O cavalo é pra amontá, ou pra assoviar
Existiu um homem chamado José Francisco de Santana, conhecido por Zé Novo, morador de João Alfredo, cidade pernambucana, o qual, possuía um "quintal de cavalos", destinada a guardar animais dos feirantes ou fazendeiros que iam semanalmente à feira-livre.
Tratava-se, para quem é do interior, de um estacionamento para cavalos, como tem hoje para automóveis.
Vez por outra, Zé Novo também vendia ou trocava cavalos.
Certa ocasião ofereceu a um compadre um cavalo, sem estar com o animal à mostra. E foi narrando as qualidades do cavalo a ser vendido com sua maestria de bom vendedor:
- Mas o cavalo é bom mêrmo, Sêo Zé?
- Pelo amor de Deus ...o cavalo é bom demais!
- E ele tem marcha boa?
- Craro. Marcha picada, das mió. Ocê amonta nele e quando marcha nem sente que tá amuntado num cavalo. Ocê desliza que ném um tapete.
- E esse cavalo é novo de idade?
- Que é isso, sô; ocê acha que ia lhe oferecer um cavalo veio? Um pangaré? Esse cavalinho tem só 2 ano. Tá na frô da idade!
- Tá feito. Toma os 300 mir réis e traga esse animá pra eu vê.
Zé novo foi buscar o bicho e deixou que o compadre examinasse para verificar o estado da "mercadoria".
Após vários exames, o tal compadre finalmente verificou a boca do animal a fim de se certificar da dentadura, pois é a assim que os caboclos conhecem a idade dos animais.
Ao tentar abrir os beiços do animal verificou que só tinha um pedaço dos dois beiços, ficando aqueles dentões à mostra.
- Oh! cumpade Zé Novo! Ocê falou que o cavalo era bão. Tudo direito. Mas tô vendo que esse cavalo não tem um pedaço do beiço. Ocê me vendeu um cavalho aleijado...
- Pera aí! Ocê quer um cavalo pra amontá ou um cavalo pra assoviar". Deixa de ser exigente, hôme!!
* Retirado do livro Contos e Causos (Daqui e dali) de Dimas Santos, João Alfedo, Pernambuco.