equivocadas (até a Espanha já encara um governo social-democrata desde a morte do generalíssimo Franco), ou o Terceiro Mundo ainda vive na órbita da lua. O presidente Hugo Chavez, da Venezuela, criou até um modelo próprio de socialismo. A Argentina está no buraco. E, o Brasil, com essa proposta de se criar uma nova lei do petróleo, a estatal do Pré-Sal dá sinais de retrocesso, até mesmo levando-se em consideração o papel que vem sendo desempenhado há décadas por sua estatal mãe, a Petrobrás.



Na Bahia os comunistas estão com candidatos lançados a vereadores em centenas de municípios (inclusive Salvador e sua Região Metropolitana) e disputam prefeituras com cabeças de chapa em mais de cinco dezenas. É provável que elejam alguns deles para os legislativos e 4 ou 5 para os executivos. Nada contra os comunistas, pessoalmente, mas, este modelo morreu faz tempo aqui e no resto do mundo.



A Alemanha unificada custou para a anexação das länders orientais mais de 1 trilhão de euros em repasses e subsídios, entre 1991 e 2004. Porém, até os dias atuais, a região oriental da Alemanha continua atrás dos padrões europeus, devido o baixo poder aquisitivo, evasão de trabalhadores qualificados e educação deficiente. Fala-se, em Salvador, com certo entusiasmo recente, em anexar a pobreza ao Pelourinho, no modelo cidadão residente/atividade econômica/turismo.



Podem anotar aí: vai ser a Alemanha Oriental do governo.