TABUNA: A CARREIRA ARTÍSTICA DE NEWTON MAXWELL, p WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário
12/03/2022 às 09:32
  
  Os tempos eram difíceis e disse não se há de negar. Àquela época costumavam-se dizer que em Itabuna “se ganhava o ouro – é verdade –, mas se deixava o couro”. Era um relato sobre as oportunidades existentes para os que não tinham medo ou receio de enfrentar as adversidades. Nas roças abundavam o rico cacau, na cidade tudo convergia para gastar o ouro negro ou fazer fortuna.

  Desde o início do século passado a ainda acanhada Itabuna se rivalizava com as grandes cidades quando o tema eram as atividades culturais. As grandes companhias artísticas do Rio de Janeiro e São Paulo incluíam a cidade no seu roteiro, ao lado de Salvador e Ilhéus. A economia cacaueira era garantia de sucesso de público e de finanças, com as salas de cinema e teatro lotadas.

  Lembro que na segunda metade da década de 1950 eram presenças obrigatórias das vedetes do Rio de Janeiro, das grandes bandas, cantores famosos, humoristas, enfim, todos aqueles que víamos nos filmes da Atlântida e Vera Cruz. Aqui, além do sucesso, também influenciavam as artes e despertavam vocações nos nossos conterrâneos que se aventuravam a seguir uma carreira em plagas grapiúna. 

  E Itabuna não era diferente das cidades interioranas, com seus personagens que povoam a vida dos seus habitantes, marcando indelevelmente a comunidade, alguns com fatos pitorescos, outros com estórias curiosas que sobrevivem ao passar dos tempos. Itabuna era uma cidade rica dessas figuras. E o que passo a narrar é fruto dessa cultura, contada pelo advogado e colega ceplaqueano Lício de Almeida Fontes, com todos os créditos.

  Vale lembrar uma dessas pessoas que marcaram sua passagem pela cidade e que até hoje é lembrada como protagonista de estórias interessantes: Newton Maxwell, que ele dizia ser seu nome artístico, quando alguém falava que aquele bonito nome era falso, com a intenção de desmerecer as suas qualidades artísticas. E ele seguiu fielmente o roteiro do imperador Romano Júlio César: “Veni, vidi, vici” (vim, vi, e venci).

  Na verdade o saudoso Newton Maxwell era o pseudônimo do cidadão Nílton Caetano do Almada, que chegou a Itabuna na primeira metade do século XX ainda rapaz, se estabeleceu como fotógrafo. Também dominava algumas habilidades como dançarino sapateador e mágico. Era gordinho, cintura grossa, cabelo repartido no meio, extremamente comunicativo e engraçado.

  Como a arte da fotografia inicialmente não lhe possibilitava viver com muito conforto, trabalhava também como balconista de uma farmácia que havia na antiga Rua da Lama, hoje avenida do Cinquentenário, e à noite se aventurava – fazia bico – dando shows como sapateador e mágico no Cine Theatro Odeon existente na época, e localizado onde hoje é a rua Paulino Vieira. 

  Mas, devido à sua compleição física: gordinho, cintura grossa, passadas curtinhas e apressadas, logo – não se sabe por quem – foi apelidado de Buião. Este apelido o perseguiu pelo resto da vida e lhe causava grande irritação quando assim o chamavam. Em roda de amigos, com os quais tinha grande amizade como Washington e Weldon Setenta, João Fontes, Raleu e Pedro Baracat, Fuad Maron, Silvio Midlej, Fernando Andrade ele entrava no clima da brincadeira e não se zangava. Fora disso ficava injuriado. 
Num fim de semana o Cine Theatro Odeon anunciou um espetáculo de dança e mágica protagonizado pelo artista Newton Maxwell recém-chegado à cidade, mas o suficiente para ser batizado com o malsinado apelido: Buião.
Eis que na hora marcada, Theatro com plateia lotada, nos bastidores o artista é anunciado, as cortinas se abrem, refletores o iluminando, eis que surge, vestido num smoking, gravata borboleta, o artista Newton Maxwell, peito estufado, cinturinha grossa, passinhos curtos e apressados. Cessados os aplausos, faz-se o silêncio costumeiro para o início do grande espetáculo.
Mas eis que ouve-se a voz bem alta de um garoto que grita em alto e bom som: 
– Mãe olhe só quem está ali! Aquele é o bujão da farmácia –.
Após esta fala toda a plateia se desmanchou em risos e marcou o último espetáculo de sapateado e mágica do nosso artista Newton Maxwell em terras grapiúna.
*Radialista, jornalista e advogado