CARNAVAL da tropicália entristecida abre o debate

Sérgio São Bernardo
02/03/2017 às 18:37

A inspiração revolução republicana antiescravista do Haiti contra o império napoleônico não disse muito para os nossos verdes mares dos trópicos! Cabulas e Habib's repetem-se na avenida e está tudo bacana! Serpenteiam eventos e encontros que buscam saídas contra a violência e a apatia política contra as iniquidades. Mas apenas serpenteiam! Tem um quê de passividade burlesca cristã e de ateísmo afro barroco na fala e na ação dos compadres e comadres!

A novidade desse carnaval da neo Tropicália entristecida foi ele ter se tornado um espaço aberto e desavisado para o debate público. 

O “Fora Temer” do Baiana System, a denúncia da existência de organização criminosa na Câmara Municipal feita por Igor Kanário, a sutileza grave da androgênia afro-América de Liniker, a substituição dos puxadores de blocos agora migrada do Chiclete para La Fúria, a polêmica banda New Hit, composta de estupradores e a sua antítese: a campanha oportuna e protagonizadora do “Respeita As Mina”, a Patuscada de Exú Raimundo Bouzenfraim da quarta-feira de cinzas e o lançamento da candidatura de ACM Neto para presidente por Léo Santana comprovam a hipótese apontada! O resto foi figurinha descascada em festa de mudança de Garcia e camarote glamoroso da Barra!

O carnaval é um dos nossos maiores símbolos de grandeza espiritual e de resiliência. Mas ainda não é o nosso negócio e nem a nossa luta! Possui uma avalanche de elementos semióticos que parecem que vai servir para ajudar a mudar o mundo. Não vai. Destaco a força ancestralizada dos blocos afros que ainda fez bonito no carnaval morno e desorganizado da eterna Tropicália, mesmo com a imitação retardada do filme eugênico de 1915 “O Nascimento De Uma Nação” de D.W. Griffitty, aqui se aceita branca pintada de preto e está tudo favorável!

No cenário transitivo que aponta para algo que não pode mais ser o que é; aponto aqui, o que enxergo as tendências que são o túmulo do carnaval baiano: a catarse yuppie/favela, cristão, Jeje/Nagô ricardiana e feudal representada por empreendedores, artistas e intelectuais odiosos da esquerda e que são financiados pelas elites; a mistura de anti-direitismo e anti esquerdismo, familista e patrimonialista, plasmada numa estatatizante privataria de outros tantos empreendedores, intelectuais e artistas financiados por editais e que se submetem a políticos e grupos privados que não lhes garantem nenhuma isenção! E, por último, uma esquerda mestiça, messiânica, confusa e festeira que se molda de qualquer coisa em nome da "revolução" que sabe que não virá através deles! Enfim, o Estado é o carnaval! 

O espaço público do desejo para os interesses depressivos da contemporaneidade! Gosto de uma juventude que chega, respeitando uma ancestralidade, mas, construindo uma outra pauta que não sabemos qual é! Enquanto isso, na sala de justiça...