Cultura

ZÉDEJESUSBARRÊTO COMENTA AS MUDANÇAS NO SÃO JOÃO DO CARNEIRINHO

É o fim do mundo chegando. ZédejesusBarrêto é jornalista
| 26/06/2008 às 15:01

  Acabaram-se os foguetes de flecha, as cobrinhas, os traques, os balões caseiros, milho assado...  essas bobagens de outrora. O negócio hoje é bomba de cem, daquelas de espocar os tímpanos; fogos de pipoco e assovio, daqueles que fazem os cães e gatos domésticos se esconder debaixo da cama e assustam as pessoas mais velhas; o negócio é tocar espada pra cima de quem passa, fazer guerra, queimar crianças, moços e moças, mostrar as brocas de queimaduras na pele feito troféus, exibir a quantia de sapecados e/ou mortos em conseqüência das batalhas de fogos, com orgulho. 

    
    Quanto do dinheiro público é gasto por ano para atendimento às vítimas de  queimaduras não se sabe.  Mas, bobagem, isso faz parte dos festejos (?) de São João.


    São João que é cada dia menos arrasta-pé, quase não se vê zabumba, triângulo e sanfona gemendo. Dizem que o povo quer (?) é ‘forró temperado'. Será?  Ou é a força das gravadoras, das produtoras urbanas impondo novos padrões sertão a fora, na tora?  O Forró do Bosque, do Chiclete com Banana, praticamente acabou com o tradicional e familiar Soa João de Cruz das Almas. E tome-lhe daniela, daniel, margareth, zelito, calypso, aviões, calcinhas, rala theca, cuecas... bundas à mostra, pernas arreganhadas para o ar, danças acrobáticas sobre  os grandes palcos armados nas praças, trios elétricos em abundância ... ai, meu São João do carneirinho!


  E tome-lhe bebedeira! É  beber, cair e levantar, diz a música, no gogó da turma do goró.  Licor virou garapa, vamos tomar quentão, misturar com cerveja, alguns aditivos químicos e botar fogo na fogueira! 

  Na ex-pacata cidadezinha do interior, vê-se roubos, facadas, porrada, olho pocado pelas ruas, armas à vista, jovens de bermudões sem camisa zoando pelas praças e bodegas do interior, de grupo, a fim de confusão... 


   E as portas das casas de família que antes se abriam, oferecendo mesa farta de amedoim, licor, canjica, milho verde cozido e assado na brasa da fogueira, e bolos variados  para quem passasse na rua , ah, todas fechando portas e janelas, cada dia mais, com medo da turba sem educação, das bombas desrespeitosas, das espadas invasoras.   

   
  Alguém está se dando conta dessas mudanças de comportamento tão abruptas? São  descaracterizações muitas vezes  programadas com o dinheiro público!

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 E as estradas ! Engarrafamentos brutais, de horas seguidas sem avançar dois quilômetros, na ida e na volta. E acidentes estúpidos por imprudência, ‘espertezas ao volante', cachaçada dentro do veículo, normas básicas de  direção e trânsito infringidas em todas as rodovias e total ausência de fiscalização, de controle, de planejamento antecipado do congestionamento previsível e anunciado, cada ano...


 Jovens, famílias inteiras morrendo esmagados nas ferragens, todos arriscando a vida pela buraqueira, falta de acostamento, pistas estreitas, ausência de sinalização e policiamento. 


Que almejamos a cada festa? Recordes sinistros?  Pelas chaves de São Pedro !

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  Mas, pra não dizer que não falei de flores, quem bom ler o artigo de Rosane neste site sobre o show de João Gilberto em Nova Iorque!  Viva a Bossa Nova! João vive!

É considerado um gênio nos EUA, no Japão, na Europa, onde todos o reverenciam.  Pelaquí, na sua terrinha, não passa de um chato!


  Somos assim, reverenciamos um rapper grosseiro e desconhecido, dos guetos norte-americanos, só porque é norte-americano, nem sabemos direito o que ele diz, e desvalorizamos os nossos gênios, reconhecidos no mundo.

  
  Os brasileiros de hoje tratam Pelé como se ele fosse um jogador de bola comum. Não era, era um semi-deus! Assim o mundo o reconhece. Os negros e os que se acham ‘politicamente corretos' cobram dele posição política.


  Pois digo, ninguém, ninguém mesmo, repito, fez mais pelos negros brasileiros do que Pelé! O Brasil deve muito a Pelé, pois só depois dele o país passou a ser localizado no mapa mundi. Pela sua arte única com a bola.  Glauber era maluco! Caymmi, quem se lembra?  Jorge Amado, ora, chega de baianidades, não é mesmo!

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Gostei de uma frase do governador Wagner, em Cachoeira: "Não haverá cadeias e policiais suficientes se não recuperarmos os valores de nossa terra!"   Hum!

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  Não posso deixar em branco!


 Duas grandes mulheres se foram: Dona Ruth Cardoso e a advogada Ronilda Noblat.  

 Duas guerreiras! Dona Ruth, professora, antropóloga, simples, sem botox, avessa aos salamaleques do poder, voltada para o social, digna, bela. Uma humanista.  


  Ronilda foi só destemor e bravura naquele início dos anos 70, os porões da ditadura cheios, as baionetas na garganta e ela impávida diante dos milicos da ‘justiça' militar, em defesa do homem, da idéias, da liberdade. Exemplos!