Cultura

CAUSO DOMINGUEIRO (XVI): PADRE AMÍLCAR E MILITARES VESTIDOS DE MULHER

O livro é de autoria de Fernando Ramos
| 07/10/2007 às 07:19
  Padre Amílcar esteve pela primeira vez na delegacia.

  Falou com determinação, autoconfiança, como falava do púlpito. Com palavras menos complicadas o delegado entendia.

  Estacionou, primeiramente, em determinados assuntos, sem velocidade na voz. Não hesitou em declarar-se adepto das normalistas bem educadas e de azul e branco, da cidade na primavera.

  Conhecedor em parte das plantas e flores, vasculhou nomes nunca ouvidos pelo delegado, esperava muito da democracia. Ela viria como uma menina de olhar oblíquo e boca de trevo, pisando bem.

  O delegado, para puxar o saco, soltou que o padre não falava encaracolado, seus sermões eram pudins de caramelos.

  Mas o pároco não estava ali para pôr a cidade como alcatifa. Já que atinara com alguns meninos e rapazes comandados pelo desenhista Danton Araújo, filho de Miguel Santeiro, sobre a estratégia de presilhar um endemonhado, pô-lo na gaveta, queria combinar com o delegado outro meio de a polícia colaborar.

  Como? - quis saber a autoridade.

  Visto que a urbe é pequena, econômica, e, delitos os quatro soldados e o cabo Maia poderiam dar sua contribuição, naquela noite, desenvolvendo malícia.

  Tomando café, o padre sem apressar a voz, sem intermeter política e trechos bíblicos, anunciara-lhe a idéia, pedindo permissão ao delegado: os militares se vestiriam de mulheres, usando sapato baixo e peruca, sem que os sapatos atritassem com os paralelepípedos da rua, a fim de exumar o incômodo.

  O cabo riu: "Vão nos cantar"!
  
  "Você é simpático" - brincou o padre.


* Round 48, do livro O Lobisomem de Feira de Santana, de Fernando Ramos.