Com a proposta de apoiar os estudantes apenados na participação do Exame Nacional para Certificação de Competência de Jovens e Adultos (Encceja) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), professores da rede estadual estão trabalhando conteúdos formativos em aulões e simulados preparatórios, direcionados a estudantes que estão cumprindo medidas em instituições prisionais ou socioeducativas e que não conseguiram concluir os ensinos Fundamental e Médio no tempo adequado, mas buscam obter a certificação desses níveis da Educação Básica. Realizadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em conjunto com as secretarias municipais e estaduais de Educação, as provas 2024 do Encceja-PPL – destinadas a pessoas privadas de liberdåade – acontecem nos dias 15 e 16 deste mês.
Na Colônia Penal de Simões Filho, onde se inscreveram 50 internos, o clima é de esperança frente à oportunidade da diplomação nos ensinos Fundamental ou Médio. É o caso de E.C., que está otimista e determinado para fazer as provas do Encceja-PPL. “Para mim é de grande importância o simulado que estamos fazendo aqui na nossa colônia, porque vai nos abrir um leque de novas oportunidades. Nós estamos aprendendo mais e mais, os professores têm se dedicado ao máximo, nos mostrando com detalhes cada quesito, cada matéria. Eu tenho certeza de que o Encceja vai ser uma vitória. Até aquelas pessoas que nunca fizeram o Encceja estão bem orientados pelos nossos mestres aqui, que são muito dedicados. Quero agradecer à direção, aos professores, à coordenadora pedagógica e a todos que têm feito um trabalho maravilhoso, nos dando a chance de ressocialização”.
O colega N.S.T. também está assistindo aos aulões e se dedicando aos simulados preparatórios para o Encceja. “Essas aulas só têm a agregar mais conhecimentos para, quando sairmos daqui, termos mais chance no mercado de trabalho lá fora. Temos muito que agradecer aos professores e à direção da unidade que estão preocupados com a gente, para mudarmos de vida e a educação é prioridade, é fundamental em tudo”. Da mesma forma, E.M.J. está encantado com a oportunidade de adquirir novos conhecimentos. “As aulas e o simulado que os professores estão aplicando com a gente nos dão confiança para fazer a prova do Encceja, para que, no futuro, a gente tenha como trabalhar. Isso é gratificante para cada um de nós, que ganhamos esse direito de voltar a estudar”.
O professor de Ciências Naturais e Ciências Humanas da Colônia Penal de Simões Filho, José Humberto Torres Júnior, destacou a importância do simulados para os estudantes privados de liberdade. “Estamos trabalhando com os alunos questões voltadas ao Encceja, bem como ao Enem. Fizemos um simulado com eles e, hoje, fizemos a correção dessa prova para ver os pontos fortes e os pontos que estão precisando melhorar. É muito importante fazer esse simulado, porque muitos nunca tiveram contato com esse tipo de avaliação. Resolvemos 25 questões de cada disciplina e, depois, esclarecemos as dúvidas. Posteriormente, informamos como é que é feito o preenchimento no gabarito. Preparamos eles para que cheguem prontos para mais esse desafio e, passando nessa prova, significa remissão; menos tempo na colônia”.
Uma questão importante foi demarcada pela coordenadora pedagógica da unidade, Valuza Saraiva. “Esta é uma ação intersetorial, que envolve, por exemplo, o Serviço Social. As assistentes sociais conversam com as mães dos estudantes para falar que eles vão fazer o Encceja e isso as anima muito, pois elas são as maiores incentivadoras dos seus filhos. A psicóloga também nos dá muitas pistas ao conversar com eles, ao nos direcionar e é muito importante esse laço com a equipe de Psicologia, bem como da Nutrição, porque até o balanço nutricional nos dias das provas é essencial. A colônia prisional está toda envolvida, assim como os policiais penais, a exemplo do policial Marildo, que nos dá todo um aporte com o cálculo de remissão, junto aos estudantes”, enaltece.
O diretor da Colônia Penal de Simões Filho, Tarcísio Santiago, acredita que a forma que a educação é tratada na unidade, vai além do trabalho relacionado ao Encceja. “Nossa atuação com os estudantes daqui distensiona o pátio e o dia a dia e eles se veem pertencentes e participantes do processo. Nós trabalhamos muito aqui a ideia da participação. Então, é um apenado que tem livro para ler e que por essa leitura ele tem a remissão de pena; é um apenado que vê as provas dele sendo corrigidas dia a dia na sala de aula e percebem o quanto vem melhorando e quanto isso agrega a ele, à família dele. Estou muito feliz com o trabalho desempenhado na unidade, na área educacional, por esse conjunto de vitórias que nós estamos tendo”.
Inscritos pela Bahia – Mais de quatro mil apenados da capital baiana e da Região Metropolitana de Salvador se inscreveram no Encceja-PPL 2024. Pelo interior do Estado, 2.749 estão inscritos. A avaliação no dia 15 de outubro será para os internos que almejam o diploma de conclusão do ensino Fundamental. Já em 16 de outubro será a vez dos que pretendem concluir o Ensino Médio. As provas acontecem nas unidades prisionais, das 8h às 13h e das 16h às 20h.