SALVADOR 470 ANOS: 31 março de 1549, dia em que Thomé desembarcou

Tasso Franco
31/03/2019 às 09:26
 Neste 31 de março de 2019 registra-se os 470 anos do desembarque de Thomé de Souza, o primeiro governador Geral do Brasil, com a missão de erguer uma cidade fortaleza que se chamaria Salvador. 

   A decisão de Thomé de Souza de só pisar em terra firme no dia 31 deu-se por duas questões essenciais: a logística demorada e trabalhosa do desembarque das armas e tropas, em primeiro; e, por segurança, em segundo, temendo ataques dos tupinambás, embora houvesse a garantia de Gramatão Teles, o capitão da missão precussora e de Diogo Álvares, o Caramurú, de que os nativos estavam pacificados.

   Compunha a armada de Thomé de três naus: Nossa Senhora da Conceição (a capitânea, onde se achava o governador), a do Salvador e a de Nossa Senhora da Ajuda, mais duas caravelas - Leôa e Rainha - e um bergantim São Roque. Os historiadores divergem quanto ao número de militares dos 1.000 a 1.200 homens a desembarcar. 

   O autor de Roteiro do Brasil, de 1587, enumera 600 soldados. Frei Vicente Salvador diz o mesmo e Vernhagem segue a ambos. Já R. Southey dá somente 320 solados, 400 degredados e 280 colonos, ao todo 1 mil. Mas, não faz referência aos funcionários públicos e aos clérigos regulares e seculares.

   Importante destacar que o desembarque de toda essa gente no atual Porto da Barra, na enseada entre os atuais Fortes de Santa Maria e São Diogo, não foi tarefa fácil uma vez que só havia um pequeno ancoradouro para botes e canoas e o mar da Barra é fundo, não por exemplo, como áreas da Baía em Paripe ou Periperi que, quando a maré baixa pode-se andar muitos metros com água nas canelas. 

   No Porto da Barra o desembarque em botes com maré alta era quase impossível, exceto para homens que pudessem ir nadando um pequeno trecho até a praia com a aproximação dos botes e canoas.

   Mas é bom lembrar que as naus trouxeram ferramentas, armas, canhões, pólvora, lanças romanas compridas e esse desembarque tinha que ser feito de forma bem segura para que não houvesse perda de materiais.

    Daí, portanto, Thomé ter ordenado que primeiro fosse efetuado esse desembarque e ele e o Provedor da Fazenda Real, Antonio Cardoso de Barros (espécie de ministro da Fazenda), que navegaram na nau capitânea e na 'do Salvador' só desembarcassem dia 31 de março.

   Na terceira nau veio Duarte Lemos no comando, este capitão mor em Porto Seguro; Pero de Góes, donatário da Paraíba do Sul, e capitão do mar da Costa do Brasil (correspondente hoje a ministro da Marinha) veio na caravela Leôa, comandada por Christovão Cabral; Comandava a 'Rainha', Francisco da Silva; e o bergantim São Roque, Gregório Fernandes.

   A logistica em terra foi ainda mais complicada porque a antiga Vila Velha do Pereira, agora sob o comando do filho do donatário Francisco Pereira Coutinho, teve parte de suas casas destruidas pelos tupinambás na revolta contra o donatário, e iria abrigar mil homens famintos que haviam passado longo tempo no mar e tinham que se adaptar a uma nova vida, morando, muitos deles, em palhoças. 

   E nessa época, a Vila não produzia sequer pães e biscoitos, os bolachões mata-fome usados por Portugal nas navegações, nem havia vinho em barricas, salvo o que sobrou da travessia. 

   Vida duríssima e que precisou de mão-de-ferro de Thomé para controlar, especialmente, os degregados, bandidos considerados da pior qualidade e que viviam na prisão do Liomeiro, em Lisboa. Agora, diante de um paraíso tropical.

   Aí entrou a ajuda muito importante de Diogo Alvares e sua esposa Catarina Paraguaçu que moravam na Barra e criaram um pequeno povoamento na Graça e mantinham controle dos tupinambás, os quais, ajudaram no abastecimento de víveres a toda essa gente.

   Conta-nos Teodoro Sampaio, em História da Fundação da Cidade do Salador: "Em obediência as instruções, deligenciou logo o governador por consertar a cerca da povoação (Vila Velha), a qual era feita de valas e madeira, para a segurança dos seus moradores e tratou sem demora de prover de mantimentos do paíz, mandando os plantar pela gente que trouxe como pela da terra e, enquanto isso, caravalões foram mandados a diversos pontos da costa, em constante escambo com os naturais, traziam algum mantimento".

   Sampaio relata que "muito por certo colaborou com a sua prática e experiência com o gentio, o Caramuru, língua (falava portugues) e precioso intermediário na ocasião". Dizem que, prevenido por Gramatão da expedição de Thomé, Caramuru escrevera para o rei, como cavalheiro de sua Casa, de prover de mantimentos para os serviços da armada".

   É provável que Thomé ainda tenha dormido alguns dias entre 31 de março e o inicio de construção da cidade, em maio, na nau NS da Conceição. Mas, sabe-se, também, que o governador assim que escolheu um local mais seguro para erguer a cidade no altiplano da Praça Municipal (atual Thomé de Souza, parte alta do Elevador Lacerda) mandou que sua armada fosse ancorar em local mais seguro no interior da Baía, onde hoje estão a praia da Preguiça e a área em frente a Basílica de NS da Conceição da Praia, e mais adiante, onde está o Porto, onde nasceu a Ribeira do Góis.

   Não há registro de que Thomé tenha sido hóspede de Caramuru, que vivia com Catarina e filhos no morro dos Mariani (em frente a sede do Iatch Clube) ou na Torre do Conselho construção erguida por Pereira Coutinho, na Ladeira do Conselho (atual Ladeira da Barra). Na época, Torre do Concelho.

   Em abril chuvoso na governadoria, Thomé e Luis escolheram o local de erguer a cidade depois de subirem a Ladeira do Conselho, passarem pelo Outeiro Grande (atual Campo Grande) e atravessaram três aldeias tupinambás (Gamboa/Passeio Público), Piedade e São Bento para erguer a cidade onde tudo começou. 

   Quatro anos depois, grande governador que foi, deixou o Governo Geral, e a Corte enviou para a Bahia o lambanceiro Duarte da Costa.