Valdir Barbosa
10/07/2014 às 16:30
O futebol é um esporte coletivo, contudo, dentre outros de idêntica característica, talvez seja aquele que mais depende de um único craque, para desequilibrar qualquer partida, mudar em segundos o resultado de um jogo, carregar consigo a responsabilidade capaz de fazer seu time vitorioso.
Perdemos, na agressão a Neymar promovida por defensor colombiano, o nosso maior atleta futebolístico destes tempos do agora, quase ao apagar das luzes do embate que fez o Brasil avançar nas quartas de final. Na mesma peleja, outra expressão do elenco, justo o capitão da equipe foi alijado da disputa por uma vaga na semifinal, após haver recebido o segundo cartão amarelo.
Discursos inflamados foram ouvidos desde então, proferidos por membros da comissão técnica, jogadores e repórteres alardeando uma maior união dos atletas. Segundo as falas estariam mais coesos, face às perdas, o que deveria propiciar atuação emblemática do time que pretendia dedicar aos afastados, a vitória ansiada por todos os brasileiros.
Sepultou-se, entretanto, a expectativa de ascender ao topo, depois da acachapante derrota imposta pela Alemanha, na tarde noite desta ultima terça, fatídica ao futebol brasileiro. Para tristeza geral, o que se viu foi um time apático, subjugado desde o começo, sem inspiração, perdido e deslocado no gramado. A partir dos dez, em oito minutos do primeiro tempo tomava quatro gols e ao final desta etapa perdia de cinco a zero.
Apesar das mudanças promovidas por “Filipão”, a segunda fase não foi diferente. Os mesmos erros, a mesma incompetência, restando claro que os adversários faziam seus gols quando e como queriam, chegando facilmente aos sete a zero, que não fechou nos oito por um detalhe. Apenas no fim, Oscar conseguiu concluir com acerto e fazer o chamado gol de honra.
Restou aos expectadores nacionais, que assistiram no estádio e nos quatro cantos do país e do mundo, pela TV, a pior exibição de uma seleção brasileira em todos os mundiais, ver um Brasil campeão de lágrimas e desculpas. Testemunharam os assistentes um festival de lamurias, nas palavras dos mais jovens, aos calejados.
Foi possível notar terem esquecido todos, ao proferir seus discursos emocionados, que ainda há um compromisso pela frente, onde ser o terceiro, numa disputa entre tantos competidores de peso poderia ser a forma de resgatar parte da altivez destroçada, não só pela derrota de ontem, mas pelo fraco desempenho da seleção em todos os jogos.
Por este motivo arrisco dizer, mesmo sem ser especialista que não creio, por mais que sejam brilhantes estrelas, nosso capitão Tiago e o fora de série Neymar, fossem eles capazes de mudar diametralmente o rumo da partida que pôs o Brasil fora da final, muito menos pela qualidade do elenco alemão, indiscutivelmente capaz, mas, em verdade, pelo histórico de nosso time nos derradeiros jogos.
Acordo, ainda madrugada e caminho de novo no entorno de minha morada, desta feita chorando no pé do caboclo, ainda perplexo e triste pelo desastre. Pergunto-me se vale a pena chorar esta perda, posto remeto meu pensar a tantas carências de um povo ávido por saúde, educação, serviços públicos, segurança de qualidade e me lembro de tantas promessas, não cumpridas pelos governantes atuais, até mesmo de obras que serviriam aos interesses do certame.
Sei que findo este período que se extinguirá no próximo domingo, quando ocorrerá a partida final, onde não seremos protagonistas, a ser jogada no novo Maracanã, sobre cujas obras, assim como as de todas as doze Arenas país afora, se infere suspeitas de superfaturamento, explodirão as campanhas voltadas
Há que estar atentos e desconfiar de tantas promessas vãs, pois o embalo da copa que funcionou como um ópio, inebriando a sociedade, supervalorizando a competição, em detrimento de tantos fatos importantes, como os benefícios aos mensaleiros e conchavos feitos, até com condenado, para favorecer partidos e candidatos enquanto a bola rolava, devem ser fonte de reflexão para os que irão escolher em breve os novos governantes.
Perder a copa do mundo entristece toda a nação, ainda mais no país do futebol, na terra da seleção penta campeã do mundo. Todavia, daqui há quatro anos temos condições de reencontrar nosso jogo e recuperar a hegemonia que predominou durante muito tempo para nós, neste esporte fascinante.
Porém, votar errado, escolher sem critério, seguir a onda na esteira de promessas enganosas e ações paliativas que não extinguem a miséria, nem combatem a pobreza facultará estarmos mais quatro anos num lodaçal, como crustáceos a andar de costas. E quem anda de costa, não progride.
Encontrei, de novo, enquanto conjecturava na minha caminhada, o ambulante que inspirou meus anteriores escritos. Vinha cantarolando e me parou num cumprimento, se adiantando, antes que o interpelasse como costumeiramente faço.
-E aí Dr., o que achou de ontem?
Respondi com um gesto de reprovação e devolvi a pergunta.
-E você, o que acha vai dar na final?
Não sei Dr., só sei que não vão mais xingar a presidente. Não vai ter brasileiro no estádio. E saiu cantando.
Só então ouvi o solfejo. Era a musica de Roberto Carlos: O show já terminou, vamos voltar a realidade... .