Eduardo Balduino
01/12/2015 às 21:32
Eu estava aqui tranqüilo, ouvindo, lendo e vendo as notícias sobre o nosso tranqüilo cotidiano – tranqüilo porque a crise econômica e a crise política já estão tão incorporadas ao nosso cotidiano, não oferecem, por limite alcançado, nenhuma maior surpresa -, então, estava aqui pensando até nas minhas férias, em janeiro, quando veio a bomba!
Olhem, para a gente que mora em Brasília, se surpreender por algum ato político, é porque foi um ato de enorme grandeza.
Pois, foi o que aconteceu. Fiquei, como a presidente, perplexo, muito perplexo, quando tomei conhecimento de que o prefeito de Salvador quer mudar, por decreto, a receita de nada mais, nada menos, do que o acarajé.
Mais: no mesmo portentoso decreto, esse mesmo prefeito quer as baianas vestidas de enfermeira, para vender seus quitudes no seus tabuleiros, nas históricas – como o acarajé – ruas da nossa Bahia.
Nem dei tempo para o Rasta me ligar, com certeza também perplexo. Com certeza ele iria me perguntar se no STF tem algum ministro que goste de acarajé e que possa nos salvar.
Antecipei à consulta do meu agora angustiado e desnorteado Rasta, o mais famoso dos barraqueiros – em todos os sentidos – do Terreiro de Jesus.
De acordo com minhas fontes, a ministra Carmem Lúcia já está escrevendo outra poesia para se manifestar a respeito. De imediato, ela já decretou: “Se em receita de vó não se mexe, quem é o tresloucado que quer mexer em receita de Santo”?
Cheia de datas vênias – Rasta, o Tasso lhe explica o que é isso, ele tem especialista no BahiaJá para isso -, a ministra ainda alertou, frisando ser ainda um parecer preliminar, quanto ao mexer nos vestidos das mães e filhas de Santo: “pode-se induzir ato de intolerância religiosa, ou ainda assédio de moda sobre o gênero feminino”. Pelo visto, o parecer dela deve vir bem quente – como bem deve ser o acarajé.
Realmente, não posso sequer imaginar uma Mãe de Santo vestida de bata, vendendo acarajé sem vinagrete! Mas, posso imaginar o que meu pai Exu já está preparando em reação a isso.
A gente, por ação humanitária, até permite que turistas comam acarajé frio; sem vinagrete, jamais! Vendido por baianas de bata, inimaginável! Nunca!
A maior qualidade de um avô é transmitir sabedoria aos netos. A qualidade do neto deve ser sorver e incorporar essa sabedoria – os chineses são iguais aos baianos nisso.
Parece que, aqui, essa receita milenar não está sendo seguida.
Assim, antes que uma nova revolta abolicionista surja na Bahia, vai meu conselho:
Neto, se espelhe na sabedoria de seu avô e acabe com essa bobagem. Você, nobre alcaide, com certeza tem coisas mais prementes e que podem trazer benefícios para todos os soteropolitanos para fazer, do que abrir uma guerra com a cozinha dos santos – que você deve saber, uma guerra perdida.
Rasta, surgiu o momento. A história está chamando você! Lidere a Revolta do Acarajé. A ministra Carmem Lúcia vai defendê-lo, quando você for apontado culpado numa possível CPI do Acarajé. Mas, o mais provável é que o réu dessa CPI seja mesmo o neto que não é o avô.
SOMOS TODOS ACARAJÉ COMPLETO!