NO MEU TEMPO DE MENINO as famílias tinham álbuns de fotos p&b

Tasso Franco
26/05/2018 às 14:31

Eu e meus irmãos no chalé, eu nas costas do meu pai, meus irmãos e Nonô e minha irmã na praça
Foto: Arquivo Pessoal
   Tenho apenas 22 fotos da minha infância, do meu tempo de menino em Serrinha, décadas de 1940/1950 quando este era o meio tecnológico de guardar a memória das pessoas. Naquela época, quase todas as famílias da classe média tinham um álbum de fotografias preto & branco que era guardado com todo cuidado e mostrado aos familiares e amigos em datas comemorativas ou em eventos - casamentos, batizados, aniversários, etc. 

   Lá em casa meu pai guardava dois álbuns numa gaveta da escrivaninha do seu gabinete de leitura e um deles eu herdei e mantenho a sete chaves comigo. 

   É num desses álbuns que estão 20 das minhas fotos da infância. Nas seis produzidas em janeiro de 1946, eu com 9 meses de idade, a primeira delas estou sentado num carrinho de madeira integral, até as rodas, provavelmente feito por Sêo Conrado, marceneiro que morava perto de nossa casa, e que meu pai o conduzia como se fosse um automóvel pelo jardim do chalé e pela praça Miguel Carneiro, nessa época chamada de Largo da Usina, comigo dentro. O carro era antigo porque esse mesmo procedimento, essa diversão, ele também fizera com meu irmão Bráulio, mais velho do que eu 5 anos.

   Na segunda foto estou em pé numa cadeira posta no jardim lá de casa, a terceira também em pé no degrau da escada do chalé, a quarta sentado numa almofada também na escada usando um brinquedo nas mãos; e na quinta e sexta fotos, eu sentado num canteiro do jardim. Em todas essas fotos visto a mesma roupa, um modelito chamado de "macaquinho" e sandálias brancas nos pés.

   Na sequência do álbum quando eu tinha 1 ano e 11 meses, ano de 1947, há duas fotos, muito parecidas, eu usando a mesma roupa, uma espécie de kimono e sandálias franciscana, a primeira eu estou no segundo degrau da escada; e a segunda, no jardim. Todas essas fotos, suponho, foram feitas por meu pai.

   Adiante, no álbum, existem três fotos feitas no Largo da Usina, no descampado, numa delas aparecemos eu, minha irmã Celeste, meu irmão Braulio (Braulinho) e meu pai Braúlio; numa outra estou sozinho sentado numa cadeira; e na terceira, eu e minha irmã Celeste sentados em cadeiras e Braulinho em pé. Não há anotações de datas nas fotos, mas, devem ser de 1947/48.

   Na página seguinte do álbum, apareço em mais duas fotografias. Eu tinha 2 anos e 6 meses segundo anotações na foto no ombro de meu pai, portanto, de outubro de 1947, parece-me no Largo da Estação do Trem; e a outra no portão de entrada do chalé, eu e meus dois irmãos vestidos a caráter, Braulinho usando suspensórios.

  A foto que apareço montado nas costas de meu pai, na 'cacunda' como se dizia, ele segurando minhas pernas e eu segurando sua cabeça, parece-me em passeio pelo Largo da Estação. A gente ainda vê esse tipo de cena, hoje, nos estádios de futebol, nas praias e também aqui na Serra pais levando os filhos na "cacunda" - senta-se praticamente no pescoço - nas festas cívicas, nas procissões e outros.        

   Nesta foto eu deveria ter algo em torno de 2 a 3 anos de idade e um dos passeios das familias naquela época era levar os filhos para verem a Estação da Leste e as locomotivas "Maria Fumaça".
   
  Nas últimas páginas do álbum, apareço em mais três fotos. Na primeira, na escada do chalé vê-se os 4  irmãos. Uma escadinha: Laíz à frente, bebê (a foto é de 1950), logo depois estou eu segurando Laíz, depois Celeste e depois Bráulio. Hoje, estamos com 68 anos, 73 anos, 75 anos e 78 anos pela ordem da escadinha.
  
 Na segunda, suponho que tenha sido um dia de festa, pois, aparecemos eu e meus dois irmãos mais velhos vestidos no capricho, foto pousada, estão eu Braúlio e Celeste, eles em pé e eu no centro sentado numa cadeira de vime, todos trajados a rigor. Braulinho de paletó e gravata e Celeste bem penteada, sapato brancos e meias soquete e eu sentado com pernas cruzadas de botas.
   
   Na página seguinte tem uma foto, bem moleca, eu sentado no corrimão da escada, pés descalços, roupa puida pelas brincadeiras de rua, cabelo no estilo pimpão, com algo em torno de 4 a 5 anos de idade.
   
   O álbum contém fotos outras com minha mãe aparecendo em algumas delas e nenhuma de toda a familia, o que suponha que meu pai tenha feito as fotos. Mais adiante, já rapaz, não me recordo de meu pai ter máquina fotográfica. E quem teria feito as fotos em que ele aparece? Suponho, minha mãe.
   
   As outras fotos que tenho são dos times de tubeol infanto-juvenil que atuei sob o comando de Paulino Alexandre Santana, o Biêta, pai dos ex-prefeitos Popó e Mariano e que era apaixonado por futebol e também exercia a profissão de farmacêutico prático, parteiro e fotógrafo. Seu estúdio ficava no fundo da farmácia e usava uma roleiflex com tripé para produzir as famosas fotos 3x4 para documentos.
  
   Uma das fotos vê-se o time do Ypiranga, que chamávamos de Ypiranguinha, 1958, com Isaac, Ferreirinha, Farias, Tasso, Miro e Gatão; Haróvel, Pavão, Toinho, Dinho e Manezinho. Aparecem ainda Ana Santana, patronesse; e Bocage, mascote.

  Na outra, um combinado com a camisa do Bahia, estou na ponta-esquerda, onde nunca atuei. Estão: Ubaldo, Zagueirão, Severo, Toinho. Manezinho e Zé Alexandre; Miro, Coité, Popó, Nelsinho e eu.

  Nos dias atuais, com as novas tecnologias, uma criança de 10 anos tem 22 fotos no celular só de selfies e é provável que tenha mais de 200 ou 500 fotos ao todo. Além disso, com o meio digital os álbuns de fotografias no papel praticamente deixaram de existir. É a vida em movimento.