Fundada em 25 de outubro de 1983, a partir do Projeto Rufar dos Tambores, a Escola Olodum nasceu com a missão de ensinar crianças e jovens do Pelourinho-Maciel, no Centro Histórico de Salvador, a tocar instrumentos de percussão. Quarenta e um anos se passaram e, nesse compasso firme, o toque dos tambores tornou-se um dos pilares do Bloco Afro Olodum, não apenas na propagação da música e da cultura afro-brasileira, mas também, na promoção da educação afrocentrada e da cidadania.
Desde o início, a Escola Olodum incorporou em seus projetos práticas educativas voltadas para o resgate da identidade afrodescendente e para a luta contra o racismo. Mais do que ritmos, o que ali se resgatava era a história e a identidade. Nos corpos que dançavam, nas mãos que, com dignidade, criavam não só música, mas também um futuro. A luta negra, tantas vezes silenciada, começava a ecoar no som dos tambores.
Dos quarenta e um anos de história, relembramos que entre 1994 e 1998, a Escola Criativa Olodum funcionou como uma escola formal em processo de vinculação à rede municipal de ensino de Salvador, em parceria com o Instituto de Pedagogia Interétnica. Esse instituto, fundado em 1994 pelo professor Manuel de Almeida Cruz, contava com uma equipe multidisciplinar e mantinha convênio com a Defensoria Pública do Estado para tratar casos de discriminação racial. Nesse período, a Escola Criativa oferecia gratuitamente educação formal do primeiro grau, unindo arte-educação e educação interétnica no projeto pedagógico, atendendo turmas da 1ª à 4ª série. Ao tornar-se parte da rede oficial de ensino de Salvador, a pedagogia do Olodum previa a sensibilização e discussão sobre a subjetividade negra, como relatou Beth Wagner (1993, apud Felipe, 2023, p. 225-226), então Vice-prefeita e Secretária de Educação de Salvador (1993-1996):
"Uma Prefeitura de uma cidade como Salvador, tão conectada à questão da raça negra, tem que ter sensibilidade para entender a importância de um projeto como este. Um projeto inovador, que vai trazer benefícios para a cidade, para a população. Esta experiência tem a possibilidade de irradiar uma nova cultura para todas as escolas da rede municipal. Uma cultura que será incorporada ao currículo da rede de ensino para ser vivenciada por todos os nossos alunos. Uma proposta como esta será uma verdadeira revolução pedagógica nas escolas de Salvador. É uma experiência inédita no país. Em algumas cidades pode ter sido aplicada isoladamente, mas como nós vamos fazer, em toda a rede municipal de ensino, não aconteceu em lugar algum do Brasil. É realmente uma revolução.”
Era um tempo de escasso material sobre o tema, e todos estavam aprendendo. No entanto, a escola formal não conseguiu acompanhar as transgressões pedagógicas e as liberdades didáticas do ensino afro-diaspórico do Olodum. Assim, a Escola Olodum firmou-se como uma instituição não formal, que, por meio da epistemologia do samba-reggae, buscou na ancestralidade sua força e saber. Hoje, a escola faz de cada aluno um griô, narrador de histórias ancestrais, ensinando uma educação que combate e refuta o racismo.
Com a promulgação da Lei 10.639/03, que tornou obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira nos currículos escolares, a Escola Olodum passou a desempenhar um papel ainda mais importante. A instituição assumiu a responsabilidade de concretizar a lei pela qual tanto lutou e intensificou a difusão da pedagogia interétnica, promovendo uma educação libertadora baseada nas matrizes africanas e na ancestralidade, com formação de professores e produção de materiais didáticos.
Das páginas dos livros, dos movimentos da dança e do som dos tambores, surgiu uma educação que hoje faz da Escola Olodum uma referência em práticas educativas que promovem a inclusão social, aliando arte, educação e cultura afro-brasileira. Diversos projetos desenvolvendo a pluriversalidade demonstram o compromisso da instituição com a transformação social, destacando-se pela valorização das culturas de origem africana.
A pedagogia do Olodum é de resistência, de raça e de libertação. Nas vielas e becos, plantaram-se sementes de transformação. A escola investe em estratégias de ampliação de suas ações educativas, oferecendo cursos voltados à profissionalização de jovens nas áreas de arte e cultura, além de inseri-los no mercado de trabalho. Também desenvolve iniciativas que dialogam com as tecnologias digitais e as mídias sociais, adaptando-se às novas realidades de aprendizado e comunicação.
A experiência da Escola Olodum se consolida como um exemplo pioneiro de resistência cultural e afro-pedagógica, apontando novos caminhos. A incorporação de temas contemporâneos, como a sustentabilidade e o desenvolvimento de habilidades digitais, além da expansão das atividades para outros estados e países, são estratégias que garantem o futuro da instituição.
E assim segue a Escola Olodum, farol que ilumina. Da Bahia para o mundo, não é apenas ritmo, é educação do povo. Quarenta e um anos de história, e por mais tempo ainda irá pulsar, na pele do tambor, nas mentes que se enchem de liberdade... um futuro que sempre continuará a tocar!
Salve!!! Salve!!! Escola Olodum - os tambores que educam!!!