A SUNGUINHA DE PIERRE VERGER NO RIO VERMELHO, POR ZÉDEJESUSBARRÊTO

ZédeJesusBarrêto
04/02/2020 às 10:37
  Na primeira metade dos anos 1950, o genial artista múltiplo argentino-baiano Carybé  (Hector Páride Bernabó) viveu num sobrado da praça de Sant’Anna, no Rio Vermelho – ali bem defronte da hoje ‘praça do acarajé’ e da praia das oferendas a Yemanjá, no Dois de Fevereiro. Pois bem, certo dia, chegado de uma e suas idas à França, o amigo e também genial fotógrafo Pierre Verger foi visitá-lo, contar as novidades de Paris.

 Carybé tinha acabado de sair pra resolver alguma coisa e Verger foi recebido pela mulher do artista, Dona Nancy. Até Carybé retornar, Verger decidiu descer até a praia para pegar um sol e dar um mergulho. Dona Nancy se assustou quando viu Verger numa sunguinha vermelha trazida como novidade da Europa, e pensou: “Vilge! Isso vai dar confusão!”, mas não quis ser inconveniente e cortar o barato do ousado e desligado amigo francês, ficou só de ‘butuca’.

  Verger desceu, impávido, espichou-se inteiro na areia e o burburinho se deu, juntando gente na balaustrada pra ver aquele homem branquelo esquisito, quase nu, aos poucos sendo cercado por várias pessoas a xingá-lo, quase agredindo-o fisicamente pela indecência, até a polícia foi chamada para prender aquele vagaba por atentado ao pudor e aos bons costumes. Por muito pouco Verger não foi linchado, graças à ação dos policiais que já iam rebocá-lo.

  Foi salvo por Carybé que, ao chegar, foi acudi-lo aos gritos de Dona Nancy : “Corre, corre Carybé que estão querendo bater e prender Verger ali na praia” !

 Com seu jeitão boa praça, capoeirista e bom tocador de pandeiro, já bem conhecido da galera da área, Carybé conseguiu no papo contornar a situação e arrastou ainda com vida e sem lanhos corporais o amigo até sua casa, dando guarida. 

  Passaram o resto do dia e noite a rir e esculhambar, eram amigo-irmãos de troças. Por via das dúvidas, dizem que Verger nunca mais ousou ir à praia em Salvador de sunguinhas parisienses.

  Essa quem me contou foi a saudosa e querida Dona Nancy. À época, a filha Sossó era miúda.

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  Como diria o orador romano, no Senado do Grande Império antigo:“Oh tempora ! Oh mores!”

  Traduzo: - Que tempos, que costumes !

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  Está contado no livro “Carybé & Verger – Gente da Bahia”, Iº volume da trilogia

         “Entre Amigos”, edições Solisluna/Fundação Pierre Verger, textos deste pobre escriba.

**.  zedejesusbarreto, jornalista e escrevinhador