O NEGÓCIO CACAU E A GUILHOTINA DOS BANCOS

Walmir Rosário
21/12/2020 às 12:10
de política a região que outrora se orgulhava de produzir os frutos de ouro.

   Não seria verdadeiro colocar toda a culpa dos problemas do cacau nas costas dos políticos, pois parte dela deve ser creditada às lideranças regionais e aos eleitores, acostumados a dar o seu voto a políticos totalmente alheios à economia regional. Há muito que prego um basta nesse atávico estranho comportamento, justificável antes, quando ainda éramos ricos e desprezávamos a política. Hoje, não.
Me causou surpresa – nesta época em que se fala muito no fim das instituições de pesquisas e extensão – o caminho em outra direção tomado pelo empresário Valderico Júnior, presidente do Democratas de Ilhéus. 

  Acompanhado dos deputados federais Leur Lomanto Júnior e Efraim Morais Filho, ele participou quarta-feira (16), em Brasília, de reunião com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

  E o tema do encontro era justamente o negócio cacau e os penduricalhos que dificultam o desenvolvimento dessa tradicional cultura, que ainda hoje se destaca pela liquidez em sua comercialização, o que não acontece com outras culturas. Se temos esse handicap favorável, estamos aprisionados a pesados grilhões como a dívida dos produtores junto aos bancos, grande parte oriunda de recursos do Tesouro ou bancos públicos.

  O esforço que vem sendo empreendido por Valderico Júnior não se prende a dar vantagens gratuitas ao produtor de cacau, e sim a equalização das dívidas contraídas durante planos de recuperação da lavoura cacaueira, praticados com recursos caros e tecnologia incipiente para o combate ao fungo da vassoura de bruxa. 

  O cacauicultor não pode ser condenado à guilhotina certeira dos juros extorsivos ainda cobrados.
Na economia não há milagres e sim propostas, estudos de solução dos problemas, centrados no diálogo e viabilidade. Disposição para tanto a ministra Tereza Cristina tem de sobra, pois é acostumada a esse tipo de debate com o Banco do Brasil e com o Ministério da Economia, na busca de solução para os problemas da agricultura. Numa composição justa, ganham bancos, a União e milhares de cacauicultores retomam a plena produção.

  Propostas viáveis para a recomposição das dívidas dos cacauicultores são bastante conhecidas do governo federal, defendidas pela Câmara Setorial do Cacau, por meio do presidente Milton Andrade Júnior. Receptiva à reivindicação, a ministra prometeu estudar com os técnicos uma saída que agrade as partes, em curto prazo, para tornar possíveis novos investimentos.

  A ação do empresário Valderico Júnior vai além de beneficiar o setor cacaueiro, haja vista que trará reflexos positivos em toda a economia de uma região que compreende parte do Recôncavo, e todo o Sul e extremo sul da Bahia. Se antes – de modo equivocado – o cacau era considerado uma cultura de poderosos, hoje também é o carro-chefe da agricultura familiar, que também poderá investir mais na cacauicultura e outros cultivos.

  Incentivar o retorno pleno da produção de cacau com a moderna tecnologia disponível é hoje a medida mais eficaz para produzir um chocolate de primeira qualidade, comercializados a preços superiores. A nova cacauicultura poderá, ainda, contribuir para que o campo receba de volta parte dos migrantes que atualmente mora – sem qualquer dignidade – a inchada periferia das grandes cidades.

Que o exemplo dado pelo empresário Valderico Júnior se torne uma nova opção no tratamento da política e da economia com a seriedade que merecem, pois produzirão resultados altamente benéficos para toda a sociedade. A política e a economia precisam caminhar lado a lado, ainda mais quando se trata de equacionar problemas que travam a distribuição de riquezas oriundas da agropecuária.