POLÍCIA não é de Marte nem de morte

Waldir Brbosa
18/08/2015 às 11:23
A questão da Segurança Pública é, nos dias atuais, uma das maiores preocupações dos brasileiros, não sendo privilégio - melhor seria dizer desdita - o aumento desenfreado da violência na Bahia. Ocorrências de crimes diversos, muitos praticados com requintes de crueldade, em metrópoles e urbes de pequeno porte, agora prosperam.

Notícias da pratica de delitos pontuam na mídia sendo também, comentário corrente, nos mais diferentes cantos por onde andam os moradores daqui. Comungam seu medo, com visitantes que buscam, por razões das mais diversas, as praias deste imenso litoral, o magnetismo da Chapada, o encanto dos nossos planaltos e serras.

Na capital e interior, assaltos com troca de tiros, em plena luz do dia; homicídios vitimam jovens arrastados para um caminho sem volta, na onda avassaladora do trafico de drogas dizimando a esperança de famílias inteiras; adolescentes estimulados a perpetrar crimes que corrompem a base da sociedade, não somente nos prejuízos causados, mas, especialmente, no exemplo de que é melhor ganhar sem esforço; enfim, núcleos familiares desfeitos, instituições desgastadas.

Aqui, não a crítica, mas, um grito de alerta, no sentido de que cada qual possa assumir compromissos de consciência, frente às questões responsáveis pelo flagelo dos desmandos que aterrorizam. A atribuição da Segurança Pública não se sustenta sozinha e requer ações paralelas que perpassem pela educação, atenção à cidadania, visão de progresso, sustentabilidade e outras demandas sociais.

De nada adianta o olhar atento da Polícia, se a sociedade não guardar preocupações voltadas ao desenvolvimento geral dos munícipes, fundadas na responsabilidade social. O crescer coletivo, nasce na formação das crianças e adolescentes que, a par da instrução básica carecem de condições dignas, nos núcleos onde se gera a célula mater da cidadania: FAMÍLIA e ESCOLA.

Povo educado é povo ordeiro, no sentido daquele que sabe o que quer, como quer e quando quer, sobretudo, consciente do que pode querer.

Municípios, mormente interioranos devem programar medidas que possam colaborar com o Estado, responsável pela segurança social, objetivando sejam minimizados os efeitos da violência. Quem sabe criando Secretarias Municipais para Políticas de Segurança Pública; nelas a Guarda Municipal, o Órgão de Transito suportados em monitoramentos de ultima geração, como vetores de auxílio na prevenção e repressão.

No social, programas de inclusão; atendimento psicológico de qualidade para famílias carentes; medidas de incentivo à frequência escolar, esporte e lazer; olhar o dependente, não como criminoso, mas como individuo que deve ser tratado, dentre outras medidas pertinentes, para as quais é preciso estar aberto às sugestões da coletividade organizada.

Por fim, lembrar que o homem de polícia não veio de outro planeta. Ele é oriundo, muitas vezes, das camadas mais humildes do povo, merecedoras da atenção e cuidado necessários, para que progrida e eleve, em cada um dos seus integrantes, a dignidade e a autoestima. Mesmo que muitos tenham origem em ambientes privilegiados, são filhos, irmãos, pais e amigos que provam das mesmas vicissitudes de qualquer ser humano, muito embora, a função que lhes recai aos ombros tenha peculiaridades especialíssimas.
 
Repito, sempre: “Polícia é o mar para onde deságuam todos os rios da miséria humana”. Assim, vejo também imperioso um feixe de ações municipais que incentivem o profissional do combate ao crime tornando sua vida plena de decoro, posto, na dignidade, o campo fértil de exercitar primados da consciência. O crime não se extinguirá, errar faz parte da verve humana, porem, uma sociedade mais justa, uma instituição policial com integrantes mais preparados e estimulados têm o condão de disseminar a paz social. Afinal, o homem de policia não é de Marte e nem de morte.

Valdir Barbosa (Delegado da Polícia Civil do Estado da Bahia, Ex-Delegado Geral)