EMERGÊNCIA CLIMÁTICA EXIGE AÇÕES IMEDIATAS NO PAÍS

Lenilde Pacheco
23/02/2023 às 19:34
  É inegável que o acelerado crescimento da população urbana brasileira, paralelo à necessidade de organização de uma rede de proteção social, intensifica a demanda por políticas públicas de saúde, educação e infraestrutura. Isso amplia a responsabilidade municipal e traz dificuldades de financiamento. Contudo, existem soluções, inclusive para prevenir danos maiores causados pelas mudanças climáticas.  

Ao mesmo tempo que os obstáculos financeiros tornaram-se mais agudos em razão do encolhimento da economia e redução de receitas, avançaram as análises que apontam um descompasso entre a oferta de recursos aos municípios e o baixo índice de solicitações dos gestores. O especialista na elaboração de projetos de financiamento para municípios, Hélio de Matos, consultor da Associação Brasileira de Municípios, afirma que existem  recursos disponíveis para saneamento, sustentabilidade e modernização administrativa, entre outros.

Falta, no entanto, maior rigor organizacional, planejamento e foco das administrações municipais em suas prioridades, orienta Matos. Com maior eficiência administrativa, as prefeituras identificariam as linhas de financiamento disponíveis para cada setor, incluindo a inadiável adaptação às mudanças do clima.

Ambientes absolutamente vulneráveis, as cidades estão diante dos reflexos do aquecimento global: alterações no ciclo de chuvas que agravam riscos existentes de inundações, deslizamentos, ondas de calor e restrições no fornecimento de água. A drástica redução das áreas verdes também causa interferência, reduzindo a resiliência das áreas habitadas.

Prevenção de desastres

Por isso, é tão importante definir estratégias locais de mitigação e adaptação. No curtíssimo prazo, o planejamento ajuda a agir com eficácia na prevenção de desastres. Chuvas muito mais intensas e frequentes exigem a instalação de sirenes, treinamento para retiradas da população das encostas e oferta de abrigos provisórios que salvam vidas. 

No início do Carnaval de 2023, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) emitiu alerta de temporal para o litoral norte de São Paulo, incluindo a turística São Sebastião, onde morreram ao menos 49 pessoas e dezenas de outras ainda estão desaparecidas, em consequência da chuva que, no domingo (dia 19) acumulou mais de  620 milímetros, em 12 horas.

Assim como as temáticas sociais estão na agenda permanente dos municípios, é preciso que cada cidade elabore o seu diagnóstico e defina ações diante da emergência climática, alerta o coordenador do programa Bahia no Clima, Virgílio Machado, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos Interdisciplinares em Ecologia e Evolução.

Bahia no Clima

Na Bahia, alguns passos importantes foram dados. Em 2022, dez municípios baianos (Aracatu, Iramaia, Itabuna, Conde, Barra da Estiva, São Sebastião do Passé, Camaçari, São Francisco do Conde, Maracás e Ilhéus) integraram o Bahia no Clima, desenvolvido com apoio da Bahiagás. 

O mapeamento feito pelo programa mostrou que algumas dessas cidades  sofrerão com a invasão do mar nas áreas mais baixas do continente, o que exige adaptação, cuidados com a infraestrutura urbana e o deslocamento de moradias. O turismo, o lazer e a pesca serão afetados. Na zona rural, a preocupação maior se refere à produção agrícola, considerando que a maior parte do território baiano está sob risco da desertificação nos próximos 30 anos.

Para Virgílio Machado, é necessário que os municípios e o estado reconheçam a emergência climática e mobilizem pesquisadores, especialistas e a população para definir as medidas mais adequadas a cada cidade. É o melhor caminho para evitar que a dor causada pela tragédia de São Sebastião seja em vão, impedindo  – mais uma vez - a amnésia causada pelo sol e céu azul.