Bahia

SERRINHA: DESTRUIÇÃO DO PARQUE TONHO NETO CAUSA COMOÇÃO NA SOCIEDADE

Repercussão intensa nas redes sociais e desgaste da imagem do prefeito Adriano Lima
Tasso Franco , Salvador | 06/05/2022 às 09:39
As picaretas do progresso destruíram a memória de várias gerações
Foto: DIV
        Tenho acompanhado pela internet a intensa repercussão negativa sobre a demolição do Jardim Tonho Neto, em Serrinha, praticada por operários que trabalham numa obra da Prefeitura para erguer no local uma praça de alimentação e abrigar permissionários que atuavam ao lado do corêto, local que passou por uma requalificação de gosto bastante discutível.

   Se o prefeito Adriano Lima, agora apoiando o candidato bolsonarista ao governo, João Roma, já vinha recebendo criticas diante do que a população (em parte) está chamando de "curral" - a obra em frente à matriz de Sant'Anna - a destruição do parque infantil foi péssimo para a sua imagem de administrador.

   Na atualidade estou residindo em Paris e não dá para verificar 'in-loco' o que está acontecendo e como é o projeto da praça de alimentação. Observo, no entanto, que, com o uso das redes sociais tem sido intensa a postagem de pessoas que consideravam o parquinho uma parte de suas vidas.

   É provável que, o próprio prefeito, tenha alguma foto nesse local, no laguinho e passarela ao lado do jarro. Se não tiver, Zé Valdo, seu pai, que também foi prefeito de Serrinha, tem. Eu tenho, até anterior ao Tonho Neto, meu colega da Agripino Barbosa na década de 1950 morto ainda muito jovem por uma meningite, filho de Carlos Mota e Ivone Maciel.

  Quando houve a urbanização da praça antiga das barrigudas, núcleo central do povoamento de Serrinha e habitada inicialmente por tropeiros e pela familia Bernardo da Silva, a partir de 1725, já  no governo do intendente Luis Ozório Nogueira, em 1917, meu pai, Bráulio Franco, morador da praça em casa que ficava localizada ao lado do atual Shopping Freitas, brincou muito neste local entre os anos 1915/1923, quando a familia do meu avô Jovino Franco se mudou para o Largo do Amparo, atual praça Miguel Carneiro, e que, na minha época de criança era também chamada de Praça da Usina.

   Menino de 10 anos até uns 13 a 14 anos, entre 1955 e 1959, brincávamos nesse local que se chamava 'jardinzinho", eu, os ex-prefeitos Popó Santana e Ferreirinha, Miro Pezão, Nelsindo do Lamarão, Nelsinho Ramos, Bira Mercês, Farias, Boquinha, Isaac, Cândido de Juca, Luis Pedroza (Gatão), este último morador da casa onde é o Shopping Freitas e onde viviam Sêo Antonio Pedroza e dona Diva e os filhos Zé, Amélia, Neusa, Kaka e Gatão. Casa que frequentei durante anos e onde Gatão guardava a bola dos babas.

  Carlos Mota, quando prefeito, urbanizou o local criando o Parque Tonho Neto, com brinquedos, um painel, a fonte, a passarela e o jarro. Todas as crianças de Serrinha a partir dos anos 1960 até os dias em que as picaretas da Prefeitura demoliram o local têm fotos, videos, binóculos, etc, desse local. As crianças e as familias.

   Como jornalista e historiador de Serrinha tenho cobrado insistentemente aos prefeitos que recuperem o antigo Paço Municipal, local onde morou Bernardo da Silva e Josefa Maria do Sacramento,  prédio que foi foi cadeia, câmara e sede da Prefeitura - e muita gente tem pedido isso - até hoje, sem uma resposta dos gestores, vários deles.

  Mas, nunca tinha visto tamanha comoção como aconteceu com a destruição do parquinjo Tonho Neto. Textos como de Ana Tuy, de chorar, fotos diversas de muitas pessoas, apelos, algo muito interessante e que envolve a cultura. 

  A cultura é um fator importante numa comunidade. Se os gestores municipais não entenderem isso, adeus, passam como administradores de bueiros, estradas e postos de saúde, que também são importantes, mas não são fundamentais na vida dos cidadãos. 

   A Câmara de Vereadores local - como já dito, também, por várias pessoas - é inépta, submissa. Solicitei há 1 ano desta CMS, por escrito, a relação das leis que criaram os bairros da Serrinha - livro que estou escrevendo sobre a história de todos esses bairros, suas lutas, atividades, moradores etc - e até hoje não recebi sequer uma resposta. Paciência.

   Creio que o prefeito Adriano Lima, um político promissor, porém, instável politicamente - já foi do MDB com Lucio Vieira Lima, do PP de Leão recebendo o apoio de ACM Neto em sua candidatura ao segundo mandato a prefeito e agora bandeou para o PL com João Roma - deveria suspender o projeto da Praça de Alimentação e refazer o parquinho, com alguma modernidade, porém, deixando os elementos que estão arraigados na memória das pessoas - o laguinho, a ponte, o painel mural, as treliças de madeira - sob pena de entrar para a história como destruidor do local.

   Local para fazer uma praça de alimentação é o que não falta. Lembrando, ainda, que a ocupação do espaço público por vendedores de tapiocas e outros, incluindo bebidas alcoólicas, que acontecia ao lado do coreto era consentida pela Prefeitura, mas, ilegal. 

  E mais: recuar e atender os anseios da comunidade é também um ato de grandeza. (TF)