Cultura

CAUSO DOMINGUEIRO (47): VIAJANDO PARA NAZARÉ DAS FARI NHAS COM O DIABO

Mande um causo para o BahiaJá
| 11/05/2008 às 11:14

  Uma vez em Salvador, no cais das Palmeiras, junto à Rampa do Mercado Modelo aconteceu o seguinte:

  A primeira lancha de vela "rabo de peixe" construída no porto da Bahia, com o nome de Oyapóque, tinha um mestre muito ranzinza. Um dia, quando toda guarnição do barco se achava em terra fazendo compras para a viagem e folias disse:

  - Até agora esses mocinhos não voltam, vou deixar todos eles em terra. Nem que seja com o diabo eu viajo para Nazaré.

  Aí chegou um passageiro e pediu uma passagem.
 
  - Você sabe viajar? - perguntou o mestre.

  O passageiro respondeu que sabia. O mestre mandou largar os cabos, puxou a lancha para o quadro e começou a viajar.

   Quando a lancha saia do quadro o sino da Conceição dava a primeira badalada do meio dia. A lancha seguiu até Itaparica, Vara Cruz, Cações, Matarandiba, Santo do Catu, Caixa Prego, Jaguaripe, Maragogipinho, Manoel Giló até Nazaré.
 
   Na entrada do porto de Nazaré tem uma cruz, de forma que, quando a embarcação estava para sair do canal e atracar no porto, o passageiro deu as vistas na dita cruz e, quando reconheceu o que era, transformou-se num bicho fora do comum, saltando para dentro dos mangues e dizendo para o mestre:
 
   - Foi a cruz que lhe valeu.

  Daí o mestre, assombrado, caiu dentro do saveiro perdendo os sentidos, vindo, muito depois, outras pessoas encontrarem o saveiro perdido dentro do canal com o seu mestre desacordado.

   Depois que ele recuperou os sentidos, contou o que tinha acontecido a todos, dizendo que nunca mais havia de ser tão grosseiro e estúpido, a ponto de convidar até o Diabo para viajar com ele.

 * Extraído do livro Contos Negros da Bahia e Contos de Nagô, de Deoscoredes M. dos Santos, Mestre Didi.