Exemplos, Bônus e Ônus da greve dos caminhoneiros

Valdir Barbosa
03/06/2018 às 09:47
Creio ter sido o tempo da quarta copa do mundo, destas dezessete que este mês se completarão, do rol de todas havidas desde quando vim ao mundo. Falo, portanto, do certame realizado em 1966.

Digo isto, posto vivia o agitado tempo de adolescente, do qual fui fugindo, após ingressar na Universidade Federal da Bahia, onde cursei Direito, cujo vestibular se deu na abertura da década de setenta, época na qual me pus a alisar bancos acadêmicos, antes de completar dezoito eras.

Rememoro assim, situações que pude testemunhar, dentre outras marcantes vividas na gráfica do velho Gomes, meu saudoso pai, instalada em prédio existente na Ladeira da Praça, antes da construção que até hoje abriga a sede do Corpo de Bombeiros.

Pude vê-lo colocar quase a empurrões, para fora do estabelecimento de onde tirava seu sustento e da família, figura da política municipal do interior do Estado e outra, envolvida com atividades ligadas ao Departamento de Transito, no caso, um despachante.

Esqueço, exatamente, quem seriam ditas pessoas e mesmo pudesse fazê-lo, não revelaria suas identidades. Aqui importa os exemplos a seguir narrados e suas marcas impressas no caráter que forjei, por conta dos modelos observados.

O alcaide sugeriu que meu velho emitisse nota de material, supostamente confeccionado na tipografia, sobre a qual acusaria recebimento, ao que seria dividido entre eles o valor concernente àquele produto, efetivamente inexistente. Quanto ao despachante pretendia fossem confeccionadas carteiras de habilitação falsas, pelas quais desejava pagar vultosa quantia. Os vi serem expulsos do estabelecimento, quase a tapas, com recomendação de não tornarem mais ali.

Dias atrás, D. Milda, mãe de Roberta, minha esposa e companheira de quase duas décadas, dona de alguns comprometimentos naturais, por conta do peso de setenta e alguns anos, ao chegar em casa, depois de realizar pequenas compras percebe ter havido engano, no troco  recebido, quando efetuou o respectivo pagamento.

A jovem caixa devolvera dez reais, além do quanto devido, então, conhecendo o equívoco, a septuagenária não tergiversou, encarou o frio do planalto conquistense e suas dificuldades locomotoras, para voltar ao mercado e restituir a importância que não lhe pertencia.

Hoje, D. Walneide, minha doce mãe completa oitenta e oito anos. Cedo, lhe fiz uma chamada telefônica, ao que inquiri sobre o que gostaria de receber, como regalo pela data natalícia. Respondeu entre largos sorrisos: “filho, não preciso de nada, tudo quanto possuo, me basta”.

Pus-me a pensar, nas horas caóticas vividas em razão da recente greve que se arrastou no Brasil, por vários dias. Lembrei ter assistido comerciantes majorando preços de produtos, dos mais diversos locupletando-se na crise. Soube de ambulâncias abastecidas, para depois ter transferido o combustível que deveria ser utilizado em serviços essenciais, até carros particulares.

Poderia citar outros tantos absurdos, mas, todas as posturas equivocadas revelariam a falta de consciência, de muitos que se tornam enfáticos nas criticas ao sistema, sem, contudo, assumir posturas éticas, legais e morais quando são chamados a fazê-lo.

Não pretendo invadir a discussão em torno da greve, não quero comentar sobre sua legalidade, ou acerca dos prejuízos causados ao país, por conta das paralisações. Desejo nestes comentários fazer um chamamento, através dos exemplos citados, os quais poderão dar nortes ao desempenho de cada um dos homens e mulheres desta terra.

Anseio sim, enfocar a necessidade de agirmos todos de forma correta, de não nos vendermos às tentações da ambição, de não sucumbirmos ao fantasma do egoísmo, de saber imponderável mudar os rumos da pátria tão fragilizada, pela falta de educação, saúde, segurança, apartados dos primados da consciência cidadã.

Imperioso aprendam todos deixar de lado interesses pessoais, em busca, simplesmente, de bônus individuais ou de grupos privilegiados, pois, ao contrário, é preciso assumir os difíceis papéis encerrados nos ônus, capazes de privilegiar o todo.