Cultura

CASAL FAZ SEXO DURANTE UM ANO, TODOS OS DIAS, E REVELA TUDO EM LIVRO

Veja a experiência
| 11/06/2008 às 16:12
Brad e Charla Muller contaram sua experiência em livro (Foto/Div)
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Ralph Gardner Jr.

Digamos que você e o seu ou sua cônjuge não fazem sexo há tanto tempo que nem se lembram da última vez. Nem o dia. Nem o mês. Nem mesmo em que estação do ano isso aconteceu. Você procuraria gratificação em outro lugar? Pediria o divórcio? Ou proporia ao seu parceiro: "Olha, meu bem, andei pensando. Por que a gente não transa todos os dias, pelo próximo ano inteiro?"

Foi mais ou menos o que aconteceu com Charla e Brad Muller. E, em um segundo caso de ímpeto erótico usado como forma de superar o tédio da vida de casados, Annie e Douglas Brown também decidiram adotar solução semelhante, no caso deles por 101 dias consecutivos.


Os dois casais documentam suas experiências em livros lançados neste mês, os mais recentes lançamentos naquilo que quase se tornou um gênero especializado, o dos livros de conselhos sobre casamentos onde se faz muito pouco sexo. Mas os casais envolvidos pouco têm de semelhante. Os Muller são republicanos, lêem a Bíblia e gostam de carne vermelha, e vivem em Charlotte, na Carolina do Norte. Os Brown são mochileiros macrobióticos que se moveram para Boulder, no Colorado.


DIFÍCIL EXPLICAR

O livro dos Muller, 365 Nights (365 Noites, em tradução livre), é bastante modesto e circunspecto em seus detalhes. Just Do It, dos Brown, faz com que o leitor quase se sinta parte de um ménage à trois, e informa sobre todos os recursos que eles empregaram para estimular seus desejos sexuais (é um processo difícil de visualizar, e ainda mais difícil de explicar).


Para muitos casais, "sexo no casamento" pode quase parecer uma contradição em seus próprios termos, e "sexo no casamento quando temos filhos" é ainda mais complicado - mais ou menos como provar a existência de antimatéria.


De fato, reanimar os desejos sexuais mútuos de um casal serviu para criar todo um segmento no mercado de terapia - de Alfred Kinsey à Dra. Ruth, passando por muitos livros de posições sexuais. De acordo com "American Sexual Behavior", um estudo sobre o comportamento sexual dos norte-americanos publicado em 2004 pelo Centro Nacional de Pesquisa de Opinião, da Universidade de Chicago, os casais casados costumam transar em média 66 vezes por ano. Mas esse número é distorcido pela presença de casais muito jovens, alguns formados por jovens de apenas 18 anos, cuja média de transas é de 84 ao ano.


RECORDES OLÍMPICOS

De qualquer maneira, essas estatísticas colocam os Muller e os Brown no caminho de recordes olímpicos. Que eles tenham imaginado que maratonas sexuais poderiam servir para reanimar seus casamentos talvez diga tanto sobre a inclinação norte-americana por exercícios e por definir metas a serem atingidas quanto sobre o estado do romantismo no país.


Mas os casais talvez tenham percebido algo de importante. "Existe uma forte correlação entre a freqüência das relações sexuais e a classificação de um casamento como feliz", disse Tom Smith, um dos responsáveis pelo estudo da Universidade de Chicago.


"O que não temos como dizer é qual pode ser a relação causal entre esses dois fatores. Não sabemos se as pessoas que são mais felizes em seus casamentos fazem mais sexo ou se as pessoas que fazem mais sexo são mais felizes em seus casamentos, ou se as duas coisas se combinam".


Os casais de escritores eróticos ajudam a oferecer respostas quanto a isso? Fazer sexo todas as noites os tornou mais felizes em seus casamentos e na vida?

Charla aparentemente não tinha a intenção de escrever sobre "o presente", o eufemismo que ela emprega para se referir à experiência. Ela era uma dona de casa e consultora de marketing que decidiu, em 2006, que queria dar ao seu marido um presente especial pelo seu 40º aniversário.


"Isso é algo que ninguém mais poderia dar a ele", ela disse em entrevista. "E não custava muito dinheiro. Era bastante memorável. Cumpria todos os critérios de um presente ótimo".


Brad não estava tão entusiasmado com a idéia, inicialmente, a princípio porque sua mulher costuma sempre sugerir novas idéias que termina por não realizar. Afinal, ela não havia se mostrado especialmente generosa nesse departamento depois que os dois filhos do casal nasceram. Ele começou a prestar mais atenção quando compreendeu que ela falava sério.


LIVRO

A idéia do livro surgiu por acaso. Charla almoçou com uma amiga, Betsy Thorpe, que havia sido editora no passado e se tornou colaboradora do casal no livro. Thorpe percebeu que as peripécias noturnas do casal eram um tema perfeito para a literatura (as duas amigas se reencontraram quando Thorpe se mudou para Charlotte, nove meses depois que Charla havia começado a presentear o marido todas as noites.)

Enquanto 365 Nights foi escrito da perspectiva da mulher, Just Do It é obra do marido,

Douglas Brown, 42 anos, repórter do jornal Denver Post. Mas a diferença de perspectiva entre os sexos não afeta a observação, talvez porque Doug prove ser um homem sensível, e porque a maratona sexual que ele conduziu em 2006 tenha sido idéia de sua mulher, como uma forma de pôr fim ao tédio da vida suburbana depois que eles se mudaram da costa leste para Boulder, dois anos antes da experiência.


"Eu pensei que a gente não estava mesmo fazendo nada de muito especial", disse Annie em entrevista. "E isso poderia servir para estimular nosso casamento".

Eles tentaram muitos locais diferentes para suas aventuras - uma cabana em um ashram, uma tenda mongol nas Montanhas Rochosas do Colorado e um quarto de hotel em Las Vegas, enquanto Doug cobria a convenção anual do setor de entretenimento adulto realizada na cidade. "É por isso que nós realizamos todas aquelas pequenas viagens", disse Annie. "Sabíamos que a idéia podia se tornar monótona,se não nos esforçássemos para variar".


E, se não fosse o zelo competitivo de Annie, é bem provável que o ímpeto erótico do casal tivesse arrefecido em bem menos de 100 dias. Ela chegou até a forçar o marido a fazer sexo em meio a um ataque de vertigem. "Eu nunca desisto", ela disse. "Na noite em que ele teve a vertigem, eu disse a ele que lamentava, mas que não o deixaria parar".


Doug declarou em uma entrevista que, na 101ª noite consecutiva de sexo, ele se sentia como se estivesse cumprindo um item agendado há muito tempo, uma reunião com um contador ou algo parecido.


Depois da noitada, ele disse, "nós ficamos sem fazer sexo por um mês". Os Muller, ou pelo menos Charla, encontraram algumas dificuldades por volta do 10° mês de sua empreitada. No livro, ela descreve o presente como "minha idéia idiota", e como "uma cruz que eu precisava carregar em segredo". Mas diz que mesmo assim eles só deixaram de lado o compromisso algumas noites a cada mês, a maioria das quais devido às viagens de negócios de Brad. A média atingida ficou entre as 26 e 28 noites de sexo por mês.


"O espírito do presente não tinha a ver com manter uma contagem", diz Charla. "Quando ele tinha de viajar, tentávamos compensar os dias perdidos, mas não como se isso fosse compulsório".


LADEIRA A GALGAR

Abordar o sexo como uma maratona, e uma prova na qual há uma ladeira especialmente íngreme a galgar, pode não ser a melhor idéia para todos os casamentos estagnados, disse Lois Braverman, presidente do Instituto Ackerman para a Família, acautelando casais que podem decidir imitar as experiências dos Muller e dos Brown. "Alguns casais se sentem completamente satisfeitos fazendo sexo apenas uma noite por semana, outros duas, outros duas vezes por mês", ela disse. "Não existe um número correto de vezes".


Shoshana Bulow, psicoterapeuta e sexóloga licenciada que trabalha em Manhattan, apontou que há muitas outras complicações no sexo além da questão da freqüência. "Existem motivos de toda espécie para que as pessoas percam o interesse pelo sexo e por seus parceiros - decepções pessoais, ciclos de vida, questões financeiras", ela afirmou. "Não basta fazer sexo para resolver tudo isso".


Mesmo assim, sexo todos os dias parece ter funcionado, no caso dos Muller e dos Brown. Charla Muller e Annie Brown mencionaram, separadamente, que a intimidade física compulsória parece ter criado uma maior intimidade emocional. "Isso requer uma gentileza e uma capacidade de perdoar diárias, e que as pessoas não sejam ranzinzas ou resmungonas, e acho que nenhum de nós havia experimentado algo de parecido no passado", diz Charla.


Annie conta que ela e o marido chegaram a um estágio em seu relacionamento que não conseguiram reproduzir com tanta freqüência, antes ou depois da experiência. "Estamos falando de uma proximidade intensa", disse ela. "Estávamos sempre muito conscientes sobre a presença do outro, em termos físicos, emocionais e espirituais".

Hoje, os Brown reportam que fazem sexo cerca de seis vezes por mês, o dobro da freqüência que mantinham antes da aventura conjunta. Os Muller se recusam a discutir seus hábitos, e se limitam a dizer que estão confortavelmente enquadrados à média nacional. E, diz Brad, o sexo melhorou.


"O que fizemos tornou mais fácil que nos abramos a novas idéias, sejamos mais espontâneos", ele disse. "De modo que não voltamos aos velhos hábitos de sempre manobrar para conseguir ou evitar sexo".


Charla concorda: "É muito melhor agora do que no passado. Eu posso demorar a pegar embalo, mas a lição foi realmente importante".


Douglas Brown sofre menos com as inibições que costumava ter no passado. "Eu me sinto muito menos na obrigação de desempenhar", ele diz. "Depois de 100 dias, isso simplesmente desaparece".


Mesmo assim, ele não recomenda a experiência a qualquer pessoa. "Estou feliz porque o fizemos", diz. "Mas em termos de mensagem prática, ninguém precisa fazer sexo por 100 dias consecutivos. Não é preciso escalar o Monte Everest para compreender o que o alpinismo pode ter de sublime".


Tradução: Paulo Migliacci M. E.