A disputa pela conta governo de publicidade da atual administração no Estado (Jaques Wagner/PT) está sendo definida ainda esta semana, depois dos pedidos de revisões feitos pela Engenho Novo e a Rocha Market.
Enquanto isso, nos bastidores, o que se fala são coisas até impublicáveis. Mas, como a carta de Fernando Passos foi aberta e já está na web, veja-a na íntegra.
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA ABAP
Meu caro Sidônio,
Nesses últimos dias e até meses, o meu nome e o da Engenhonovo têm sido alvo de matérias e notas de jornal nos colocando suspeitamente como agência do governo passado, numa clara tentativa de desconstruir uma relação histórica da Engenhonovo com a esquerda na Bahia. Tenho sido acusado também, de estar por trás de todas as denúncias contra a recente licitação da propaganda do Governo da Bahia.
Longe de uma atitude de defesa, o momento merece uma reafirmação do nosso comportamento, meu e de Sarno, nesses trinta anos de atividade profissional.
Tanto eu quanto Sarno temos uma história bonita na luta pela conquista das liberdades democrática em nosso país.
Na década de sessenta, eu, como presidente do Diretório Acadêmico de Arquitetura, desenvolvi uma luta contra a exclusão e pela abertura da faculdade para novos vestibulandos. Sarno foi responsável, em 67, pelo movimento que colocou os secundarista nas ruas de Salvador ao montar uma peça crítica no Central, que questionava um poder absolutista naquele colégio. Como representante dos universitários, eu lutei contra a reforma universitária que estava sendo proposta pelo governo da ditadura em conluio com a USAID, o que me valeu a cassação dos meus direitos estudantis e políticos por cinco anos.
Nesse período, além de preso, vivi na clandestinidade em diversos estados do Brasil, me negando a assumir o exílio. Sarno, por seu lado, foi preso e torturado e passou três anos nos cárceres da ditadura.
Quando voltei, em 74, passei a desenvolver paralelamente à minha atividade profissional nas agências Unigrafe, Publivendas e DM9, trabalhos de comunicação para a esquerda baiana na luta pela redemocratização, nas lutas sindicais e nas campanhas eleitorais que começavam a acontecer.
Quando montei a Engenhonovo, em 81, e logo depois Sarno veio a se juntar a mim, redobramos esforços nos trabalhos junto à esquerda.
Campanhas para o saudoso Rômulo Almeida ao Governo do Estado, campanhas de Leonelli, Paulo Fábio, Emiliano, Schmidt, Zezéu, Luiz Humberto e tantos outros candidatos daquela época.
Sarno se envolveu de corpo e alma na campanha de Waldir Pires para governador, se caracterizando muito mais como uma militância do que um investimento empresarial.
A campanha de Lídice, Salete e Bete foi criada, produzida e financiada pela Engenhonovo. Colbert Martins, Artur Maia, Maria Del Carmen, Neuza e tantos outros candidatos que fizeram oposição ao carlismo na Bahia deram à Engenhonovo o conceito de agência de esquerda.
De lá para cá, nesses 26 anos de Engenhonovo, conseguimos manter uma imagem de profissionais éticos e combativos - Como presidente da Abap e do Sindicato, cheguei a arriscar por diversas ocasiões minha presença no mercado ao enfrentar o poderio do Jornal A Tarde e da Rede Bahia na conquista do respeito de nossa atividade. Fui duro na aplicação das regras da boa convivência ética em nosso mercado, e joguei pesado com a direção da Abap Nacional, pouco preocupado se isso me afastaria da conquista de futuras parcerias e alinhamentos. As minhas inconveniências nos custaram o título de ser uma das poucas agências que nunca fez nenhum trabalho para o Grupo Bahia. Mas, se não tenho o Festival de Verão, tenho pelo menos há cinco anos o título de Agência Amiga da Criança da Fundação Abrinq.
Ainda assim, trabalhei, sim, para os governos de Antônio Carlos e depois Paulo Souto. Fui levado por Paolo Marconi, que confiava em mim e tinha sérias desconfianças de agências de propaganda. Nesses governos, fui reconhecido pelo trabalho ligado ao rádio, mas nunca exerci qualquer tarefa de pensamento estratégico e informações privilegiadas. Foram atividades pequenas e técnicas, unicamente.
Quando Wagner definiu sua candidatura, houve por parte de muitos correligionários do PT um movimento pra levar Sarno para auxiliá-lo na sua candidatura. O que não aconteceu. De lá pra cá, só torcemos, votamos, fizemos nossas campanhas particulares.
Ajudei o quanto pude para construir sua sucessão na Abap de forma uníssona; assumi a tarefa de organização do Fórum sem pretender fazer dele um trampolim. O resultado da licitação me doeu muito, mas não uma dor que me fizesse destruir toda essa minha história, usando subterfúgios rasteiros de cartas anônimas e notinhas em jornal. Uma conta publicitária, seja ela qual for, é temporária; a vida e a história são eternas.
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