Cultura

UBALDO VAI MOBILIZAR ALB PARA NÃO FECHAR FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO

Ubaldo diz que a Bahia sem Jorge Amado teria sido uma merda
| 09/10/2007 às 13:18
João Ubaldo Ribeiro botou a boca no trombone para não fechar Casa de Jorge Amado (F/Terra)
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   Quem tanto procura acha. O que já circulava na Bahia de conhecimento público, a implantação de um modelo diferenciado de apoio às atividades culturais, nas áreas de manutenção e produção, com a bicicleta parando para depois andar novamente, chega as manchetes nacionais, o repúdio do escritor João Ubaldo Ribeiro, diante do iminente fechamento da Fundação Casa de Jorge Amado.

   Estamos publicando matérias sobre o desmonte do Pelourinho há meses e advertindo o governo de que um novo modelo não pode desprezar o que já existe, não se pode fazer terra arrasada na Livraria do Autor Baiano, como se fez, no Theatro XVIII, idem-idem, e com a memória do maior escritor e difusor da Bahia, Jorge Amado.

   Agora, com a voz de Ubaldo sendo ouvida, nacionalmente, espera-se um realinhamento nessa política da Secult, secretaria que está gastando uma fábula de dinheiro em encontros culturais no interior para ser coroado num 'gran-finale' na capital, enquanto corta o repasse mensal de R$68 mil para a Fundação Casa de Jorge Amado, entidade que preserva cerca de 250 mil documentos do autor de "Mar morto", "Capitães da Areia", "Gabriela" e "A morte e a morte de Quincas Berro D'Água".

   Agora está em A Tarde, no Globo, no Terra, no G1, em sites do exterior, o repúdio do velho amigo e admirador de Jorge Amado, João Ubaldo, o qual, indignado, exige que o governo volte a apoiar a fundação. 

   Como os acadêmicos da Academia de Letras da Bahia são mudos, os acadêmicos da Academia Brasileira de Letras vão se mobilizar para conversar com o governador visando suspender o corte orçamentário. "A Bahia não pode passar uma vergonha dessa!", protesta João Ubaldo, que segue disposto a provocar uma reação dos baianos.


   DISSE AO TERRA
 
  - Vou esculhambar, vou continuar a bater, e chamar o povo baiano aos brios! Não nasce um Jorge Amado a toda hora! E ficam aí uns beletristas de segunda categoria fazendo críticas aos romances dele. Esquecem que Jorge Amado foi um grande romancista, lido e traduzido em todo o mundo! Ele foi um dos maiores vultos da nossa história! - brada o escritor.


  Ubaldo lembra o desempenho de Jorge Amado na Constituinte de 1946, quando foi eleito por São Paulo, pela legenda do Partido Comunista Brasileiro (PCB).


  - Na Constituinte de 46, como deputado, Jorge Amado incluiu um artigo para garantir a liberdade de culto religioso. Se não fosse por ele, o candomblé continuaria a ser humilhado. As casas dos terreiros eram invadidas! O candomblé é um símbolo. Se Jorge Amado não fosse brigar, continuaria sendo invadido e humilhado!


   "VERGONHA NA
     CARA DOS BAIANOS"


   Na Bahia, Jorge Amado, o jornalista Odorico Tavares, o compositor Dorival Caymmi, o etnólogo francês Pierre Verger e o pintor Carybé pertencem a uma geração que valorizou a cultura negra e lutou pela defesa dos terreiros de candomblé. O povo de santo, ainda hoje, presta homenagens aos "fundadores" da baianidade.


  - Não digo que, sem Jorge Amado e Caymmi, a Bahia não existiria. Existiria, sim. Agora, podia ser uma merda de cidade portuária, sem reconhecimento internacional - avalia João Ubaldo.


   - É uma vergonha, uma indignidade para a Bahia. Jorge Amado quis que seu acervo ficasse em Salvador, no Pelourinho. Recebeu uma proposta da Universidade de Harvard, mas não quis! Jorge queria ver seu acervo junto ao povo que ele amava. Ele defendeu a Bahia até a morte, não pode ser desrespeitado. Para o Brasil, Jorge Amado é um símbolo. É um ícone, um Pelé. É lido em 52 países! O povo baiano precisa tomar vergonha na cara. Não vou bancar o porreta, mas eu já tomei.