Henrique Campos de Oliveira
08/04/2020 às 10:50
O Covid-19 poderia ser chamado o Vírus da Globalização. As regiões predominantemente afetadas são aquelas mais globalizadas, marcadas por intenso contato com o âmbito externo, como o eixo Ásia-EUA-Europa. Dentre estes, alguns países conseguiram controlar o avanço do contágio mais do que outros.
Por atingir o centro da economia global, o Covid-19 recebeu significativa atenção. O G-20, clube das economias avançadas, se reuniu para decidir a injeção de cerca de 5 trilhões de dólares devido aos efeitos econômicos do lockdown da economia global. Entretanto, é importante frisar que a política internacional já vinha experimentando maior tensionamento do que há duas décadas. Fazem dois anos e meio que uma guerra comercial entre EUA e China se desenvolve.
Em 2020, houve também a concretização do Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, processo iniciado em 2016. Os conflitos vêm sendo intensificados no Oriente Médio desde a Primavera Árabe, em 2010. Instabilidade política e institucional, seguida de manifestações sociais, também é registrada na América Latina, desde 2013. Momentos antes da quarentena nos atingir, presenciamos queda global das bolsas com a desvalorização do petróleo.
O Covid-19 seria, então, a consolidação do fim do mundo globalizado, tal como conhecemos desde o fim da Guerra Fria no início dos anos 1990? Ainda é cedo para afirmar. Como em 1929, é um momento de crise profunda e estrutural. Nas crises, as fragilidades são expostas e as potencialidades testadas. É assim com um indivíduo, uma família, uma empresa e com um país. Há disputa pelas melhores soluções para superá-las. Surge espaço para reacomodação de novas lideranças. A crise pandêmica que vivemos não se resume à própria contaminação, mas à forma de como se equilibra a balança de poder global.
A pandemia acentuou um problema de saturação econômica que tinha duas correntes em disputa para superá-la. A primeira, liderada por Trump, é uma perspectiva mais conservadora e isolacionista. Os EUA se retiram da posição de avalista de organizações internacionais como a OMC e a própria ONU, em coerência ao slogan do presidente, “América primeiro”. A outra linha, mais próxima aos Democratas estadunidenses e à União Europeia, seria mais liberal em prol da integração e interdependência econômica, ou seja, da globalização.
Estas são linhas que polarizam hoje o Ocidente, onde o consenso da era de ouro da globalização já não existe mais. A China, com a maior população do mundo e de cultura milenar regida por um governo de único partido, surfou na onda liberal dos anos 1990. Aproveitou da melhor forma a integração econômica e vem reduzindo, relativamente, o poder tanto dos EUA quanto da Europa. A linha que os EUA adotarão para os próximos quatro anos será definida nas eleições em novembro. Daqui até lá, o mundo está de quarentena