Dentre todos os mentirosos que eu conheci, o mais engraçado era o Zé do farol. Esse tinha um jeito especial de inventar seus causos. Esse que eu passo a contar agora, ao contrário de todo mentiroso que começa contando vantagem, ele começou contando pra gente assim:
Zé Farol - Óia, gente. Esta que eu vou contar agora foi fogo, porque eu sempre tive muito medo de onça. E num é que justamente uma das grandes me aparecceu um dia que eu fui cacá? Pois bem: quando eu vi a marvada, carpi os pé. Larguei espingarda, larguei tudo ali mêmo e sai desembestado mata afora.
Ouvinte - e daí, Zé? Conseguiu se livrar da onça?
Zé Farol - Que nada. Pois num é que a mardita garro corrê atrais de mim feito uma doida? E lá no meio daquele mato. E a onça atrais pega num pega... tava chegando nos meu carcanhá. De repente, eu trupiquei nuns graveto e tuim, caí de boca no chão. Daí, desesperado, virei de barriga pra cima, pra móde num morrê comu covarde. A onça veio vindo... me oiando... e quando chegou pertin de mim, ponho a pata em riba do meu peito... abriu aquele bocão bem na minha cara e roncô bem arto ansim: GREEEEE (Zé imitando a onça).
Todos - (Muito interessados) - E daí, Zé? O que ôce feiz?
Zé Farol - Me borrei todo, me sujei na carça.
Ouvinte - Pois agora gostei de veê, Zé. Agora ocê provo que num mente. Pois, com uma onça dessa no meu peito, até eu borrava.Me sujava as carça também.
Zé Farol (calmo) - Não, gente. Eu tô falando que me borrei, mas foi agora que eu imitei o ronco arto da onça: GREEEEE....
Causos de Rolando Boldrin - extraído do BRASIL -Almanaque de Cultura Popular (revista da TAM).