Retirado do livro Segredos da Infância - de Augusto Meyer
O causo domingueiro deste domingo vem do Rio Grande do Sul, extraido do livro Segredos da Infância - No Tempo da Flor, de Augusto Meyer.
Meyer descreve sobre a Praça da Matriz que também é conhecida (ou foi) como Praça do Palácio, Dom Pedro II e Marechal Deodoro, conforme os governantes de plantão.
Do alto da praça - diz o autor - divisa-se ao longe o verdadeiro Guaíba. E eu me punha a olhar, a comparar, a repetir aqueles nomes evocativos: Gravataí, rio dos gravatás; Caí, o rio da mata; Taquari, rio das taquaras; Jacuí, rio dos jacus; o rio dos Sinos.
No decorrer da pena vai lembrando amigos da velha boemia gaúcha, o Lousadinha, o Orsolino Martins, o caricaturista do Pau Bate, Otaviano Oliveira, diretor do jornal O Independente e Homero Medeiros, sobrinho de Borges de Medeiros.
Sobre Homero (nosso causo domingueiro) gozava de prestígio admirável entre os camaradas. Mas numa terra em que os netos de estátua logo tratam de aproveitar o nome e o dregau do munumento para subir depressa (que bela expressão), nunca ví ninguém menos cheio de vento e grandeza.
Era um sonhador da Brocelianda, um namorado de todas as quimeras. Dava gosto de acompanhar as galopeadas de Homero pelos campos da fantaia, como contrapeso e tanto espertalhão bem aproveitante.
Deixo aqui, recopiado com tristeza, um velho retaço de poema, que me soprou certa vez de ouvido o seu anjo da guarda inconsolável, que era um anjo boêmio:
Eu bebo a Homero Medeiros
Na Bela Gaúcha. A Homero,
O boêmio, o puro, o sincero
Dos claros olhos fouveiros,
Este brinde a seco...Espero
Que não lhe falta fuzarca
Canha e bitter de tempero,
Caronte, na tua barca
Rema, rema devagar
Deixa a balsa derivar
Não faz a onda, seu Caronte!
E, na falta da fuzarca,
Dá-lhe pinga de outra marca:
Um trago de Flegetonte...
Puro sorvete de brasa,
Água do inferno, que arrasa,
Mas põe n'alma um desafogo...
Venha de lá, Dom Homero
Desta sim, também eu quero:
É quintessência de fogo!