Roberta Barbosa
02/11/2015 às 18:45
Existem diversas formas de vivenciar o difícil sentimento de perda, por exemplo: perder o emprego, um animal de estimação, a forma ”perfeita” do corpo - marca da juventude -, o término de relacionamento, enfim, desapegar de momentos que não voltarão, pode desencadear muito sofrimento e extrema angustia, dependendo, porém, da maneira que cada um encara a experiência.
Apesar da natureza inexorável, a morte, este mistério que todos terão que enfrentar um dia, razão de grande consternação, mesmo quando esperada, como no quadro das enfermidades graves capazes de fazê-la anunciada, tem sido por isto mesmo, foco das diversas religiões valendo frisar, entretanto, que o luto não é necessariamente causado pela morte.
As fases clássicas do luto (Negação, Raiva, Barganha, Depressão e Aceitação) retratadas por muitos autores, são capazes de mensurar de modo geral as reações naturalmente previstas no processo, não o nível e intensidade do sentimento de angustia e a forma como a pessoa busca isolamento do mundo exterior, se fechando, muitas vezes, numa ilha de intensa tristeza, ao assumir a incapacidade de amar.
A experiência do setting terapêutico indica, cada paciente vive a situação de uma maneira muito singular , onde os sintomas se manifestam de acordo com o tipo de enfrentamento que o paciente estabelece, diante do sentimento de perda do ”bem” amado, pela sua própria história ou contexto atual de vida sendo, justamente neste ponto, que a psicanálise inquire: que associações são essas?
O acompanhamento psicológico é uma alternativa para atravessar a perda de forma plausível, vez que tornar a questão velada, fazer dela um tabu, algo que não deve ser dito, que precisa ficar trancado a sete chaves pode gerar ainda mais sofrimento. Ao contrário do que muitos pensam, o diálogo conduzido na terapia traz naturalidade ao assunto criando em cada um, a possibilidade de resignificar o ocorrido e reelaborar o conflito.
A história de vida, ou contexto atual podem tornar o processo muito difícil, fazendo com que o indivíduo vivencie o luto de forma patológica, muitas vezes, por precisar lidar com diversas questões estranhas a própria dor pela perda. O luto patológico pode ser decorrente dos recalques, como também, da dificuldade em organizar os sentimentos e os recursos disponíveis em si, levando àquela sensação desesperadora de caos interno.
Tanto no luto normal, quanto no patológico, a psicoterapia tem o condão de ajudar, se constituindo num espaço para a resignificação dos conflitos, muitos deles não relacionados ao luto, mas, possíveis de agravá-lo. Falar sobre a perda torna factível rever diversos questionamentos que a acompanham e dar sentido às suas respostas, tornando assim as palavras e consequentemente a expressão dos sentimentos, menos carregadas de dor.