Tasso Franco
09/06/2014 às 09:09
As pirâmides são uma das expressões culturais mais impressionantes do México, presente em quase todos os sitios arqueológicos da cultura pré-hispânica deste país, que data de 3.114 a.C a 5.000aC, quase sempre erguidas em exaltação ao Deus do Sol e como altares de sacrifícios humanos.
Algumas são tão majestosas como as existentes em Teotihuacán, localidade que chegou a ter 200.000 habitantes, que possui 65 metros de altura e sua estrutura foi erguida sobre uma caverna artificial. Nesse sitio arqueológico com praça original com capacidade para abrigar 30.000 pessoas onde se ergue, ao fundo, o Templo de Quetzalcótil, uma notável pirâmide decorada em seus 4 lados, com 365 esculturas de cabeças de serpentes emplumadas, sagradissimas, tudo é monumental.
Suspeita-se na ficção: Eram os Deuses Astronautas? (Erinnerungen an die Zukunft, no original alemão) livro escrito em 1968 pelo suiço Erich von Däniken, em que o autor teoriza a possibilidade das antigas civilizações terrestres serem resultados de alienígenas (ou astronautas). Däniken apresentou supostas provas (ou coincidências) entre as colossasis pirâmides egípcias e incas e maias.
Mas essa teoria é improvável porque, só um exemplo, quando os espanhóis chegaram ao México, estima-se que havia uma população indígena em torno de 20 milhões de pessoas, de diferentes etnias e que se degladiavam, lutavam entre sí. A conquista espanhola só se deu com tanta facilidade porque Hernan Cortés e outros generais do Reino de Felipe II se valeram da briga entre os nativos, e fizeram alianças com grupos dissidentes para chegar até o centro do vale México Tenochtitlán território da atual cidade do México.
No Brasl, isso aconteceu de forma diferenciada. Os portugueses se valeram das guerras entre tribos africanas e compravam na mão de reis vencedoras de lutas tribais prisioneiros de guerra. Os negros vencedorss vendiam os negros perdedores e estes eram enviados ao Brasil e outros países como escravos e mão de obra barata para o cultivo da cana-de-açucar e para atuarem, também, no ciclo de Entradas e Bandeiras.
O que diz Octávio Paz sobre as pirâmides mexicanas: "Cada terra tem sua visão da sociedade do mundo e do transmundo. A China é um imenso disco, o umbigo e o sexo do cosmo; a Índia é um cone invertido, uma árvore cujas raizes se fundem com o ceu. O México se levanta entre dois mares como uma enorme pirâmide trunca. Seus 4 costados são os 4 pontos cardeais, suas escadas os climas de todas as zonas, sua alta meseta a casa do sol e das constelações".
Entre os povos mais antigos do mundo, a representação mais significativa era a montanha e a pirâmide foi a montanha cósmica. Na mesoamércia (México, Colômbia, Perú, etc) a pirâmide culmina com o espaço magnético, a plataforma santuário. As pirâmides são templos petrificados. Os quatro lados das pirâmides representam os quatro sóis ou idade do mundo e as escadas dias, meses, anos, séculos. Acima, na plataforma, o nascimento do quinto sol, a era nahua e asteca".
Na visão do prêmio Nobel da Literatura, uma pirâmide representa "o tempo que foi, o que será e o que está sendo. Um ponto de convergência entre o mundo humano e o divino. A pirâmide é a imagem do mundo, a projeção da sociedade humana".
Ví isso com meus próprios olhos em tour pelo Sul do México e fiquei impressionado com essa dimensão, essa admiração que o povo mexicano tem até hoje por seus sitios arqueológicos.
Diferente do Perú, em Machu Pichhu, onde praticamente só se vê turistas nesse monumental sitio arqueológico pré-hispânico, em diversos sitios do México - Uxmál, Palenque, Quiahuiztlán, Teotihuacán, Chichen Itzá - vê-se uma quantidade enorme de mexicanos com suas familias visitando e adorando esses sitios numa reverência aos seus antepassados. Há muitos turistas, mas, os nativos estão por toda parte, como se dissessem "isso aqui é meu, minha cultura".
É quase um ato religioso. Contemplam-se os monumentos, estuda-se, analisa-se, ora-se, uma veneração. E nós, os turistas, ficamos ainda mais admirados com tanta beleza e grandeza, paira-se dúvidas se de fato não eram os deuses astronautas diante de obras tão grandiosas, algumas erguidas a.C, outras d.C e muitas delas com apogeu por volta dos anos 599/909 dC., o período clássico tardio, e depois 1.200 a 1697, o Pósclássico.
Paz descreve a plataforma quadrada das pirâmides como o mundo, o "teatro dos deuses e seu campo de jogo, que culminaram com sacfificios humanos e criação do mundo". Para o grande pensador mexicano "é também a imagem do estado e sua missão, assegurar a continuidade do ciclo solar e da vida universal".
É impossível conceber o México sem essa visão cósmica. Em nenhum lugar do mundo, salvo provavelmente em alguns sitios da Ásia e do Egito, se sente essa relação do homem com os deuses natureza.
Depois vieram os espanhóis (cultura européia) com o apoio da Igreja Católica (nova ordem religiosa cristã), e difundiu uma outra imagem e semelhança de Deus com seus santos e dogmas, o que foi fatal para a predominância (resistência) da cultura pré-hispânica ainda que a santa mais adorada do México, a Virgem de Guadalupe, seja uma representação de Tonantzin, a deusa da fertilidade dos astecas.
Há um interrelacionamento, como no candomblé da Bahia e o sincretismo entre os santos católicos e os orixá africanos, respeitando-se cada espaço, ainda que, com predominância européia espanhola. No Brasil, se reverenciamos mais os santos portugueses, Santo Antonio de Pádua à frente, no México, os domincanos e franciscanos são predominantes.
Também ao contrário do Brasil onde não preservamos nem cultuamos as culturas pré-portuguesas (tupinambás, tupiniquins, guaranys, tamois, etc) os mexicanos o fazem com suas culturas pré-hispânicas, adorando-as, estudando-as e vendodoas- aos turistas.
Em síntese, o mexicano, numa acepção mis singular da palavra é uma pirâmide.