Bluma Santana
03/11/2013 às 10:44
Quanto à polêmica das biografias, percebo o seguinte: É difícil definir se o que existe hoje na sociedade, é um equívoco no que toca ao conceito de privacidade ou liberdade de expressão. O fato é que tanto um quanto o outro são direitos constitucionais e, se forem respeitados, não vejo razão para ambos entrarem em conflito.
Confesso ainda, não conseguir entender o motivo de tantos dedos inquisidores apontados para artistas que lutam pela preservação - não diria nem de sua total privacidade, já que são pessoas públicas - mas do que restou dela. Prerrogativa essa, aliás, comum a todos. Caso contrário - e com o perdão por fazer uma comparação tão literal -, porque haveria tanto incômodo com o fato de os EUA bisbilhotarem telefonemas, mensagens e demais particularidades da Presidente Dilma?
Ora! Vai ver aquele "simpático pessoal" só estava pescando alguns dados para uma biografia não autorizada. Já imaginaram se livros virassem pretexto para todo tipo de invasão? Pois é.
A impressão que tenho é a de que falta pouco para entrarmos numa espécie de absolutismo da liberdade: quem não estiver deliberadamente exposto e disposto a encarar toda qualidade de assédio moral, estará correndo o sério risco de engolir o rótulo de "censor".
Não sei se acho isso preocupante ou uma grande besteira, mas o fato é que todo esse assombro causado pelo fantasma da ditadura é, neste caso, algo completamente sem propósito. Em princípio, porque o que estão buscando os artistas do grupo Procure Saber é apenas um consenso. E depois, o que se quer garantir é somente que um direito básico e muito natural não seja ferido.
Vejamos que uma coisa é a liberdade de informação pautada no interesse público, seja para fins do cotidiano, seja para a construção histórica. Já outra, é a curiosidade mórbida pela vida alheia mascarada de interesse "puramente intelectual" pela cor das cuecas-da-sorte de Fulano (mas isso, obviamente, é uma ironia).
O que estou querendo dizer, de fato, é que por conta da ânsia típica das pessoas em esmiuçar a existência do outro, mercenários e oportunistas acham brechas para jogarem nas livrarias os seus tablóides disfarçados de biografia. Não me refiro a todos, é claro, mas esses pseudo-historiadores existem, sim.
E de repente, muito acima de uma obra que exponha a construção literária, musical ou artística de um Ícone, podem estar as angústias, tragédias, erros e deslizes de um ser humano - que, muito naturalmente, pode não querer as suas vísceras jogadas aos sete ventos. Estar sob a luz dos holofotes ou da imprensa não é regra imediata para se estar nu. E, francamente, deixem a perna de Roberto Carlos com ele e as baleias!