Fernando Conceição
14/05/2014 às 10:40
O SEQUESTRO DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS, por parte de sádicos acadêmicos de má-fé, deve pagar tributo ao ato inominável que o mundo assiste no momento: a abdução de quase 300 meninas nigerianas por covardes fanáticos que têm a sua própria e particular interpretação do islamismo.
A ditadura do relativismo cultural, resultante daquele sequestro primevo, tentará nos convencer que monstros como Abubakar Shekau, agem em resposta à “opressão” do Ocidente. É a mesma cantilena utilizada, de forma capciosa, em justificativa a outros atos covardes como os ataques de 11 de setembro de 2001. Não é o que pensam meus botões, tampouco o prêmio Nobel de literatura Wole Soyinka.
É esse tipo de cálculo oportunista que faz com que, no Brasil, setores dos movimentos sociais, estudantis, negros, e lideranças populistas, façam negócios e sejam complacentes com determinadas elites. Da África e da Casa Grande, do Palácio do Planalto ao de Ondina.
Não esqueçamos, para nossa vergonha, que em 2013 o chamado “mais belo dos belos”, a ONG Ilê Aiyê, rendeu louros a um dos mais aterrorizantes regimes ditatoriais africanos, o da Guiné Equatorial. Inclusive em atividades nababescas patrocinadas por Teodoro Nguema Obiang Mangue. Que pousou ao lado de autoridades do governador Jaques Wagner e a entourage montada pela diretoria do bloco “afro” do bairro da Liberdade.
Acusados de crimes contra a humanidade e lavagem de dinheiro, filho e pai do país africano, para o qual negros brasileiros fazem festa, são caçados pela polícia internacional. Dirigem autocraticamente um regime sanguinário, cujo presidente Obiang, oriundo da etnia fang, impõe seus crimes de forma cínica. Acusam-no, inclusive, de uso do canibalismo como arma de terror contra os adversários. Como fizeram vários outros ditadores africanos – a exemplo de Idi Amin Dada, a quem Abdias do Nascimento, tido como ícone do movimento negro brasileiro, uma vez se curvou.
Sem críticas, os governos brasileiros do último decênio – por interesses privados de empreiteiros poderosos aqui sediados – têm estendido o tapete para esses títeres. E no seio da Academia transformada em palanque para um suposto pensamento “progressista” que se autodenomina “de esquerda”, se corrompe um séquito de bem-intencionados aspirantes à carreira ou política ou universitária.
O silêncio aos crimes de Estado, tanto os de lá como os de aqui: esta é a contrapartida que a sociedade brasileira paga à demagogia dos letrados – já que não há intelectuais por essas paragens. Se o padrão da polícia de Jacques Wagner é matar, temos as nossas fontes inspiradoras.
E ainda há os místicos e aproveitadores de uma religiosidade encantadora de serpentes. Que pregam uma suposta “reafricanização” da Bahia ou do Brasil. “Boasorte” Jonathan, o presidente também étnico da endemicamente corrupta Nigéria, deve rir quando escuta algo assim.
TENHO UM AMIGO DA BAHIA, branco, que há dois anos assumiu cátedra numa faculdade privada na Nigéria. Quando à época me deu a notícia, temi pela vida dele. Ocorre que as vantagens materiais que lhe ofereceram são sedutoras e incomparáveis com o que poderia estar ganhando no Brasil.
Nigéria, esta invenção do império colonial britânico, não o seu povo mas suas elites e beneficiários, não é para iniciantes em relações de respeito aos direitos humanos. Foi o que me segredou um professor tanzaniano da Universidade de Dar-es-Salaam. Falava por ciência, já que colaborador do país da costa ocidental africana, de onde veio à força para o Brasil grande parte dos povos escravizados nas guerras dos impérios iorubanos por séculos.