DOMINGOS e a difícil missão de ser repórter de Policia

Valdir Barbosa
03/09/2017 às 21:14
   Como homem de polícia pude conviver, desde quando ensaiei meus primeiros passos na carreira, com profissionais responsáveis por levar ao público, notícias vindas dos bastidores, onde a pugna entre responsáveis pelo combate ao crime e os protagonistas do equívoco, à luz da lei, é a tônica.

   Lembro-me de Juracy, radialista da emissora AM de Itapetinga, onde debutei no mister, além de  outros daquelas plagas e tempos, olvidados por conta dos lapsos normais impostos aos quase septuagenários, como eu, para confessar que fui marcado por atuações de ícones, tais como, Walmir Palma, Alberto Miranda, Moacir Ribeiro e tantos seguidores, na difícil arte de fazer matérias policiais.

   Poderia falar de muitos outros, desta plêiade de figuras representativas da imprensa escrita baiana daquele tempo, assim como Raimundo Vieira que mourejou nas duas frentes de batalha - foi escrivão de polícia e repórter policial, hoje atuando no TRE da Bahia -, além dos irmãos Cristovão e Cristovaldo Rodrigues.

   Mas, meu lembrar a tantos personagens responsáveis por fazer do filho de Gomes, Valdir Barbosa, tem a ver com a passagem de Domingos Souza. Ontem, quando rememorava com os Moreira histórias da velha soterópolis, no restaurante quase centenário da família, Vicente de Paula, outra destas fortalezas da informação, com sua voz metálica inconfundível gritou da porta: “Estão sabendo, Domingos viajou!”.

   Há tempos, Dominguinhos deixara de atuar. Pouco importam as razões motivadoras de sua retirada do cenário laboral. Os porquês de cada qual, apenas interessa a si mesmos, quiçá, muitos de nós vimos com tempo de validade para fazer, marcar, pontuar e depois, por mais sejam discordantes as opiniões em torno do caminho pelo qual optamos seguir, precisamos estar inebriados nos nossos próprios eflúvios aguardando a hora de retornar as plagas infinitas, quem sabe, para vir outra vez ainda mais  atuantes.

   Souza tinha que partir de forma tanto trágica, afinal, mesmo que pareça paradoxal, a um bom repórter de polícia vale ser matéria, no derradeiro suspiro, como vítima de fatalidade, pelo menos enquanto transeunte, transeuntes que somos todos nesta terra de provas e testes.

    Sua simplicidade e inteligência, aliadas a sensibilidade digna dos augustos, o fez diferenciado no agora que findou. Matéria escrita quando de atuação deste seu saudoso amigo, nos idos de noventa e quatro atestam ditas virtudes.

   Mando lembranças, caro amigo, aos recentemente chegados no mundo etéreo, Medrados, Alcides, Laranjeira e outros tantos que também lhe têm estima impar. Dia destes, com certeza haveremos de nos encontrar.

 
“Tribuna da Bahia, 27 de maio de 1994
Domingos Souza,
Editoria do segundo caderno
 
Com a troca do revólver pela rosa, terminou o sequestro daestudante Ana Paula Ribeiro. Graças à habilidade dos delegados ValdirGomes Barbosa e Luciano Patrício, que negociaram com o sequestrador Antônio Welber da Silva, o “Tony”, às 18:40 de ontem ele resolveu se render à polícia, mas fez questão de entregar a arma a sua amada, como prova de amor, da sua não intenção de matá-la e cujo gesto que mobilizou a polícia foi apenas por amor.

No começo do sequestro, a Polícia Militar foi a primeira a aparecer, providenciando o isolamento da área. O clima estava tenso, todos estavam com medo de que Ana Paula viesse a ser morta. Irredutível, Antônio prometia matá-la, caso ela não o aceitasse novamente. Ana Paula se negava a aceitar a rosa levada pelo ex-namorado. O Secretário da Segurança Pública, Francisco de Andrade Neto, às 14 horas, determinou que o delegado Luciano Patrício fosse ao local negociar com o sequestrador para resgatar a jovem, mas não houve acordo.

Às 16 horas, o delegado Valdir Barbosa, por determinação do secretário, foi ao colégio das Doroteias. Lá ele se encontrou com o soldado Bezerra, que é conhecido do sequestrador, facilitando as negociações.
Antônio estava depressivo, porque não conseguia reataro namoro com Ana Paula.  Analisando o comportamento docriminoso, o delegado conseguiu convencer o rapaz de que elenão tinha interesse em matá-la.  Falou da sua capacidade em reconquistá-la. Aos poucos Antônio foi cedendo, desengatilho e tirou as balas do revólver, passando a conversar com Ana Paula.

O delegado sugeriu que ele, como uma prova  de  paixão, entregasse o revólver a Ana Paula, como símbolo de que os dois já estavam começando a se entender. A rosa foi esquecida e Ana Paulateve em sua mão o revólver. Antônio foi preso e conduzido a 13ª Delegacia, sendo autuado em flagrante por sequestro e tentativa demorte pelo delegado Sérgio Sotero. O amor o levou à casa de detenção.”