Valdir Barbosa
20/03/2016 às 20:22
Em tempos quase imemoriais, no velho Egito, sarcófagos feitos de madeira impermeabilizada e até de ouro maciço se prestavam a guardar, entre pertences, corpos de Faraós. Tutancâmon, falecido por
provável em 1.324 A.C. foi encerrado numa sepultura que trás grande significado histórico, posto estava praticamente intacta ao ser aberta, nela foram encontradas preciosidades diversas.
Pequenas esculturas de metal, em forma de múmia representando encarregados de servir ao falecido no além seguiram com o corpo de Tut, todavia é sabido, diversos soberanos da antiguidade partiam à
ultima morada e eram sepultados na mesma catacumba, com escravos, sacerdotes, parentes próximos incumbidos de continuar servindo ao senhor, da forma como faziam enquanto em vida, a exemplo do Rei Djer que teria sido enterrado com 318 pessoas.
Notícia dos derradeiros dias me fez viajar nos labirintos das pirâmides e nos sarcófagos das figuras pertencentes às realezas daquelas épocas tão distantes. Pude rememorar a expedição do arqueólogo
Howard Carter que em 1922 encontrou a tumba intacta de Tutancâmon, em seu ataúde dourado, ao lado de joias, objetos pessoais, ornamentos, vasos, esculturas e armas.
Montado nas facilidades da tecnologia contemporânea revi nuances de um tempo, em que aos soberanos tudo era permitido, inclusive, levar consigo para o tumulo, além de bens materiais, seres humanos, por entender serem todas as coisas que os cercava, propriedade exclusiva inapartável. Na convicção da vida após esta vida deveriam continuar sendo, objetos, homens e mulheres, servidões suas no além.
Falando acerca de tanto tempo sumido é de afirmar, o tempo voou, desde quando faraós eram sepultados no Vale dos Reis e suas asas encontraram pensadores gregos, da lavra de Platão: “Boas pessoas não precisam de leis para agir responsavelmente, enquanto as pessoas ruins encontrarão um modo de contornar as leis”; e levitou no período onde a humanidade encontrou seu grande divisor de águas, o Mestre dos Mestres, mensageiro das epístolas simples, contudo, repletas da mais severa profundidade, do tipo: “Que aproveita um homem ganhar o mundo inteiro e arruinar a própria vida?”; e
gravitou nos pensadores da idade média assistindo Maquiavel pregar: “Nenhum indício melhor se pode ter a respeito de um homem do que a companhia que frequenta”; e testemunhou, no iluminismo, Voltaire asseverando: “Os reis são para os seus ministros como os cornudos para as esposas: nunca sabem o que
se passa”; e viajou ao século XX ouvindo John Kennedy dizer: “Coragem é manter a classe sob pressão”.
Finalmente, em março do ano que flui, este mesmo tempo testemunha Luis Inácio vociferar: “Se quiseram matar a jararaca, não fizeram direito, pois não bateram na cabeça, bateram no rabo, porque a jararaca está viva" e responder ao Delegado que o interrogou, sobre os objetos retirados do Palácio, quando deixou a presidência, ter sido responsabilidade de D. Marisa, a ex- primeira dama do país, o destino dado as “tralhas” conduzidas em onze caminhões, transportadas e acomodadas num deposito em São Bernardo, serviço pago pela empreiteira OAS.
Além destes “trecos”, autoridades encontraram custodiadas num cofre do Banco do Brasil, sob a guarda da mulher de Lula e filho, 23 caixas contendo objetos diversos, classificados como joias e obras de
arte. Medalhas, moedas, comendas, espadas, adagas, e até uma escultura de Cristo Crucificado retirada da sala onde despacharam Presidentes anteriores.
Não se pode ainda condenar o cidadão Luís Inácio, pelos delitos que motivam investigações correntes contra ele, mesmo especialista em investigação, me obrigo a dizer, apesar das numerosas evidencias apontadas pelo MP Federal em seu desfavor, apenas e tão somente a Justiça poderá determinar sua culpabilidade.
Creio até, por seus méritos e como resultado do fruto de seu trabalho, sobretudo à frente da nação oito anos seguidos, onde, por direito, qualquer mandatário tem acesso a benesses sem custo algum, na
cama, mesa, banho, segurança, saúde e outras poderia ter em seu nome, apartamento, sitio, mas mora, veraneia, viaja, desde longa data, de favor.
Intriga-me, entretanto, que destino pretendia dar ao tesouro guardado. Não poderia usá-los, do contrário, valiosas peças decorativas, obras de arte embaladas há anos estariam adornando seus abrigos, mesmo emprestados e não poderia vendê-los, objetos deste jaez carecem de declaração da origem.
Na era dos faraós seria crível acreditar que as posses terrenas deveriam ser usadas no plano seguinte, a cultura da época justificava ditos procedimentos, mas, um plebeu contemporâneo, a quem o cosmos
deu direito e oportunidade de progredir praticando o bem, a quem fez rei de um povo que acreditou nas promessas de posturas éticas, morais e legais, me parece imponderável agir com tamanha falta de lucidez.
Permito-me encontrar explicação para tudo isto e crente na reencarnação, imagino a única saída plausível. Milhares de anos depois, o espírito de um faraó se apossou do corpo daquele que, por tal motivo
poderíamos chamar Lulancâmon. Periga, chegada a hora que um dia virá a todos nós, haver deixado ordem de levar também à sua catacumba, todo o séquito que insiste em acompanhá-lo. Deus me perdoe, mas, confesso, esta não seria má ideia.