Valdir Barbosa
31/12/2017 às 18:21
No limiar de nova etapa, outro ano chegando, penso sobre o divisível tempo e na individualidade do ser, fatores deveras importantes, responsáveis por colorir a vida da forma especialíssima, sob a qual ela se apresenta e nos ensina, através do óbvio. Aliás, muitas vezes deixamos de viver momentos significativos, pela incapacidade de entender o simples, por não saber que na simplicidade reside o segredo da realização.
Quem dividiu o tempo em milésimos de segundos, e tudo que existe é obra do Magnânimo, o fez na plenitude de Augusta sabedoria. Fosse o tempo um bloco indivisível, nada debaixo do sol teria força e beleza, posto que a dinâmica da vida faz tudo ser diferente a cada instante sendo responsável por apagar as trevas acendendo, no instante seguinte ao opaco, luzes renováveis.
Por mais que a noite pareça interminável, ela sempre irá sucumbir a claridade do dia, onde reside a certeza da esperança imortal.
Assim como a fração do tempo é diversa do anterior e daquele por vir, cada alma guardada no invólucro material dos humanos é única. Não haverá, por mais siameses sejam dois seres, inexistirá em qualquer vivente gêmeo, aparentemente idêntico, a despeito de perfeita similitude, igualdade plena entre pares, duas pessoas iguais. Cada homem e mulher é único, nos quereres, anseios, desejos, ambições, vontades, dúvidas, verdades e mentiras. Destarte, assim como o tempo é inexorável e irretornável, o ser humano é inexplicável e particularíssimo, portanto, ambos são admiráveis e tentadores.
Vive-se, muitas vezes, na saudade das eras passadas e no desejo de pretender antecipar fatos do futuro esquecendo de fazer história no presente. Apenas os pragmáticos realizam, posto, apesar de contarem viagens idas, não se embriagam nos eflúvios do que já passou, ou choram pitangas derramadas, nem sentam nas calçadas da vida esperando o carrocel que virá. Participam da construção, jamais serão simples tijolos que apenas se prestam a compor a vida, eles fazem parte do rol de artistas responsáveis por deixar marcas indeléveis.
Noite passada, entre diletos pares, frente a deliciosa paella, reunidos num sítio muito longe do meu TORRÃO natal - assim apelidam meu caçula, por isto ponho a palavra em letras garrafais - falou-se de episódio protagonizado por mim, quando localizei e prendi um falsário nestas plagas americanas, justo em Miami.
Na época, a imprensa noticiou com ênfase o fato e o comentário dizia do quanto fiquei famoso por conta disto. Em seguida houve colocação incisiva de um dos amigos: "Ficastes bem mais em evidência no caso dos grampos". Pensei comigo, é verdade, me pus bem mais notável pelas coisas que não fiz, em detrimento do quanto fui instrumento de Deus, para salvar vidas, resgatar reféns de cativeiros, esclarecer crimes tantos, enquanto laborei como homem de polícia.
Todavia, este episódio não me pôs em declínio, não me fez abatido, ao contrário, deu-me a oportunidade de tecer as considerações que faço, na manhã deste derradeiro dia do ano.
Certo de que o passado não volta e o futuro é incerto deixo de lado as glórias e os percalços dos tempos sumidos, eles ficaram para trás. Então vivo o presente, dádiva que o Criador me oferece, do alto da sua bondade, na convicção de que Ele me oportuniza construir, com meus próprios atos, o futuro, cônscio do quanto é importante para crescer espiritualmente, a busca por ser melhor a cada segundo.
Observo minha deusa ressonando ao meu lado, tenho vontade de abraçá-la com sofreguidão, porém, percebo que ela está cansada e, a despeito do quanto lhe adore, decido afagar a quem mais amo. Myself.
Happy New Year.
Newark, 12/31/2017
valdir barbosa