Tasso Franco
31/12/2016 às 11:12
Fui às compras do réveillon na Av Sete adquirir uma camisa branca para brindar o ano novo e um brinco de pompom para a esposa quando, passando pelo Relógio de São Pedro, me bato com o turista russo.
- Não é possível, pensei com meus botões, ele de novo no meu caminho.
Foi de cara e não deu pra desviar. O camarada foi logo perguntando como eu estava, se tinha passado 'um boa Natal' e tive que ser educado com ele, como sempre fui, destacando que estava tudo em paz.
- Passeando, perguntou-me em seguida.
- Estou comprando uma veste para o final de ano, comentei.
- Eu também estou porque ontem fui ao révellon da Prefeitura, naquela praça da cidade baixa, e fiquei por fora porque estava vestido de vermelho - disse.
- Você é louco. Vermelho é a cor dos petistas e a festa lá é dos azuis - retruquei.
- Ah! foi por isso que me olharam com tanta cara feia. Até pensei que estavam achando que eu era algum terrorista islâmico.
- Você tem que usar é uma veste branca, cor da paz, de Oxalá, suegi.
- Lá vem você com o nome desses santos que não entendeo nada.
- Orixá não é santo, nem santo orixá. E o branco é a cor da pomba da Prefeitura, da paz; enquanto vermelho, o pessoal de lá detesta.
- Mas é claro que não vou jogar minha camisa vermelha fora, pois, sendo russo, comunista de origem, também prezo minhas tradições - aduziu.
- Tá certo. Você pode presentear ao seu amigo Badá e comprar essa bata com ponto Richelieu que está à venda no Pelourinho, comentei mostrando a foto da bata no meu smartphone.
- Isso parece coisa de gente rica, de falso ao corpo - comentou olhando a foto.
- Que coisa nenhuma. Esse é um programa da Setre, de seu colega comunista Álvaro Gomes, do portal Vermelho, e custa barato - falei.
- Então vou lá comprar. O senhor não quer ir comigo - sugeriu.
- É podemos ir, quem sabe eu possa também adquirir uma bata da Goya Lopes.
Quando pássavamos pela Ladeira de São Bento já nos aproximando na Praça Castro Alves encotrei o amigo Gilmar, o homem que vende óleo de peixe elétrico e óleo de babaçu, bons para as pernas, pra reumatismo e outros males.
Parei pra comprar um óleo e o russo ficou invocado, me olhando.
- Que é isso? - perguntou.
- É um óleo para lubrificar as pernas, comentei, dizendo que era um santo remédio e deixava as pessoas mais leves, mais soltas.
- Pensei que fosse uma poção mágica para fazer efeito noutra parte do corpo - sorriu o russo.
- Tais brincando Sêo Dimitri! Poção pra outra parte do corpo é catuaba ou a pílula azul.
- Essa catuaba nunca tomei. Agora, a pílula azul é boa, mas me deixa com os olhos vermelhos, inchados, ainda que faça bom efeito na inchadinha.
Sorrimos a valer e pegamos a Rua Chile, passamos pela rua da Misericórdia e adentramos na Praça da Sé, local onde tem uma imagem do bispo Sardinha e as meninas de vida fácil fazem ponto nos bancos de mármore em frente ao antigo cine Excelsior.
- Hic! - comentou o russo desconfiado - aquela senhora está piscando o olho para mim e me chamando.
- Vá la conversar com ela - sugeri.
Em instantes, o russo estava a bater papo com uma jovem senhora vestida num tubinho e usando um sapato salto altissimo, e quando retornou explicou o papo.
- Ela sugeriu fazer um piço e eu não entendi nada. Só depois que ela fez uns gestos com as mãos parecendo que ia cavar alguma coisa, ou uns peixinhos nadando no rio, foi que cai em mim e vi que ela queria fazer sexo.
- Já vi que seu professor Badá não lhe ensinou nada da Bahia. Dá um piço é trepar, fazer amor, divertir-se.
- Ah! sim, agora vai.
- E você aceitou o convite da senhora?
- Eu não. Fiquei de pensar. Talvez, depois do réveillo. Agora, vamos comprar a bata.
E lá fomos nós e compramos duas batas, uma para ele e outra para mim.
- E o senhor vai comigo para a virada do ano do réveillon da Cairu - sugeriu.
- Tenho outro compromisso e lhe desejo sucesso por lá e um feliz 2017.
- Pro senhor também. Espero lhe encontar ainda neste verão, na Cantina da Luia, pra gente tomar uma gelada com Badá. Do svidaniya.
Como não sei falar rosso soletrei em francês: - Au revoir.