Viva João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro Brasileiro

Otto Freitas
19/07/2014 às 11:18
- Amigo velho, muita saudade! 
Faz tempo que a gente não se fala. Mande notícias, quando puder. 
Esta semana lí "Vênia insto para discordar". Quanto mais velho você fica melhor! Equilíbrio, sabedoria, clarividência - e esse texto de palavras precisas, mais do que perfeito. Lindo! Emocionante! Fico todo orgulhoso de ser seu amigo. 
Um abração bem apertado. 
Otto
    
- Sim, saudades muitas. Não há muitas novidades por aqui, graças a Deus. Continuo cada vez mais velho e outro dia tive um treco repentino e fui internado de urgência. Suspeitaram que era infarto, mas fizeram cintilografia e minhas coronárias estão com zero entupimento, fodi com eles, que já estavam prontos para me encher de stents. Foi um negócio cardiorrespiratório complicado, mas, segundo eles, me recuperei extraordinariamente. 
Estou tentando escrever um livro... Quero fazer umas histórias, mas, passados meses, ainda não acabei a primeira. 
Quanto a minha crônica (não é “discordar”, é “discrepar”), são seus olhos de amigo, muito obrigado. E mande também notícias, de vez em quando. Abraços e mais abraços, do velho
ju

- Esse coração amoroso é forte, rapaz! Ele que se segure, porque você ainda vai ficar muito, mas muito mais velho, com fé em Deus!  Voce tem muito o que fazer por aqui. 
Beijão, 
Otto
- Tomara, rapaz. Eu me sinto muito bem, com exceção de uns probleminhas com fôlego curto, por causa do cigarro, que ainda não abandonei, nem sei se vou abandonar. Coronária entupida eu não tenho, o exame mais recente foi retumbante. E não adianta especular, eu vou quando Deus quiser, espero que numa boa morte. 
Vou ver se acabo esse livro... Acho que preciso acabar, acho que o livro tem que ser feito... 
Não adianta planejar a vida, fazer previsões e coisas assim, a vida segue a vontade dela. Como dizia meu saudoso amigo Benebê, o mundo é perfeito. 
Abração do velho, de sempre, 
ju

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Os textos acima são parte dos últimos e-mails que trocamos, no final de maio último. Apesar do susto que havia passado, Ubaldo estava otimista; falou do novo livro e da família, lembrando que acabara de ganhar um neto. 

O velho, como assinava os e-mails, falou de vida e de morte. “Não adianta especular, eu vou quando Deus quiser, espero que numa boa morte”. 

Para mim, ele era João, às vezes Ubaldo, em outras Dr. João, porque o cara sabia tudo, tinha enorme conhecimento; ultimamente, era o meu amigo velho. Nos anos 1970 ele foi meu redator-chefe na Tribuna da Bahia, onde o conheci e ganhei um irmão mais velho, um conselheiro, um amigo nessa vida.
Aprendi e ri muito com o Dr. João, principalmente no tempo em que ele morou em Itaparica e escreveu o Viva o Povo... De vez em quando o encontrava no largo da Quitanda, para buscar a sabedoria dos seus conselhos, a alegria das suas gargalhadas e várias doses de Old Eight. 

Desde que se mudou para o Rio de Janeiro, todo verão ele vinha para Itaparica, passar férias e o seu aniversário. Foi lá, no largo da Quitanda, que o vi, pela última vez, ano passado. Almoçamos juntos, eu, ele e Berenice, no bar do Negão. Tomamos guaraná light. Ele autografou para mim seus livros mais recentes.

É uma tristeza danada ficar sem o amigo velho. O jeito é guardar as lembranças, curtir a saudade, reler seus livros e rezar para que seu espírito siga em paz, na calma brisa que sopra do mar de Itaparica. 

E como disse um seu colega acadêmico, Viva Ubaldo Brasileiro!