O livro é de autoria de Fernando Ramos
Padre Amílcar esteve pela primeira vez na delegacia.
Falou com determinação, autoconfiança, como falava do púlpito. Com palavras menos complicadas o delegado entendia.
Estacionou, primeiramente, em determinados assuntos, sem velocidade na voz. Não hesitou em declarar-se adepto das normalistas bem educadas e de azul e branco, da cidade na primavera.
Conhecedor em parte das plantas e flores, vasculhou nomes nunca ouvidos pelo delegado, esperava muito da democracia. Ela viria como uma menina de olhar oblíquo e boca de trevo, pisando bem.
O delegado, para puxar o saco, soltou que o padre não falava encaracolado, seus sermões eram pudins de caramelos.
Mas o pároco não estava ali para pôr a cidade como alcatifa. Já que atinara com alguns meninos e rapazes comandados pelo desenhista Danton Araújo, filho de Miguel Santeiro, sobre a estratégia de presilhar um endemonhado, pô-lo na gaveta, queria combinar com o delegado outro meio de a polícia colaborar.
Como? - quis saber a autoridade.
Visto que a urbe é pequena, econômica, e, delitos os quatro soldados e o cabo Maia poderiam dar sua contribuição, naquela noite, desenvolvendo malícia.
Tomando café, o padre sem apressar a voz, sem intermeter política e trechos bíblicos, anunciara-lhe a idéia, pedindo permissão ao delegado: os militares se vestiriam de mulheres, usando sapato baixo e peruca, sem que os sapatos atritassem com os paralelepípedos da rua, a fim de exumar o incômodo.
O cabo riu: "Vão nos cantar"!
"Você é simpático" - brincou o padre.
* Round 48, do livro O Lobisomem de Feira de Santana, de Fernando Ramos.